Tempestade

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De carro no caminho de casa, o sinal se fecha em frente o restaurante preferido dela, automaticamente me lembro de todas as vezes que viemos aqui e como sempre, essas lembranças mexem com a minha cabeça. O que eu fiz foi tão errado assim para que a minha pena seja tão grande?
Era uma grande oportunidade, eu não podia perder, era a minha maior chance de mudar de vida, de dar uma vida melhor tanto para mim quanto para ela. Não fiz isso com um pensamento egoísta, eu só queria realizar os sonhos dela, realizar os meus sonhos, quanto aos meus eu consegui, já os dela... bom, serão apenas sonhos.
Chego em casa e se inicia uma tempestade, é sempre a mesma coisa. Assim como foi no verão no passado, tudo está acontecendo novamente, só espero que mais ninguém se machuque por minha causa, uma culpa somente já é muito para mim. Hoje eu não irei dormir facilmente, justamente hoje que só gostaria de desabar na cama e acordar somente no dia seguinte, tarefa impossível.
Eu não sei por que eu tenho que sofrer tanto por ter feito a coisa certa, eu não estava lá para protegê-la, talvez este tenha sido meu maior erro. Quando me casei fiz um juramento: "Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe." Bom, tudo isso se passou, a alegria e a tristeza, a saúde e a doença e principalmente, a morte.
Ah, aquela maldita entrevista, se eu soubesse a consequência da riqueza, se eu soubesse a consequência desse maldito dinheiro! Por que eu deixei a ganância me levar? Eu fiquei tão cego pelo futuro que eu teria com o dinheiro que não enxerguei meu futuro com ela... o único futuro que eu queria.
Se eu soubesse a consequência disso tudo, eu escolheria mil vez uma vida pobre e feliz ao lado dela do que uma vida rica e solitária sem ela. Eu só queria... eu só queria mudar tudo. A culpa é toda minha, minha e dessa droga de chuva de verão, o pior é que ela sempre volta, e as minhas lembranças ruins também, por que elas não vão embora? POR QUE?
Talvez a única forma de me libertar completamente desse peso da culpa seja... me perdoando. Eu entendo que fiz muitas burrices na minha vida e ter deixado ela ir foi a maior, mas ainda assim eu não tive culpa de querer o que era melhor para ela. Talvez eu devesse ter perguntado qual era a opinião dela e não ter agido sozinho. Mas se eu me perdoar, talvez eu consiga viver tranquilamente e ter uma boa noite de sono, sem ter que acordar na madrugada com os trovões da tempestade.
Acho que o melhor lugar para eu fazer isso seja onde tudo aconteceu, naquela maldita estrada. Ah, ter que voltar lá me causa arrepios e me faz ter pesadelos acordado mas por ela, por mim, eu vou.

Chuvas de VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora