Senti meus pés formigando,um arrepio intenso percorreu meu corpo,e eu abri os olhos com pesar,olhando ao redor.Eu estava dentro do carro,Clair ainda dormia e meu pai conversava com alguém ao celular,ele estava nervoso? Decepcionado? A expressão que seu rosto possuía era uma mistura de raiva e tristeza.
Soltei um suspiro e olhei para Clair que dormia em meu ombro,afaguei sua cabeça e fechei os olhos tentando voltar a dormir,mas meu pai abriu a porta detrás do carro,aonde eu e minha irmã se encontravam, e eu retirei o cinto de segurança saindo do carro,e acordando Clair.
-Aonde estamos? Já chegamos? -ela perguntou sonolenta e meu pai concordou com a cabeça.
-Aqui é a casa de minha mãe? -Olhei para o meu pai,e ele mais uma vez concordou com a cabeça,acho que é hora de dar mais umas dores de cabeça antes de nos despedirmos- Eu não me lembro de você ou alguém dizer que ela era rica...
Agora foi a vez do meu pai suspirar,ele nem retrucou igual sempre costumava fazer,e talvez seja porque ele sabe que não tenho limites e nem tato na língua,falo e falo até ele não aguentar mais e acabar estourando a minha cara na porrada.
Ele me disse que esperaríamos por alguns minutos,porque a dona Christine estava lidando com seus problemas sendo mãe de crianças gêmeas e atentadas.
Não os julgo,eu era o capeta quando era mais novo, só queria encher o saco e jogar vídeo game após a escola.E espero que você não me leve a mal, eu não tinha muitos amigos e a única pessoa que me interessava era Clair, ela fazia e ainda faz me lembrar porque ainda vivo.
Passado uns trinta minutos a minha mãe chega,e não me chocou o fato de que ela estava quase exatamente como eu me lembrava.Se não fosse pelas pouquíssimas rugas já denunciando sua idade eu diria que Clair era uma fotocópia de Christine,cabelos loiros e os olhos verdes,nariz fino e rosto de um formato bonito de se ver,e claro uma cicatriz na bochecha que eu sempre via nos meus sonhos,e que lembro desde sempre.
Foi normal rever a minha mãe,eu não consegui demonstrar grandes emoções,eu estava travado e não cheguei nem a retribuir seus abraços,mas minha irmã conseguiu parecer bastante empolgada e feliz pelo reencontro, ela era bem apegada a minha mãe e forte o suficiente para enfrentar isso de cabeça erguida.Isso é uma qualidade (eu acredito ser) nossa,mas no meu caso só aparece quando alguém quer me fazer vestir o paletó de madeira,se é que vocês me entendem.
||••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••||
-A comida está com uma cara boa, mãe -Disse Clair sorrindo,seus olhos estavam marejados.
-Esta mesmo! -concordou o marido de mamãe,que se chamava Philip.
Comecei a comer,e a comida de minha mãe era uma mistura de felicidade e derretimento por algo tão... Comum.Uma comida comum,que eu comia com meu pai e minha irmã,mas não era feito no fogão de casa,pois meu pai não sabe cozinhar.Suponho que agora,Clair aprenda a fazer comida com Christine.
E de repente,os comentários sobre a comida,eu podia ouvir os suspiros e "hum" que Clair murmurava a cada garfada na macarronada que nossa mãe havia preparado.
-E você? O que achou dá minha comida,querido Cole? -ela disse, melódica e sorridente.
-Esta ótima... A senhora é uma ótima cozinheira! -eu disse sorrindo pequeno.
E então continuamos o jantar, ela disse que amanhã iria fazer nossas matrículas na escola,Clair contava em como era morar com o pai desde que era bem pequena,dizia sobre a cidade aonde morávamos e sobre os amigos e tantas outras coisas.Obviamente,eu participei dá conversa,dizendo para a nossa mãe sobre os meus interesses,as coisas de que gostava de fazer,comida preferida e ela perguntou até mesmo quantas namoradas eu já tive!
Eu hesitei na resposta,mas não menti.Eu sempre fui muito famoso entre as meninas desde o jardim de infância,culpa dos meus pares de olhos azuis,as meninas faziam de tudo para namorar comigo,e eu não tinha o mínimo interesse nelas.Namorei poucas vezes,e só porque não queria ser motivo de chacota entre os meninos, já estava bem cansado de ser saco de pancadas no ensino fundamental.Eu não sou muito bom para lidar com garotas,sendo realista, não sei lidar com pessoas em geral,mas eu gostava de ficar com algumas sem compromisso nenhum,ainda mais aquelas amizades com benefícios: dá uns pegas,e continuar fumando juntos e trocando idéia.Mas,minha mãe não precisava de saber disso,ainda não.
_•••
-Filho? Posso entrar? -nem preciso falar quem bateu na porta,e eu me sentei na cama soltando um suspiro.
-Pode sim... -Eu me deitei,e me cobri com a coberta até a cintura.
Ela entrou,e se sentou ao meu lado,dando um beijo em minha testa e sorrindo.
-Estou tão feliz por ter vocês aqui agora... Vocês não sabem o quanto senti a falta de vocês! -Ela fungou,logo começando a deixar algumas lágrimas rolar pelo seu rosto.
-Nos também... E muita... Saudade era o que tínhamos de sobra... -omiti.Eu não sentia saudades assim,eu sentia falta de ter uma mãe e apoio emocional.Mas,tanto eu quanto Clair aprendemos a se acostumar com isso.
Conversamos um pouco,e ela disse que iria se deitar,me deu um abraço e saiu do quarto,desligando a luz.E as única luzes que me sobrara,era a luz do abajur e a luz que vinha de fora,a janela do meu quarto era grande,grande o suficiente para a luz do poste iluminar todo o quarto.
Resolvi desligar o abajur,eu me livraria logo disso,nunca tive um e não vejo necessidade de ter logo agora, até porque a luz do poste tava iluminando mais do que ele.Acho que nunca tive porque meu pai nunca teve dinheiro pra comprar um,e tinha luz normal na casa, até mesmo quando era cortada por não ter sido paga,meu pai sempre dava um jeito de fazer gambiarras.
Minha mãe tinha boa condições de vida,chegou a comentar que a escola que estudariamos era pública,mas que o ensino era ótimo(o contrário da nossa antiga escola).Sua casa era bem decorada e grande, aconchegante e tranquila,talvez seja porque agora ela encontrou estabilidade num lugar aonde ninguém a julgue e nem saiba o seu passado.Sem contar que seu marido era um bom trabalhador que em suas palavras sempre deu ao seus filhos o do bom e do melhor,e que te ensinou que as melhores coisas compradas vem do dinheiro suado que você conquistou,Philip aparentemente é um cara bacana.
Agora, pouco importa o quanto eu quero descobrir sobre minha mãe,sobre seus filhos e seu marido,eu necessito de dormir para que amanhã eu possa tentar ser uma pessoa nova,ou mostrar para as pessoas daqui a minha bosta de personalidade.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha,tua abstinência
Teen FictionTodas as noites eles observam o mesmo céu e compartilham a mesma dor, sem saber. Por fora sorrisos e brincadeiras, mas por dentro nada além de amarguras e feridas.