Regreção

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Estava saindo da minha varanda quando fui surpreendido, abafado e cego tateei tudo ao meu redor mas retornei de mãos vazias. Fui arremessado à um local macio e só quando deu a partida eu percebi que estava em um carro. Tentei alcançar a porta para me arremessar e novamente fui surpreendido com um solavanco em minha cabeça, agora meio tonto não podia fazer nada a não ser esperar.

Acordei me sentindo um saco de lixo lançado ao chão, enxergando mais nada que não estivesse à um palmo de meus olhos, tentei me levantar e fui surpreendido com uma força descomunal me puxando novamente ao chão. Passados 10 minutos sentado no meio da grama, vi ao longe algo que parecia ser uma árvore, corri o mais rápido que pude até que algo embaixo da minha pele no meu pulso esquerdo começou a vibrar e piscar uma lenta luz vermelha. O que seria aquele chip no seu pulso e qual seria sua finalidade?

Chegando na árvore, me acomodei encostado no tronco observando a protuberância na pele o micro-chip parou de vibrar, porém a luz continuava lá. Comecei a sentir um incômodo na barriga e sabia o que significava, hoje antes de sair para trabalhar, antes de ser sequestrado eu não tinha comido, e creio que na noite anterior eu também não tinha comido nada. E só agora percebi que sai de casa as 7 da manha e já esta ficando de noite, por quanto tempo eu fiquei desmaiado? O que mais eles fizeram a mim? Como se aquele maldito chip não já fosse demais. Isso sem pensar no local que eu estava pois não tinha nada a se ver ali, nenhuma pista, nenhuma vegetação a não ser essa maldita árvore. Pensando bem... o que seria aquele borrão na paisagem ? Não pensei duas vezes antes de me levantar e sair correndo de encontro com o tal ponto preto no horizonte, até que tropecei em algo duro que não parecia ser uma pedra, voltei alguns passos até poder ver de perto aquele objeto causador de mais dor na minha vida, UMA CAIXA!!, seria sorte, acaso, ou aquilo tinha sido colocado ali propositalmente? Minha mente foi a mil, pensei em várias coisas ao mesmo tempo mas nenhuma me ajudou a decifrar aquilo, o feche estava quase rompido então não precisei fazer força para saber o que continha ali.

Eu não soube como reagir, certamente aquela caixa foi colocada ali de propósito, não pelo pacote de comida que ali tinha, mas pelo bilhete que o acompanhava:

"Parabéns Gail, conseguiu chegar na metade do seu caminho ainda lhe resta muitas surpresas por aqui, mas vamos ver se você conseguirá sobreviver até lá."

What a F..., mas o que aquilo queria dizer ? E um pensamento retorna à minha cabeça: O que eles tinham feito comigo, mas, quem sou eu ? Até agora eu só consegui identificar meu nome só por causa dessa maldita carta, alguns pensamentos como, eu tomei banho antes de sair, eu lembro da minha casa, porém eu não lembro de mais nada anterior aquilo. Resolvi carregar aquela caixa comigo e seguir em frente em rumo ao tal borrão preto.

Já estava quase desistindo da caminhada, a noite tinha tomado conta da paisagem e tudo a ser visto eram as estrelas feito diamantes no céu, mas entre as estrelas, agora eu via uma luz intensamente amarelada onde estava a casa, sim, eu tinha certeza que era uma casa, uma bela cabana com um teto escuro, paredes de tijolos e uma linda chaminé ao seu lado esquerdo. Com a noite veio o frio, e foi isso que mais me motivou pensar que lá eu teria o conforto que não encontrava na estrada. Chegando à porta da cabana um bom pressentimento invadiu meu corpo, eu sabia que agora eu teria o tão sonhado descanso, abri a porta com mais facilidade do que eu pensava, consegui adentrar e a visão era simplesmente perfeita. Um belo sofá estava à minha espera, não pensei duas vezes antes de me lançar nele, belos quadros compunham a parede e alguns vasos construíam a decoração. Não me contentei com o pacote de comida que tinha recebido e resolvi averiguar a geladeira, a cena era melhor do que a minha primeira visão sobre aquela cabana.

Semanas se passaram, a minha vida já estava se adaptando aquele lugar, como eu não lembrava de nada da minha vida antiga, eu não me importava em ficar ali pro resto da minha vida, mas minha comida estava esgotando só me restava alguns enlatados e mais alguns pacotes de outras coisas, e foi isso que me deu uma ideia, eu iria utilizar o que me restava para plantar e conseguir continuar vivendo, assim que eu acordasse eu iria fazer isso, esse era o plano. Dormi cedo naquela noite, mas algo me acordou, eu estava soado e sentia um enorme desconforto algo estava errado, levantei da cama e ao sair do quarto vi o que estava causando tanto desconforto e abafo, o fogo tinha tomado conta da cozinha e se alastrava pra sala todos os armários tinham pego fogo e não me sobrara nenhuma comida, corri para fora da casa disparado sem me preocupar com nada.

De longe só consegui ver as chamas tomando conta da cabana e me senti mais uma vez desamparado, mas aí vi novamente uma daquelas caixas, sem pestanejar à agarrei e logo abri. Dentro tinha uma faca e mais um bilhete, dessa vez o bilhete não tinha mais nada do que duas palavras:

"Prepare-se"

Meu coração disparou e o chip no meu braço começou a piscar freneticamente, acho que aquilo queria dizer quando meus batimentos cardíacos estavam acelerados pois da outra vez que isso aconteceu eu estava na mesma situação, não me restava mais nada minhas esperanças tinham ido do luxo ao lixo e eu não tinha ideia do que fazer a não ser continuar andando sem rumo naquela noite fria. Depois de uns 40 minutos eu avistei algo vindo em minha direção, não algo, e sim alguém. Eu não sabia se esperava ou se corria e optei pela segunda opção.

Alto, forte e moreno, uns 1.80, 80kg, corria em minha direção. Corri, corri e corri, mas parecia que eu não saia do lugar até eu sentir os braços dele me pegando pelo pescoço, cai direto no chão e bati a cabeça numa pedra, tentei lutar mas estava muito fraco, ele me levantou e me colocou sobre suas costas e quando ele começou a andar, senti a faca no meu bolso, a peguei e cravei-a bem no seu pescoço.
Não pude deixar ele ali sem pelo menos dar uma boa investigada em seus bolsos, e novamente encontrei um pedaço de papel maldito, mas dessa vez tinha mais coisas:

"Se queres continuar vivo voltará para o início"

Que inicio? A minha casa ? Como eu iria chegar até lá ? Mais uma vez me vi perdido naquele lugar, não que antes eu soubesse onde estava mas pelo menos estava começando a ficar feliz na cabana. Retornei a minha caminhada e o sol estava nascendo à minha frente e somente quando ele atingiu seu ápice eu percebi do que se tratava, A ÁRVORE, foi a primeira coisa que eu vi quando cheguei! Passei metade do dia andando na posição errada agora tenho que voltar tudo de novo, mas pelo menos disseram que eu iria continuar vivo.

Mas ao encerrar meu pensamento, ouvi barulhos atrás de mim, como vários animais correndo, o chip começou a incomodar no meu braço e não precisei ver o que eram as feras pra que eu tomasse impulso e voltasse a correr. Passei pela cabana e não parecia ter mais nada ali, apenas o chão preto e chamuscado, toda a bela estrutura se foi. Agora cansado diminui o ritmo e passei a andar mais lento o barulho dos animais tinha parado, não aguentava mais aquele calor, a sede estava me vencendo e eu estava rodeado de nada só grama e mais grama, até que eu a vi, estava ela lá a fonte da minha salvação a bela árvore a minha espera e parecia ter mais algo ali embaixo, certamente outra caixa que traria a minha libertação.

Ao chegar na caixa e poder saborear a Fresca que a sombra da árvore me proporcionava, sentei na grama e descansei antes de partir para a parte final daquela loucura. A caixa era diferente desta vez, parecia ser feita de aço reluzente ao abrir, tinha uma injeção com um líquido amarelo e mais uma daquelas cartas. Analisei o conteúdo e resolvi ler a carta:

"Agente Gail,

Você falhou na sua missão e demonstrou um emocional exacerbado, não é isso que procuramos no nosso grupo, o governo do Brasil reconhece seus esforços mas temos que perceber que há soldados melhores para o cargo oferecido, sobre seu teste, você se mostrou se ligar as coisas rápido demais, tendo passado poucos dias numa cabana já estava cogitando a possibilidade de morar lá, sem iniciativa nenhuma de procurar sua história totalmente conformado com a sua falta de memória e situação atual, não podemos deixar você solto na sociedade e teremos que terminar isso por aqui, a seringa contida nessa embalagem tem um veneno altamente letal que te matará calmamente em segundos sem sentir dor, mas caso você ache que merece continuar vivo, nós faremos isso por você, e garanto que não vai ser do jeito simples.

Att, Agência de espionagem do Brasil"

Então era isso, um teste, e eu não era bom para essa merda de governo? Eu não ligo, quero mais é que se exploda, bando de corruptos querendo dizer o que eu tenho ou não tenho que fazer... Pois se eles querem que eu faça algo que preste eu vou fazer. Peguei a minha faca e comecei a cortar a minha pele, resolvi os deixar uma mensagem :

"Superar é preciso.

Seguir em frente é essencial.

Olhar pra trás é perda de tempo.

Passado se fosse bom, era presente."

-Clarice Lispector

Me despi e tirei meu chip à força, fiquei embaixo da mesma árvore, sangrando lentamente, gota após gota, e então apliquei a injeção.

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