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No dia seguinte, depois das nove da noite...

De: lena.jun@mail.com
Para: alex.veiga@mail.com
Assunto: Tantos que não cabem aqui

Querido Alex,

Você me contou uma vez que sempre envia emails para a sua mãe com alguma saudação carinhosa, porque ela acha que isso faz parecer que você está perto dela. Espero que sinta como se eu estivesse com você. É onde eu queria estar agora.

Estive lendo nossos emails nas últimas semanas. Lendo não, decorando cada palavra, na tentativa de fazer com que aqueles momentos voltassem. É basicamente o que tenho feito: leio até dormir. Eu quase quebrei o meu notebook há duas noites, porque acabei deitando por cima dele. Gosto de te levar para cama comigo, mesmo antes de você me pedir eu já fazia isso. Só que agora é diferente, porque eu não tenho certeza de que você quer mesmo ir. Eu te levo mesmo assim.

Você já quis que um momento se repetisse por muitas vezes? Acho que isso acontece em um filme e o personagem principal revive o mesmo dia várias vezes. Mas eu não queria reviver apenas um dia, mas todos os nossos emails. Até mesmo aqueles que te envio por engano ou os que tentei guardar só para mim.

Por outro lado, tenho certeza de que a noite daquele sábado era um dia que você preferia não se lembrar, ao invés de revivê-lo.

Sei que está aborrecido e que, talvez, não queira mais conversar e nem pensar em mim. É justo, mas eu preciso falar sobre aquela noite. Você disse que não se importava em saber o que aconteceu, só que eu preciso fazer isso. Preciso te contar.

Eu não menti, Alex. Queria estar naquele bistrô com você e até imaginei cada detalhe da nossa noite. Eu te contaria se não me fizesse parecer tão patética. O que você precisa entender é que eu queria estar lá.

Tinha programado toda a noite. Eu pediria à minha funcionária que fechasse a floricultura por mim, depois eu iria tomar um café, para, finalmente, ir até você. Só que nem tudo saiu de acordo com os meus planos. Isso deve ser uma resposta divina para não idealizarmos tanto.

Na verdade, foi um desastre.

Eu não tinha um encontro além do nosso. Era só um café, não era um encontro. O que aconteceu foi uma coincidência que na verdade não era coincidência nenhuma, foi tudo estudado e muito planejado...

Há alguns meses eu fui ao Iceland com Vic e Leo, estávamos a convite do amigo dela que é baterista do Five Little Peppers e, no intervalo, depois do primeiro show, eu conheci uma pessoa no bar. Ele era simpático e muito agradável. Foi uma conversa banal, mas eu me senti interessante e desejada, fazia algum tempo que não lembrava de como era e eu estava precisando disso naquela noite. Um tempo depois, quando já estávamos envolvidos na conversa, uma mulher apareceu, parecia a irmã dele, o chamou, Xande, ela disse, e o cara incrível daquela noite desapareceu. Sim, eu disse meu nome a ele, mas ele não me disse o dele e nem trocamos nossos telefones. Foi algo quase inocente, Alex, mas me fez bem.

Semanas depois, eu recebi uma mensagem de um numero estranho no celular. Ele disse se chamar Alexandre e contou uma história sobre ter precisado falar com várias pessoas para conseguir o meu número, depois que conversamos lá no Iceland. Eu acreditei e continuei conversando com ele. Ele disse exatamente o que conversamos no bar.

Num primeiro momento, eu desconfiei, claro que sim. Qualquer pessoa poderia me mandar aquela mensagem. Podia ser um engano, um trote ou podia ser pior e ser alguém mal intencionado. Mas apesar de ter tudo isso em mente, eu continuei conversando com ele.

Então, depois de várias tentativas de sair comigo, tendo inclusive não ido a um dos encontros que marcamos no Iceland, em que fui com Vic, eu combinei de tomar um café com ele. Nós já não nos falávamos tanto e todas as vezes em que eu recebia uma mensagem dele era sobre esse tal "encontro" que ainda não havia acontecido. Eu queria acabar de uma vez com aquilo.

Com Amor, Lena [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora