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5. Capitulo

Cutuco o band-aid que cobre minha testa. Está úmido, molhou enquanto eu tomava banho. Está pegajoso e sujo, embora eu tivesse limpado depois de sair do banheiro. Não quero arrancá-lo porque o corte é meio profundo. Meu estômago ainda revirava de dor. Na noite passada eu havia comido alguma coisa estragada, ou sei lá. Só lembro de ter parado no começo da escada e sentir a bile aflorar em minha garganta. Subi em desespero para o banheiro e lá fiquei por horas, até me acalmar. Eu sinceramente odiava vomitar. 

Me deitei e desse mesmo jeito fiquei, até agora. 

Pego o celular e nele há uma mensagem de Katy. Ela disse que não havia necessidade de eu ir hoje, já que estava doente. A respondi agradecida e joguei o celular pro outro lado da cama. Então acabo adormecendo em alguns instantes.

[...]

Acordo ouvindo alguém gritar. Pelo ângulo da luz que penetrava pela janela de meu quarto, deduzo que acabei dormindo demais além da conta. Devia ser fim de tarde, começo da noite.

- Eu não acredito nisso! Pelo amor de Deus! Hazel! HAZEL!

Logo me vem a cabeça o vômito no começo da escada. Droga... esqueci de limpá-lo. Sento na cama e minha mãe entra com tudo em meu quarto.

- Dá pra me explicar que merda é aquela? - pergunta ela, levantando a mão em seguida, revoltada. - Você não tem um pingo de consciência, Hazel? O que diabos está acontecendo com você?!

- Me desculpe. - digo. - Foi mal mesmo, eu acho que comi uma comida estragada e estava muito enjoada. Eu pretendia limpar tudo...

- Mas em vez disso dormiu e deixou aquela merda lá embaixo secar no carpete! - grita ela exaltada. - Dá o teu jeito e limpa tudo aquilo. Está me ouvindo? 

- Sim, estou. - afirmo com a cabeça. 

Ela me dá as costas e anda em direção ao seu quarto.

- Espero que seja só a comida estragada mesmo, porque se você estiver grávida de alguém, eu te expulso dessa casa! - esbraveja.

Como se eu saísse de casa pra engravidar de alguém, pensei.

Ela entra no seu quarto e bate a porta.

Depois que termino de limpar tudo, volto para o meu quarto. Sento-me na cama e abro o notebook procurando algo que preste. No fim não acho nada e acabo deitada de novo. Meu celular apita outra vez e tem uma mensagem desconhecida. Já sabia de quem se tratava. Não quero lê-la, mas preciso, a curiosidade é mais forte.

Minha respiração acelera e abro a mensagem, me preparando psicologicamente para o pior.

"Achei seu número."

Desço a mensagem e continuo.

"Por que não tem foto de perfil? Você é tão bonita! Deveria colocar."

Penso por alguns segundos quem poderia ser. Dessa vez não era uma mensagem ofensiva. Escrevo de volta e decido perguntar.

"Quem é?"

A pessoa não me respondeu mais. Depois de esperar, bloqueio o celular e fecho os olhos. Levanto-me indo para a varanda e sento em uma cadeira em seguida.

O celular toca outra vez.

"Doris."

Respiro aliviada e deito minha cabeça para trás.

Doris me liga e então eu atendo.

- Está melhor? - pergunta.

- Ah, sim... estou.

- Katy me falou sobre você ter passado mal hoje. Comida estragada?

Suspiro e respondo:

- É... faz um bom tempo que não fazem compras aqui em casa, se é que me entende. Eles nem se preocupam se estão comendo algo contaminado ou não.

- Entendo. Eu fiquei preocupada e então pedi o seu número de Katy. Queria te contar uma novidade também. - diz ela.

- Que novidade?

- Eu ainda não tinha comentado nada sobre eu querer me transferir de colégio, e durante esse tempo ainda não consegui vagas por aqui. Pensei e pensei então fui ao seu ontem, que por sorte, encontrei uma vaga. Começo amanhã.

Mordo meu lábio apreensiva. Logo meu pensamento vai à Zoe.

- Sabe que Zoe também estuda lá, não é?

- Sei, sei... - ela suspira. - Mas não posso ficar me escondendo dela, Hazel. Uma hora ou outra elas vão ter que parar com isso. Eu sei muito bem me virar sozinha.

- Não, eu digo isso porque desde aquele dia lá elas não para de me encher. Fico com medo se elas mexerem com você também.

- Não se preocupe, ok? Enfim... vou ter um alguém que me leve todos os dias. Aliás, vamos juntos. Vai ser bem melhor. Você pode ir conosco também.

- Seria ótimo mesmo. - sorrio. Ouço passos vindo do corredor e viro meu rosto atenta ao barulho. Duas batidas são dadas na porta e então a silhueta de César aparece no meio do escuro.
- Posso entrar? - sussurra.

- Hazel? - Doris me chama no outro lado da linha.

- Doris me desculpe mas eu preciso desligar, ok? Amanhã nos falamos.

- Claro, tudo bem. Eu também preciso arrumar as coisas aqui em casa. Até amanhã.

Desligo a ligação e pouso o celular em minha coxa.

- O que aconteceu dessa vez? - pergunto. Ele estava mexendo os livros em minha estante mas logo parou, me dirigindo a sua atenção.

- Opa, não aconteceu nada, relaxe. - diz com as mãos em modo de rendição. - Eu só vim aqui dizer que temos visitas.

- Visitas? - arqueio uma sobrancelha.

- É, visitas. - o mesmo anda até mim e para em minha frente. - Olha Hazel, não fique irritada, está bem?

- Irritada com o que? É tão ruim assim?

Ele suspira.

- Digamos que é. São seus tios e primos, eles chegaram de viagem.

E então pensei: meu dia não podia estar pior. Ou a vida deve estar de gozação comigo.

- Ah não... - sussurro para mim mesma.

[...]

"Quando eu era criança, meu castigo era ficar trancada em casa sem ver meus amigos. Hoje em dia eu faço isso por vontade própria."



___

Me desculpe pelo capítulo pequeno, Ana. Os próximos serão maiores ;) prometo!



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⏰ Última atualização: May 25, 2017 ⏰

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