Cap. 3 || São apenas 6 meses

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Coro até ao mais perto possível do hospital, e pelo caminho mais rápido. Vejo a morte parada entre a varanda onde Louis está e mim. Podia ser atropelado a qualquer momento, mas eu apenas queria impedir que aqueles olhos azuis se fechassem de vez.

Os meus pés doiam e as lágrimas quase saiam dos meus olhos por ver Louis exposto àquilo.

«O que estará ele a sentir?»

Eu corria o mais depressa que conseguia, eu rasgava a estrada sob o olhar atento das pessoas que andavam na rua. Os carros paravam bruscamente e os condutores buzinavam irritados. Mas eu apenas queria salvar Louis.

Reparo que é impossível entrar no hospital seguindo aquele caminho, quando me deparo com um gradeamento enorme, mas como meu maior castigo, consigo ver Louis atentando contra a sua vida.

“Louis!” Grito sentindo a minha voz falar por causa da força aplicada. Ele levantou o seu olhar e vi os seus lindos olhos azuis enchidos de lágrimas, implorando por ajuda. Não faças nada. Pedi apenas movendo os lábios e ele negou. “Não faças nada, por amor de Deus, Louis!” Gritei mais alto e as lágrimas caíram com ainda mais força.

Ele movia a cabeça negando o meu pedido e eu sentia que ia vê-lo ir-se embora.

Coloquei as minhas mãos na rede, a raiva circulava nas minhas veias e a distância fazia com que a raiva aumentasse e aumentasse… o portão mais próximo implicava uma corrida de mais de 5 minutos e nesse tempo Louis podia cair.

O contacto da minha pele com a rede provocava uma sensação de incapacidade, se Louis se atirasse a culpa seria daquela rede horrível. “Suba e salte.” Uma mulher, com a aparência de cerca de 30 anos me falou enquanto olhava para Louis. “Seu amigo?”

“Acho que para isso, preciso de impedi-lo.” Comecei a subir a rede e os meus pés doíam e a cada vez que trocava a posição das mãos, sentia a minha pele ficando dorida.

Saltei e caí no chão. Mordi interiormente o lábio e gemi de dor. Definitivamente, correr com aquelas botas não era bom, e ter subir aquela rede, ainda me fez ter a certeza do quão mau era. Contra a minha leve dor, corri até perto do rapaz de olhos azuis e dali conseguia ouvir a voz de Mayer implorar que Louis desistisse.

“Eu vou saltar!” Ele falou para a enfermeira e senti uma pontada no coração. Alguns médicos montavam uma proteção no chão para que, caso Louis saltasse não se magoava e isso ainda o deixava mais irritado. “E se eu não saltar, eu irei tentar de maneiras diferentes.”

“Porque não desistes?” Perguntei e ele olhou-me.

“Não sou cobarde, e são apenas 6 meses, não há diferença entre ser hoje ou ser daqui a uns dias.”

“Há sim, Louis.”

“Qual? Mais dinheiro gasto comigo? Daqui a uns dias vou deixar de conseguir respirar sozinho! Vou deixar de comer, vou deixar de andar, de falar, e vou acabar por morrer e magoar milhares de pessoas. Eu sou uma bomba e irei explodir, hoje ou daqui a umas semanas.” Ele falou bem coerente, os seus olhos focados em mim, fuzilando-me com as palavras e deixando-me completamente surpreendido pela maneira de como ele era tão frio e tão mau com ele próprio. “Eu sou um estorvo. Eu sou apenas um doente…”

“Então, assim sendo, todos nós somos um estorvo. Um dia também vamos morrer, um dia iremos ficar doentes, um dia iremos deixar de falar, de comer, vamos morrer.” Parei por breves momentos. “Posso morrer hoje, ou amanha, ou no próximo mês, ou daqui a dezenas de anos. Mas eu sei que vou morrer. Acontece o mesmo contigo, mas tu sabes o tempo que tens e a única coisa que tens de fazer é aproveitar esse tempo.”

“Aproveitar? Dentro de um hospital como este? Um hospital onde diariamente morrem pessoas?”

“Eu irei fazer-te feliz e levar-te a sítios onde mais ninguém te levou.”

Um sorriso leve e fraco se formou na sua cara de bebé e eu automaticamente sorri sentindo-me quase não resistindo a chorar.

Ele saiu do local onde estava e entrou para o corredor chorando compulsivamente. Naquele momento senti que ele era meu e que eu tinha como obrigação faze-lo feliz, mesmo sendo por 6 meses.

O corredor parecia interminável e eu conseguia vê-lo sentado lá no fundo. Eu corri o mais depressa que conseguia, visto que aquilo era um hospital. Ao chegar perto dele apenas consegui ouvir uma coisa.

“Desculpa Babycakes.” E senti-o nos meus braços.

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