No domingo, no início da noite...
De: alex.veiga@mail.com
Para: lena.jun@mail.com
Assunto: Sem assuntoDesde ontem não consigo parar de pensar no que aconteceu ou no que deveria ter acontecido. Acho que sonhei com nosso encontro e eu estou ficando um pouco obcecado. Precisei de três xícaras de café para finalmente conseguir raciocinar de maneira sensata, embora eu tenha certeza que tantas doses de cafeína não estão me fazendo bem.
A primeira pergunta que me veio à mente quando acordei hoje foi: por que você não foi ao nosso jantar, se me disse que queria estar lá? O que aconteceu para te fazer mudar de ideia tão rápido?
Eu não dormi. Prometi a mim mesmo que só desistiria quando conseguisse entender se a culpa foi minha, se eu entendi algo errado e te forcei a fazer algo que você não queria. Ou se eu deveria apenas te culpar.
Eu fiquei muito puto por você não ter aparecido e por não ter me dado uma justificativa além daquele email curto e meio desesperado. Senti raiva de você, Lena, e me senti como um idiota por estar na mesa arrumada do nosso jantar, ofegando todas a promessas da nossa noite e, ao mesmo tempo, tendo que lidar com a sua ausência.
Quando Vic me disse que poderia ter acontecido algo de errado com você, achei que tinha encontrado a minha justificativa. Você queria estar lá, mas algo a impediu de chegar. Um caso fortuito, algo que ninguém podia controlar, mas que se as condições fossem outras, nada disso teria acontecido.
Então, eu fiquei louco. Deixei o homem idiota sentado à mesa e sai correndo para onde Vic disse que você estaria. Não me lembro exatamente o que eu disse às pessoas que encontrei pelo caminho ou a desculpa que dei por estar literalmente correndo pela rua. Eu só precisar te ver, independentemente de você querer me encontrar. No meio da minha crise de ego ferido, eu fui até você. Jurando a mim mesmo que essa loucura de emails iria acabar assim que eu pusesse os olhos em você. Não tenho mais idade para essas turbulências emocionais, Lena, e acho que nem sei mais como lidar com isso.
Mas você tinha outro encontro.
Meu primeiro pensamento foi ter inveja dele. Eu quis ser ele naqueles poucos minutos em que recebi a mensagem de Vic. Não havia grande diferença entre mim e aquele cara. Éramos dois estranhos que enviavam mensagens para você. E você nunca me contou sobre ele. Será que ele sabia que nós tínhamos um encontro?
Me senti usado por você, manipulado e enganado.
Até descobrir quem ele era.
Durante todo o caminho, uma voz tentava de dizer que eu não podia ser um babaca como Alexandre. Eu sou o Alexandre que precisa provar que é diferente. Eu estava ouvindo-a, mesmo antes de saber que o seu encontro era com ele. Eu te disse que não sou como o seu ex-namorado e isso não foi uma promessa.
E eu realmente não fui.
Te vi a uma distância que normalmente meus olhos me põem em dúvida. Eu sabia que era você sem precisar ter certeza. Você estava tão linda e sexy como o meu próprio inferno. Mas não devia ser desse jeito. Você estava lá, assustada, caminhando de um lado para o outro, chorando como se sentisse a dor de carregar a culpa de todas as dores do mundo, inclusive a minha. Do idiota supostamente traído.
Parte de mim estava magoada e irritada demais para ceder ao desejo de te levar para longe de tudo aquilo (eu não fazia a menor ideia do que era). Mas sabia que precisava consolar você. Eu disse que podia fazer isso, não disse? Mas eu não quis. E me aproveitando da minha vantagem, tomei a decisão mais egoísta, dentre as que eu podia escolher no momento.
Revelar minha identidade. Cobrar satisfações. Consolar você ou te deixar ir embora, essas eram as minhas opções. Dentre todas elas, eu decidi ser um covarde. Só te olhei por alguns segundos e deixei você fosse embora.
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Com Amor, Lena [Concluído]
General FictionHelena sempre conversa através de mensagens de texto SMS com sua melhor amiga Victoria. Culpa do seu celular pré-histórico que não suporta um aplicativo de mensagens, mas isso não faz diferença quando se está desesperada com as investidas de um ex-n...