Porque não disse antes?

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Yuta disse a sua mãe que iria para a escola normalmente, porém ao virar a esquina não parou no ponto do ônibus, como costumava fazer. Continuou andando, em direção a casa de Sicheng, que ficava a dez minutos da sua. Sabia onde o chinês morava, pois ambos pegavam o mesmo ônibus para voltar e para ir a escola. Talvez fosse dali que sua paixão secreta pelo mais novo havia surgido, pois era difícil não se encantar com o garoto alegre que sempre dava pulinhos ao subir e descer do ônibus. Durante o caminho, Yuta começou a sentir suas mãos suadas e suas pernas bambas, fora o frio na barriga e o coração acelerado. Não aparentava, mas era extremamente tímido, principalmente em relacionamentos. Finalmente revelar sua identidade a Sicheng era uma loucura, mas precisava fazer aquilo, Sicheng precisava de Yuta mais do que tudo.
Em seu quarto, Sicheng estava nervoso e ansioso. Tentava não pensar na possibilidade de ser Yuta, mas estava esperançoso demais para não pensar. Era a única pessoa que conhecia que era intercambista, e que tinha um "y" na inicial do nome. Mas também tinha a enorme possibilidade de não ser ele, e de Sicheng ficar um pouco decepcionado. A única certeza que tinha naquele momento era de que quem quer que fosse, estava indo vê-lo, e que Sicheng seria eternamente grato por receber tanto amor e carinho.
Dez minutos depois, Sicheng recebeu uma mensagem de seu crush, pedindo para que abrisse a janela de seu quarto e que se virasse em seguida. Com dificuldade, Sicheng se levantou de sua cama, abriu sua janela e se virou, se afastando um pouco para que ele pudesse entrar. Ouviu alguém escalando a parede, para então entrar em seu quarto, pisando fortemente no chão e respirando pesado.
- Hyung, é você? - perguntou Sicheng, parecendo apreensivo e desesperado.
- Sou eu, babyboy - respondeu, calmamente.
Sicheng suspirou aliviado, relaxando seus ombros. Ouviu a breve risada de seu hyung, e sentiu suas mãos sobre sua cintura. Ele parecia tão nervoso quanto Sicheng, pois suas mãos tremiam e ele podia sentir sua respiração descompassada em seu pescoço.
- Por favor, não se assuste, ou me rejeite.
- Nunca vou fazer isso, hyung.
Lentamente, Yuta se separou de Sicheng, e pediu para ele se virar, com a cabeça baixa e as bochechas coradas. Assim que o viu, Sicheng colocou as mãos sobre boca, incrédulo. Yuta sorriu timidamente ao ver a expressão do mais novo, e disse:
- Oi, babyboy.
- Oi, hyung - respondeu, e então riu de nervosismo. - É você mesmo?
- Sou, me desculpe por não dizer nada antes, de não poder cuidar de você, de não o proteger como eu queria, eu só tinha medo...
Sicheng interrompeu Yuta, dando um delicado e inocente beijo em seus lábios. Yuta sorriu surpreso em meio ao beijo, o que fez com que Sicheng sorrisse também.
- Você está aqui, hyung. É só isso que importa pra mim. Mas agora, podemos nos sentar? Minhas pernas estão doendo.
- Ah meu Deus, é claro.
Yuta colocou Sicheng em seus braços, e se dirigiu até a cama, ouvindo sua gargalhada. Fez questão de deixá-lo em seu colo, para ficar próximo a ele o máximo possível.
- Aigoo! Não precisava fazer isso, hyung! - disse Sicheng, envergonhado.
- Eu preciso cuidar do meu babyboy, não preciso?
- Assim você me deixa com vergonha...
Yuta riu, o abraçando ainda mais forte, e tomando cuidado para não machucá-lo ainda mais. Sicheng riu de volta, transformando tudo em uma série de infinitas gargalhadas sem nenhum propósito. Era tão bom ouvir o riso contagiante e ligeiramente infantil de Sicheng, mas era melhor ainda saber que o motivo para as risadas vinham dele.
- Minha barriga dói - disse Sicheng, ainda rindo um pouco.
- A minha também - respondeu Yuta, limpando algumas lágrimas de seus olhos. - Por falar nisso... será que eu poderia ver...?
Sicheng assentiu, e levantou a barra de seu moletom, revelando vários hematomas espalhados por seu tronco, que iam de sua barriga até as suas costelas, e também mostrou os hematomas em suas pernas. Vários tons de roxo e azul constrastavam com a pele branca de Sicheng, cores lindas e penetrantes, mas que tinham um contexto horrível.
- Eu prometo que isso não vai mais acontecer, não enquanto você estiver comigo - disse Yuta, convicto, passando a mão levemente pelos hematomas.
- Promete mesmo?
- Prometo. Agora durma, porque você precisa descansar.
Sicheng assentiu, coçando os olhos. Yuta o ajeitou em sua cama, e em seguida deitou ao seu lado, o abraçando. Sicheng foi se rendendo ao sono lentamente, e uma das últimas coisas que disse ao cair em um sono profundo foram:
- Por que não me disse antes?

why so lonely - nyt. + dsc.Onde histórias criam vida. Descubra agora