III

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3. Capítulo

Estava apoiada na bancada enquanto tomava um café quase frio e tentava regular a minha respiração. Meu peito subia e descia freneticamente. As batidas do meu coração faziam com que eu tivesse a péssima sensação de que a qualquer momento eu iria parar de respirar. Estava suando frio. Minhas mãos trêmulas mal conseguiam erguer a xícara até minha boca.

Mais uma vez.

Mais uma vez naquela semana eu estava tendo outra crise. E dessa vez, mais forte do que nunca.

Ao acordar, rapidamente fui para a sacada de meu quarto e tentei aspirar o ar fresco. Parecia que quanto mais eu tentava, mais difícil ficava. E quanto mais difícil ficava, mais eu me desesperava.

Crises de ansiedade realmente são as piores. Já tentei de tudo para acalmá-las, mas nada adianta.

É como se toda a vez eu me afogasse em meus próprios medos. Como se toda a vez eu fosse puxada por eles para um buraco mais fundo. E então tudo fica mais escuro, cada vez mais difícil.

São apenas quatro e quarenta da manhã.

Todos ainda estavam dormindo, e só eu de acordada. Ou não. Ouço passos pelo corredor e me viro para ver quem é. Minha mãe surge no meio do escuro e logo trato de limpar meu rosto para que a mesma não percebesse o meu estado. Ela dá um suspiro pesado e acende a luz.

- O que faz aqui? - pergunta.

- Nada. - respondo sem olhá-la. - E a senhora? Acordada?

- Está chorando? - dispara se aproximando.

Recuo e mais uma vez limpo meu rosto.

- Não. Eu só... só..

- Ah, Hazel, pelo amor... Você está acordada a essa hora da manhã para chorar pelos cantos? Não tem o que fazer não? - suas palavras saíram como facadas.

- Eu tive um ataque hoje. - digo sem encará-la nos olhos.

- Ataque de que? Doidice? Porque só pode ser, né?! - ela se vira e vai embora. - Volte para o quarto. Já falei que não quero você mais faltando aula.

Deixo a xícara na pia e sinto minha garganta arder.

- Eu não disse que iria faltar... - respondo num sussurro quase impossível de ouvir. - Só quero um pouco de paz. - digo e ela para no meio do caminho, virando seu rosto em minha direção. - Será que pode, por favor, parar de ser explosiva comigo o tempo todo?

- Como é?

- Poderia agir como minha mãe e me dar apoio uma vez na vida?

- Hazel, vá para para o seu quarto!

- Eu preciso de um pouco de paz! Será que é pedir muito? - continuo, a ignorando completamente.

- Hazel! - repreende.

- Eu trabalho cinco horas por dia! Tudo porque você pediu! Tudo por sua causa! Tudo porque eu pensava que finalmente eu iria agradá-la, mas não! Continua a mesma merda de sempre! O que quer mais de mim?! A minha vida toda eu sofri nas suas mãos e nas mãos daquele monstro! Ele me batia, batia, batia, batia muito! E você... você... você só dizia o quanto eu atrapalhava e não fazia nada certo. Vivia me controlando, me dizendo o que eu devia fazer para não envergonhá-la no meio da família. Acha que eu estava feliz? Não, eu não estava! Não sou feliz! E ainda vem aquele traste morar conosco na mesma casa! Eu ainda nem sei porque não fugi daqui.

- Hazel... - alguém a interrompe.

- Hazel, pare! - César desce as escadas e vem até nós. As marcas do travesseiro estavam por todo o seu rosto. Ele ainda estava meio sonolento. - O que está acontecendo aqui? Que gritaria é essa?

Depois da TempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora