Parte 3

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Anahí

A cirurgia parece interminável.Estou exausta.Não sei como os médicos tem energia para continuar.Eles continuam ali,de pé,parados,mas é como se aquilo fosse mais difícil  que correr uma maratona inteira.

 Começo a desviar minha atenção e a me questionar sobre qual é o meu estado.Se não estou morta-e o monitor que acompanha os batimentos cardíacos continuam apitando,então suponho que não morri-,mas não sou eu quem está no meu corpo,então, será que posso ir para outo lugar?Sou um fantasma?Será que consigo me transportar para uma praia no Havaí?Será posso aparecer do nada no show da  Lady Gaga?Posso ir até onde a Alice está?

 Só para tentar fazer uma experiência,tento mexer o meu nariz com Samantha em A feiticeira.Não acontece nada.Estalo os dedos.Bato os tênis no chão.Continuo aqui.Decido tentar algo mais simples.Caminho até a parede ,imaginando que vou atravessá-la e sair do outro lado.Mas,quando chego até lá,me choco contra ela.

 Uma enfermeira traz mais uma bolsa de sangue e,antes que a porta se fecha atrás dela,eu também saio.Agora estou no corredor do hospital.Há muitos médicos e enfermeiras com seus jalecos azuis e verdes passando de um lado para o outro.Caminho um pouco mais.Há uma fileira de salas de cirurgia,todas cheias de pessoas adormecidas.Se os pacientes que estão nessas salas como eu,enão por que eu não posso ver as pessoas fora de seus corpos?Está todo mundo perambulando por aí,como eu estou agora?Gostaria muito de encontrar alguém na mesma condição que eu.Tenho algumas  perguntas,como,por exemplo,qualé o estado em que me encontro exatamente  e o que devo para sair dele?Como posso voltar para o meu corpo?Tenho que esperar até os médicos me acordarem?Mas não tem ninguém ao meu redor.Talvez o resto das pessoas tenha descoberto como se transportar para o Havaí.

     Sigo uma enfermeira que atravessa uma porta automática.Estou em uma pequena sala de espera agora.A Jade e meus avós então aqui.Minha avó está falando com meu avô,ou talvez consigo mesma. É o jeito que ela tem de não deixar as emoções a dominarem,ela é prática por excelência,tanto que a maioria das pessoas jamais imaginaria que ela tem uma queda por anjos,e não só uma queda ,como uma coleção deles,ela acredita muitos em anjos.


16h26

Acabaram de me levar da sala de recuperação para a Unidade de Tratamento Intensivo ,ou UTI.Há duas enfermeiras que me observam ,além de uma ronda interminável de médicos.Um deles é um homem taciturno,rechonchudo ,tem cabelo loiro e bigode e como qual não simpatizo muito.E a outra é negra e tem a voz muito alegre,me chama de ''docinho''e não para de esticar as cobertas da minha cama,mesmo que eu não esteja fazendo praticamente nenhum movimento com o corpo para tirá-los do lugar.

 Há tantos tubos ligados em mim que não consigo contá-los:um ligado a minha garganta,respirando por mim;outro no meu nariz,e que mantém  o meu estomago vazio;um na minha veia,me mantendo hidratada;um na minha bexiga,fazendo xixi por mim;muitos estão em meu peito,registrando a minha pulsação.O  respirador que está cumprindo o papel da minha respiração tem um ritmo tão suave quanto um metrônomo:inpira,expira,inspira,expira.

 Ninguém,a não ser os médicos e os enfermeiros,veio me ver.Uma médica conversa com meus avós e jade .Ela diz a eles que meu estado é grave.Não tenho certeza do que isso significa-Grave.Na TV,eles dizem que o estado do paciente é critico ou estável.Grave soa como algo ruim.Grave,em inglês, significa ''Túmulo''.O lugar para onde você vai quando as coisas aqui não estão dando certo.

 Permaneço aqui,observando esse corpo entubado e sem vida que sou eu.Minha pele está cinza.Meus olhos,fechados com uma espécie de esparadrapo.Queria que alguém viesse tirá-los.Ele provoca coceira.A enfermeira legal aparece.Ela tem pirulitos no jaleco,embora aqui não seja a unidade de pediatria.

Como você está,docinho?-pergunta ela,como se estivéssemos acabado de nos encontrar,por acaso,no supermercado.


17h39

Agora tem uma porção de gente no hospital.Meus avós,Jade e Aaron,Meus pais e basicamente toda a Old magcon menos Shawn Mendes.Eles estão reunidos na sala de espera do hospital,não é a mesma sala pequena no piso do centro cirúrgico onde meus avós e Jade ficaram aguardando durante a cirurgia. É uma sala maior que fica no piso principal do hospital.Todos ainda conversam sussurrando,como que por respeito as outras pessoas que também esperam,embora haja apenas pessoas que eu conheça/ou conhecia...É tudo tão sério,tão sinistro...Volto para o corredor para dar um tempo.Fico extremamente feliz ao rever Jade,ela é tão divertida e engraçada que ela sempre tem de dizer ''estou brincando'' para as pessoas que não estão acostumadas com o seu senso de humor,ainda me pergunto se Alice será assim,provavelmente,seus pais são fora do comum.

 Dá para ver que Jade está aborrecida.Ela caminha rápido,mantendo uma distancia razoável das pessoas.Do nada ela grita.

PAREM!-Exige Jade-Se eu não estou chorando,não sei por que diabos vocês deveriam estar.

Mas-Retrucou minha mãe-Como é que você pode estar tão...-Soluça-Tão calma quando...

Chega!-Intervém Jade-Anni ainda está aqui.Então eu não vou me descontrolar.E,se eu não vou me descontrolar,vocês também não podem.

Amor,fica aqui,preciso caminhar um pouco.Volto logo.

Sigo Jade pelo corredor.Ela and apelo saguão principal,pela loja de presentes e vai até a lanchonete.Depois olha para a placa de informação do hospital.Acho que sei par aonde ela vai agora antes mesmo que ela própria saiba.Há uma capela pequena no subsolo. É abafado aqui,e silencioso como uma biblioteca.Jade desmorona em uma das cadeiras.Ela tira o casaco.

Amo o Canadá-Diz ela com um soluço e uma tentativa de dar risada.Pelo seu tom de sarcasmo,posso dizer que é comigo que ela está falando,não Deus.

Então isso é a ideia de um hospital para todas as religiões -Diz ela apontando para o redor da capela.Há um crucifixo pregado na parede,uma bandeira pregada com uma cruz cobre o púlpito e algumas pinturas de Virgem Maria e do Menino Jesus dependuradas na parede dos fundos-Temos até uma estrela de Davi aqui-Prossegue Jade,gesticulando na direção da estrela com seis pontas que está na parede-Mas e os Muçulmanos?Não há nenhum tapete de oração ,nem um símbolo para mostrar qual direção fica Meca?E quanto aos Budistas?Será que não conseguiram trazer um gongo?

 Sento-me numa cadeira ao lado dela.O jeito com Jade conversa comigo é tão natural como ela sempre fez.Com exceção da paramédica que me pediu para aguentar firme e da enfermeira que não para de perguntar como estou me sentindo,ninguém mais conversou comigo desde o acidente.Mas eles falam sobre mim.

 Eu realmente nunca vi Jade rezar.Na maior parte do tempo ela pega leve em relação à sua religião .Mas,depois de um tempo conversando comigo ,ela fecha os olhos, e murmura algumas palavras.Ela abre os olhos e esfrega as mãos uma na outra como se quisesse dizer: é o suficiente.Depois,ela reconsidera e acrescenta uma prece final.

Por favor,não morra.Até consigo entender que você tenha motivos para desejar isso,mas pense um pouco:se você morrer ,vamos ter aqueles funerais cafona,tipo o da Princesa Diana,e todo mundo vai colocar velas,flores e bilhetes como se você fosse realmente ler,em seu caixão,a Alice só terá um dindo mala,ela não terá a oportunidade de ter uma dinda que pergunte sobre os namoradinhos...-com o dorso da mão,ela enxuga uma lagrima que insiste em cair.-Sei que você odiaria esse tipo de coisa.

...

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