Um dia, uma noite, como outros quaisquer

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Harry

Mais um dia como qualquer outro no ministério, pensou Harry Potter, chegando em sua sala no departamento de aurores. Acabara de voltar de uma missão na América do Sul, caçando traficantes de criaturas mágicas. Voltara com um relatório debaixo do braço, pronto para ser entregue ao seu supervisor.

Sem alarde, sem drama, como sempre. Morava sozinho, não tinha ninguém que ficasse esperando por ele em casa. Tinha apenas Hermione e Rony, mas não se sentia muito confortável perto deles, não mais desde que anunciaram o noivado. Porque agora eles tinham um milhão de "assuntos de casal" para resolver e ele continuava sua vida tranquila, bem merecida depois de vinte anos conturbados.

-Ah, aí está você, Potter – disse Jackson, tomando o relatório das mãos do auror. - Como foi na América?

-Quente – Harry sorriu consigo mesmo, lembrando de como sofreu quando descobriu que seus casacos grossos de nada adiantariam em um país tropical. Jackson também sorriu, de um jeito safado. - Eu quis dizer abafado.

Jackson não estava de todo errado. Ele tivera ajuda para encontrar todos os criminosos que procurava, vinda de um bruxo de pele morena, olhos castanhos que pareciam amêndoas e lábios divinos. Seu nome era Tomás, e nunca mais se veriam, já que Tomás era herbologista, com o sonho de catalogar todas as plantas mágicas existentes na América, e Harry tinha que voltar para o ministério.

-O que tem para mim agora? - interrogou, sabendo que precisaria de um trabalho maior para esquecer esse.

-Hum, vejamos... para hoje, só tem isto.

Jackson tinha uma carta na mão direita. Harry a pegou, com certo receio da missão que receberia. Era de Andrômeda Tonks, a adorável mãe de Ninfadora e sogra de Remus, a avó que cuidava de Teddy.

Caro Harry, como você sabe, não estou em meus melhores dias. Os medibruxos dizem que é só uma fase, mas por mim, digo que é o fim da linha. Estou pronta para partir, só tenho uma coisa para ajeitar antes de ir, Teddy. Eu preciso que fique com ele, e francamente, ninguém melhor para cuidar dele do que você, afinal, se não fosse, Remus não o teria escolhido como padrinho.

Com carinho,

Andrômeda B. Tonks.

Harry conteve as lágrimas. Jackson sussurrou um "Sinto muito" e disse que o deixaria sozinho. Caminhando a passos largos, rumou para sua sala. Chegara tarde demais. O coração de Andrômeda já tinha parado, sabe-se lá há quanto tempo, e Teddy estava sozinho, sem ninguém, a não ser o padrinho ausente, que por acaso estava na América do Sul, trabalhando.

Rony passou por ali mais tarde, com uma caneca de café.

-Voltei tarde demais – reclamou Harry, dando um gole na bebida.

-Hey, não foi tarde demais – disse Rony, sabendo o que o amigo pensava. - Foi nessa madrugada, e você não poderia ter impedido. Nós sabemos que Andrômeda estava muito cansada. Ela criou a filha em uma situação complicada, sobreviveu a duas guerras, perdeu praticamente toda a família e ficou com o neto, ainda por cima. Ela merecia descansar.

Até mais do que eu, pensou Harry, um pouco revigorado.

-E Teddy, onde está?

-Com a minha mãe. Kingsley se encarregou de cuidar dos trâmites que envolvem a morte da Andrômeda e o deixou na Toca.

-Que trâmites seriam esses?

-Eu não tenho ideia, ele vai te explicar qualquer hora.

-Obrigado... vou ficar mais sossegado agora.

Oh, ironia, pensou ele, arrematando o café enquanto Rony saía, doce como uma boa xícara de café.

Draco

Colocou a última caixa no chão e alongou os braços, aliviado por se livrar do peso. Era a segunda mudança em seis meses, e houve muitas outras desde o fim da guerra. Expulso de casa pelo pai quando disse que Voldemort estava errado, Draco viu-se por conta própria. Sua mãe lhe dera algum dinheiro, para alugar o primeiro apartamento e arrumar um emprego. Garçom em um restaurante no centro, vendedor, assistente, de tudo um pouco até chegar onde estava.

Com o passar do tempo, ele finalmente conseguiu um emprego melhor, e aos poucos, melhorava as condições da casa atual. Para quê comprar coisas tão caras?, perguntava-se. Daqui a pouco estarei em outro lugar.

A verdade é que mesmo com o emprego de redator-chefe em uma revista conhecida, ele já se acostumara com a rotina de se mudar constantemente. Apesar de todas as confusões com chefes, problemas com caixas de mudança e coisas perdidas, ele estava em paz. Sem Lucius enchendo sua cabeça com ordens estúpidas, sua vida estava muito mais a seu gosto, suave e tranquila.

Uma vez que todas as caixas estavam para dentro, pôs-se a ligar os aparelhos, como a televisão e o telefone. Tudo já estava em seu lugar, então foi tomar banho. Não se demorou, apenas uma ducha rápida, pois estava com fome. Mal saiu do box, o telefone tocou.

-Alô – disse, a palavra trouxa já não soava estranha a seus ouvidos. - Draco Malfoy falando.

-Boa noite, sr. Malfoy – respondeu a pessoa do outro lado da linha. Draco não reconheceu a voz. - Meu nome é Kingsley Shacklebolt, do Ministério da Magia.

-Boa noite, sr. Shacklebolt – a paciência do jovem homem começava a se esgotar. Odiava receber ligações do Ministério. Eram sempre sobre seu pai, ou sobre seu passado como Comensal da Morte. - Em que posso ajudá-lo?

-É sobre sua tia, Andrômeda Black Tonks – Draco mordeu a parte interna da bochecha, mas estava menos tenso. Pelo menos não era sobre Lucius ou Voldemort. - Ela faleceu há algumas horas, e como o senhor deve saber, ela cuidava do neto, que segundo o testamento dela, deve ficar sob sua custódia.

-Hã? Mas ela... nunca me disse nada sobre isso.

-Não posso fazer nada quanto a isso, mas tenho o documento em minhas mãos e diz claramente que na ocasião de seu falecimento, a guarda do garoto deve ser entregue a você.

-Está bem – cedeu ele, nada mais havia a se fazer quanto a isso, afinal. A palavra de Andrômeda era a lei, e essa lei mandava-o ficar com Teddy. - E quando vou buscá-lo?

-Não precisa se preocupar por ora, senhor. Há outros detalhes a serem acertados. Quando o momento chegar, entro em contato novamente.

-Certo. Tenha uma boa noite.

Desligou sem esperar resposta. Mal conhecia Teddy. Só sabia que ele era filho de sua prima, Ninfadora com Remus Lupin. Sentia-se perdido. Acabara de aprender a cuidar de si mesmo – cozinhar direito, operar uma máquina de lavar sem usar muita magia – e agora teria de cuidar de uma criança? Onde estava a justiça do mundo? Certamente não estava ao lado dele.

Harry

Conforme o dia passava, parecia que a notícia chocante com que Jackson lhe dera as boas vindas se tornara apenas parte de um pesadelo. Ele acreditava que Andrômeda, apesar de idosa, estava bem de saúde, esperando que Harry fosse buscar Teddy no fim de semana, como combinavam.

Mas no fim do expediente, quando Kingsley o deteve minutos antes de aparatar para casa, ele voltou à dura realidade de que Andrômeda havia partido e que Teddy era agora de sua responsabilidade.

-Eu ainda precisava ajeitar algumas formalidades, mas aqui está tudo que você tem de saber. Você agora é o tutor e guardião de Teddy, juntamente com Draco Malfoy.

Quem vai ficar com Teddy?Onde histórias criam vida. Descubra agora