3 - A Fuga

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Júlio sabia que não teria muito tempo. À medida que o elevador descia ele trocava de roupa o mais rápido que podia. Talvez tenha sido a troca mais rápida em toda a sua vida. E valia sua liberdade. Assim que o elevador privativo chegou ao estacionamento ele já estava pronto.

Saiu do elevador e já foi acionando o controle remoto do alarme do carro e quando o carro destravou entrou em seu carro, acionou o motor e saiu. Parou no portão do estacionamento, e desesperado não conseguiu achar o controle remoto do portão. Parou para respirar um pouco e lembrou que estava guardado no porta-copos, próximo ao acendedor. Era onde guardava algumas moedas também.

Rapidamente apertou o botão e o portão começou a abrir, lentamente. Era incrível como quando se está com pressa fica parecendo que o resto do mundo se torna mais lento. Foi exatamente isso que Júlio pensou enquanto o portão abria.

— Finalmente! — Comemorou.

Ao sair do estacionamento Júlio não sabia o que faria a seguir. A sua vida tinha ruído completamente. Poucas horas antes estava em uma festa, onde inaugurava o maior empreendimento de sua vida. Estava feliz com sua esposa Talita. Agora estava fugindo, possivelmente acusado de ter matado a mulher de sua vida. Será que construíra sua vida como um castelo de cartas? Bastou um vento para derrubar tudo? Não acreditava nisso.

Não se permitia agora nem mesmo a chorar a perda dela. Mesmo não lembrando do que fizera quando saíra da festa e chegara em sua casa nunca poderia ter feito aquilo com Talita. E ela mesma acusou outra pessoa.

— Vou encontrar o desgraçado que fez isso a ela e acabou com minha vida. Eu prometo, Talita. Vou te vingar. Juro por tudo o que me é mais sagrado, que vou levar o safado a Justiça. Ou morro tentando. De preferência mato primeiro.

Viu que tinha esquecido o celular, mas isso era o menor de seus problemas. Precisava falar com seus pais. Júlio e seus pais eram a única família que ela tinha. Perdera os pais cedo e o resto da família sempre fora muito distante. Eles precisavam saber do acontecido por ele... não pela imprensa, muito menos pela polícia. Iriam distorcer tudo. Apesar que nem mesmo ele sabia direito o que havia acontecido.

O carro. Era seu meio de fuga, mas não poderia usar por muito tempo. É evidente que a polícia iria procurar o carro. Brasília era grande e havia SUV aos montes, mas não poderia contar com a sorte. Depois do que havia lhe acontecido, sorte não seria um trunfo seu. Precisava esconder o carro, antes mesmo de se esconder.

Procurou sair do Plano Piloto e foi rapidamente a uma das cidades satélites, Taguatinga. Lá achou uma locadora de veículos que fica aberta aos domingos, de plantão, e fez um negócio da china... para o dono da loja, é claro. Deixou o seu SUV novo, do ano, e locou um carro usado, de uso comum. A única coisa que tinha de bom era insufilm nos vidros e ar condicionado.

Parou em seguida em um shopping popular que também abre aos domingos e entrou em uma loja de celulares, comprando um daqueles antigos, baratos, que não tem como ser rastreados facilmente. E sabia que estava no Brasil. Ainda iria demorar um pouco para lhe rastrearem. E de qualquer forma pagou a dinheiro. Em sua carteira ainda tinha uma soma considerável. E iria precisar muito. Precisaria evitar usar o cartão, o máximo que pudesse.

Saiu de Taguatinga e foi para Ceilândia, onde achou um pequeno hotel e se instalou.

Ali ele iria ficar por pelo menos por um dia e finalmente colocar a cabeça no lugar. Pensar no que poderia ter acontecido.

Olhou para o celular, discou o número do celular do seu pai...e apertou o botão de ligar.

Morte na MadrugadaOnde histórias criam vida. Descubra agora