Prólogo

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EYLAM

Minha família sempre teve ótimas condições financeiras, dinheiro pra mim nunca foi problema. Sempre tive tudo o que alguém poderia desejar ter. Porém, não tinha duas coisas; felicidade e paz.
Cresci em um lar de brigas e discussões; se é que isso pode se chamar de um lar.
Meu pai bate na minha mãe desde que eu me entendo por gente.
O machismo é normal aqui em Maladya. Nós mulheres nunca fomos reconhecidas como pessoas, e sim como objetos, em que todos jogam fora, faz o que quiserem, o que bem entenderem.

Meus pais sempre foram muito rígidos comigo e meus irmãos, fizeram várias coisas erradas em suas vidas o que os levaram a várias consequências destruidoras.

Eu sempre fui a filha mais querida, por conta disso, sinto que minha irmã e meu irmão são meio afastados de mim.
Meu irmão se meteu com a irmã do atual Agha, líder do nosso povo, e eu sei que isso não iria ficar assim, obviamente eles iriam se casar. Porém houve uma decisão que mudou minha vida completamente e que eu jamais imaginaria que pudesse acontecer.

* * * * *

- Onde você estava com a cabeça de fugir com a irmã do Agha seu imbecil? -Bradou meu pai com imensa fúria se dirigindo ao meu irmão.

Eu estava ouvindo escondida. Um perigo enorme, já que se alguém me descobrisse ali atrás dá porta e falasse ao meu pai, estaria perdida. Mas mesmo assim, enfrentei o perigo e continuei a escuta.

- E-Eu não pude evitar, pai. Eu a amo, amo como nunca amei ninguém.- Responde meu irmão com muito medo, afinal, nunca sabemos da reação do nosso pai com certas coisas.

Derrepente um barulho forte ecoa, já que o ambiente em que estão não há muitas mobílias. Posso imaginar que meu pai tenha batido no meu irmão. Coisa que não deveria, pois meu irmão já é um homem! Isso é muita humilhação!
Olho por um buraco que há na porta e assim, consigo ver tudo o que está acontecendo lá dentro.
A boca de meu irmão está sangrando muito e ele está caído no chão. Imagino que ele tenha levado um soco. Meu pai tem uma força brutal que chega a assustar qualquer um, não me espante que meu irmão tenha até caído no chão.

- Agora o Agha do nosso clã irá nos matar por culpa sua! Você é um imprestável mesmo!

- N-não, ele não irá nos matar. E-Eu prometo que irei casar com Ayşe, eles irão aceitar. Vamos conversar com ele pai, fazer um acordo não sei. Eu sei que eles vão concordar, pela honra dela, o senhor conhece a tradição.

- Vamos falar agora mesmo com a família do nosso Agha e aceitar qualquer condição que eles imporem.

Nesse instante ouço passos, saio correndo de trás dá porta e vou para o meu quarto.
Segundo a tradição, meu irmão deverá se casar com Ayşe. Paro de pensar nesse assunto pois já imagino o final, e vou fazer minhas obrigações; ajudar minha mãe a limpar a casa.
Desde muito pequena as mulheres mais de idade nos ensinam que devemos sempre manter a casa em ordem, para servir e agradar aos nossos maridos.
Sempre achei isso tudo um absurdo no nosso país, mas nós mulheres não temos voz para nada; então o que nos resta é somente aguentar sermos humilhadas, pisadas e continuar sendo escravas dos homens.

Acabo o serviço já no cair da tarde, estou exausta, então decido descansar um pouco no meu quarto antes de descer para ajudar no jantar. Pego um livro de romance e começo a ler.
Meu pai sempre fica de olho nas coisas que eu faço, ele nunca me deixa ler um livro que eu quero, somente os que ele escolhe para mim; porém eu tenho uns romances que escondo muito bem. A minha sorte é que eu fui alfabetizada, muitas meninas não sabem nem escreverem seus próprios nomes. Só estudam se seus pais permitirem, e em casa. Não podemos ir a escola, somente os meninos vão.
Escuto batidas na porta. Escondo meu livro rapidamente no meu esconderijo secreto e em seguida digo para a pessoa entrar.

- O que você tava fazendo nesse quarto garota? É pra você fazer o jantar, AGORA. - Diz meu pai quase cuspindo.

- Sim senhor.

Saio apressada do meu quarto e vou para a cozinha.
Encontro com minha irmã​ e minha mãe, em seguida me dirijo a ela.

- O que quer que eu faça minha mãe?

- Frita frango, carne e depois faz os sucos. Sua irmã fazendo a sobremesa e eu vou fazer o resto. - Responde ela docemente.

Minha mãe sempre foi rigorosa comigo e meus irmãos, porém ela sempre foi mais doce que meu pai. Ela sempre que pode demonstra carinho e nos trata bem, já meu pai, nos trata totalmente como animais.
Ficamos em silêncio fazendo o jantar, afinal, a nossa vida é essa; servir sem reclamar.

* * * * *

- O jantar está ótimo. - Diz meu pai que praticamente engole a comida do prato.

Minha mãe agradece e em seguida volta a comer. Quando todos terminam, nós mulheres fomos buscar a sobremesa para em seguida começar a servi-los. Estamos todos a mesa novamente em um silêncio perturbador. Até que meu pai decide quebrar esse silêncio.

- Todos já devem saber dá burrada que Emre fez. Já conversamos com o nosso Agha... Emre se casará com Ayşe amanhã mesmo. Eylam?

- Sim, senhor?

- Você irá ser a dama de honra de Ayşe.

Assinto com a cabeça, mas eu não queria isso. Eu não sou próxima do meu irmão, eu nem converso com essa Ayşe. Não tem porque eu ser a dama dela.

Depois do jantar fui para o meu quarto descansar, hoje a louça é da Narin minha irmã, não tenho com o que me preocupar.
Tento dormir mas demoro. Não consigo parar de pensar em como vai ser amanhã, o casamento do meu irmão. Apesar de não ser próxima dele eu estou muito ansiosa, e com medo também, confesso. Estou com um pressentimento ruim e é uma agonia não descobrir o por que disso.
Só me resta esperar e descobrir.

Prisioneira do Amor [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora