4. Capítulo
— Você está bem? — indaga. Ele olha furioso para Zoe e levanta. — Vá embora antes que eu chame alguém!
— Quem você pensa que é para gritar comigo desse jeito?!
— Zoe, vá. Agora. — ele me ajuda a levantar e vamos em direção a enfermaria.
Enquanto ele me ajudava a caminhar, olho para trás e vejo Zoe parada, sem reação, olhando para nós. Ela bufa de raiva e se vira, indo embora em passos pesados.
Minha cabeça girava.
A batida tinha sido tão forte que mal eu conseguia abrir os olhos direito.
Olho para o garoto e o mesmo me encara de volta.
— Estamos quase chegando, aguente mais um pouco. — diz, seguido por um leve sorriso.
Assim que chegamos, ele me ajuda a subir em uma das macas e vai até um armário procurar algo. Estávamos sozinhos. Ninguém havia chegado. Enquanto ele procurava por entre os armários, várias perguntas se formavam em minha cabeça. Por que ele apareceu tão de repente naquela hora? Por que me ajudou? Por que ele não a entregou? Por que a deixou ir? Ele sabia o nome dela?
E o mais importante... Eu o conhecia.
— Fique quieta. — ele se aproximou e pôs um algodão molhado na entrada de meu nariz. — Só levante a cabeça um pouquinho... isso.
O líquido gelado no algodão era cuidadosamente esfregado em minha pele. Ao terminar de limpar o resto de sangue, o mesmo joga o algodão sujo na lixeira ao nosso lado.
Presto atenção em cada movimento seu sem dizer nada. Ainda estava em choque.
As mãos brancas, o olhar calmo, o sorriso sereno...
Sim, eu o conhecia. Benjamin... eu o conhecia.
Flashes de antigas lembranças vieram como uma onda.
Na época eu tinha doze anos e meio.
Benjamin tinha sido meu vizinho e melhor amigo por vários anos. Tínhamos uma amizade de longa data, e nos orgulhávamos por isso. Éramos inseparáveis. Sempre andávamos juntos e brincávamos até o anoitecer. No quintal da casa dele havia uma árvore enorme na qual sempre subíamos para olhar o sol se pôr e competir quem subia mais alto. O nosso destino era terminar de escalar até o ultimo tronco, onde havia uma flor amarela. A única flor que sobrevivia no tronco oco e antigo. Um dia decidimos atingir os nossos limites, e é claro, nos damos muito mal. Benjamin queria pegar a flor primeiro para me dar como um presente, já que naquele dia era o meu décimo terceiro aniversário. Ainda lembro do pavor que senti ao ver o pé dele deslizar pela madeira e enfim o corpo todo perder o equilíbrio. Lembro-me de meu coração começar a bater forte, e rapidamente uma avalanche de lágrimas invadir meus olhos.
Com tudo isso, a mãe dele acabou me mandando para casa. Chamaram uma ambulância e todos foram às pressas para o hospital mais próximo. Ela não queria que eu ficasse para ver o estado dele. Benjamin havia batido forte com a cabeça e também teve uma fratura leve em uma de suas pernas.
Por muito tempo eu fiquei me culpado por esse acidente. Se não fosse pela aposta que eu propus, nada teria tomado esse rumo. E é claro que ele estava motivado, pois queria me dar aquela flor. Um mês depois, eu iria chamá-lo para caçar insetos mas acabei vendo um caminhão de mudanças em frente à casa deles. E me caiu a ficha que ele iria se mudar. Sem mais nem menos. Sem explicações, sem razões. A nossa amizade já não era mais a mesma. Um dia antes disso tudo acontecer, fui para fora jogar o lixo, e ele também estava lá, fazendo a mesma coisa. As muletas, a perna ainda engessada, e a aparência sôfrega. Trocamos olhares e em seguida sorrimos um para o outro. Eu não sabia que no dia seguinte tudo iria mudar. Benjamin fez questão de não me dizer nada. Nunca soube o porquê.

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Depois da Tempestade
Teen FictionHazel é uma garota sozinha e insegura. É uma adolescente como qualquer outra. Tem seus defeitos, seus medos, suas qualidades, seus sonhos, e suas expectativas. Sofre constantemente de ataques de ansiedade, e desde pequena vem lidando com esse seu mo...