Lizzie Lockwood
Sinto algumas bicadas em minha barriga e algo caminhando sobre mim, quando abro os olhos vejo um pássaro, um pardal talvez, ele estava comendo os restos do sanduíche que eu havia levado pra lanchar na escola. Eu adormeci no banquinho enquanto observava as flores, parecia que haviam se passado apenas dez minutos, mas quando olhei na tela do meu celular já passava das cinco horas da tarde e o sol já não estava tão alto no céu.
Bati as mãos no meu uniforme para tirar o que restava das migalhas e coloquei meu casaco que eu havia tirado para cuidar das flores. Saí em disparada em rumo a minha casa torcendo para que minha mãe não notasse meu atraso. Eu não entendo o porquê dela brigar tanto comigo, eu sei que ela não se importa, pra que fingir?
Chego em casa correndo e limpo meus sapatos na entrada para não dar mais motivos para ela brigar.Assim que entro em casa me deparo com meu irmão deitado assistindo TV, passo devagar e ele nem nota minha presença, entro no meu quarto, tranco a porta, fecho as cortinas, tiro meus sapatos os jogo em um canto, e me jogo na cama, enfim estava na minha tão sonhada e aconchegante escuridão.
Todos os dias quando chegava em casa eu fechava todo o meu quarto deixando ele totalmente escuro, deitava na cama, colocava uma música da Lana e ficava olhando pro teto, a escuridão refletia o vazio que eu sentia dentro de mim depois de mais um dia de mentiras.Estava perdida em meus pensamentos enquanto observava o escuro, quando de repente sou acordada do meu transe pela minha mãe que batia na porta e gritava meu nome, me levanto da cama com um desânimo tremendo, e a imaginar o que eu teria feito dessa vez.
E assim como nos outros dias, só escutei gritos, e insultos que me faziam doer o coração, mas que eu aguentei calada. Logo após ela sair do meu quarto me tranco novamente e sinto uma lágrima escorrer em meu rosto. Não sei o que é pior, viver cercada de pessoas falsas na escola ou não ser amada pela minha própria mãe.Me sento na cama, dobro as mangas do casaco e fico observando as marcas, só observar e lembrar da sensação não bastava, estendi minha mão e abri a gaveta do criado mudo que ficava do lado direito da cama e peguei uma de minhas lâminas. Eu não queria mais fazer aquilo, mas a única forma de fazer parar aquela dor no coração era sentir dor em outro lugar. Mais uma vez me rendi à minha fraqueza. Deito de lado na cama e sinto em meu rosto as lágrimas escorrerem no mesmo sentido que o sangue proveniente dos cortes que eu acabara de fazer.
Depois de ficar um bom tempo daquele jeito me levanto tiro minhas roupas e vou me banhar. Saio do banho e visto um moletom azul claro que eu tenho e me deito na cama. Me perguntava se o dia de amanhã seria igual ao dia de hoje, mais um dia qualquer, mais um dia infeliz, mais um dia de decepção, e mais um dia que passei sentindo uma imensa vontade de morrer.

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Minha,tua abstinência
Teen FictionTodas as noites eles observam o mesmo céu e compartilham a mesma dor, sem saber. Por fora sorrisos e brincadeiras, mas por dentro nada além de amarguras e feridas.