Derrubando os muros

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Jamais pare para refletir sobre a vida. Sua conclusão final a respeito dessa, pode ter efeitos devastadores sobre o seu psicológico. Não chegue à conclusão de que você é um ser inacabado, dentre outros bilhões, e que sua pequena passagem por aqui não fará diferença na humanidade. Não chegue à conclusão de que tudo será em vão porque um dia, qualquer dia, você irá morrer e o mundo não parará por isso. Você será apenas mais um.
Regina Mills era uma dessas pessoas que infelizmente tinha o constante hábito de refletir sobre a vida. E a cada um de seus desvaneios, progressivamente, ela chegava mais perto dessa terrível conclusão. Fato este ,que a tornara uma pessoa amarga, isolada e fria. A cada desvaneio, Mills construía mais uma parede, isolando-se das pessoas. Não literalmente. Ela isolava-se de sentimentos que a aproximavam de pessoas. Afinal, se nem sua própria mãe quis aproximar-se, por qual motivo ela se aproximaria das pessoas? Amor é fraqueza, certo?
Bem, ao constatar que sua verdadeira história não condizia com o seu pré-julgamento, e que na verdade sua mãe não havia a abandonado, fez com que a morena mudasse sua postura, todavia as paredes ainda estavam ali. Sua aproximação repentina com a família Swan, de certo modo, a fez aumenta-las no primeiro momento.
—Droga Regina! Porque permitiu que isso acontecesse?- a morena pensava alto em seu quarto. Desde a última noite, seus desvaneios haviam voltado de forma bruta, quando percebeu seus muros desmoronando.- Maldita seja, senhorita Swan!
Excomungar Emma não era nada lógico e Regina sabia disso, porém o que lhe restava fazer? A imensidão esverdeada estava ofuscando sua habilidade racional. Swan estava com uma marreta nas mãos, violentamente desmoronando suas paredes e de forma simultânea, iluminando suas penumbras. Aliás, a família Swan estava a mudando.
A morena revirava-se na cama, recordando o beijo responsável por ouriçar as borboletas, que outrora jaziam em seu estômago. O popular arrepio na coluna, até então desconhecido, deu o ar da graça naquele instante. Ela estava com medo do que tudo aquilo poderia significar, pois as circunstâncias desencadeavam uma única conclusão. -Não pode ser, droga!
Regina permanecia desinquieta, mergulhada num mar de sentimentos, quando ouviu batidas na porta de seu quarto...- Quem pode ser tão conveniente a uma hora dessas? - perguntou irônica. Estava cansada, irritada e impaciente. Por tal, simulou pernoitar. As batidas insistiam e ela nada fazia. A porta se abriu. Céus! Aquele perfume invadiu o ambiente.

—Ah, senhorita Mills, por que tem que ser tão dura? E ao mesmo tempo tão angelical?- A governanta deu graças por estar deitada, a proximidade fez suas pernas fraquejarem.

— Pena que não se lembra do que aconteceu ontem à noite. Pois eu me lembro muito bem. Tanto que não consigo tirar isso da minha cabeça. – Sim, ela lembrava perfeitamente e condenava-se internamente pela recíproca. Os passos estavam se afastando.
Mills passou tempo demais afastando-se. Perdeu tempo demais condenando-se. Usou tempo demais pensando. Ela realmente estava cansada de privar-se da felicidade. Sim, ela poderia não fazer diferença alguma para humanidade, sua morte não seria o suficiente para comover meia dúzia de pessoas. Mas qual seria o motivo de tudo isso? Porque estamos aqui? Porque nos arriscamos? Porque insistimos em sobreviver se já estamos fadados a morte? A resposta é simples. Felicidade . Todos os dias levantamos de nossas camas, colocamos o peito pra fora, com um único objetivo e expectativa: ser feliz. Senão por isso, então qual a razão de estarmos vivos?
Foi pensando dessa forma, em um misto de coragem e desespero, a governanta resolveu abrir seus olhos e enfrentar seus medos. Meio acovardada e cautelosa fingiu-se desentendida:
— O que faz aqui... senhorita Swan ?
—Oh, olá senhorita Mills... Perdoe minha intromissão? É que... Bem, não tive notícias suas no decorrer do dia e fiquei preocupada, por causa do que lhe aconteceu ontem a noite, e então resolvi vim ver como estava, mas a porta... – Emma falava rápido , notoriamente nervosa, balançando os braços e fazendo gestos com as mãos, enquanto a morena apenas assistia divagando na beleza que eram os olhos da loira. De repente, silêncio.
A governanta levantou, ajoelhando-se na cama. Trajava apenas um short minúsculo de algodão e uma camiseta da banda AC/DC, tão pequena quanto short. Ela percebeu quando os olhos da advogada, de maneira nada discreta, passearam pelo seu corpo por pequenos instantes, pois logo seus olhos se encontraram novamente. Aliás, importante ressaltar que seus olhares sempre se encontravam.
Desejo. O desejo pairava sobre ambas, num clima tenso repleto de luxúria. Elas se encaravam de maneira selvagem e apaixonada. Se devoravam, se admiravam , se deliciavam apenas com o olhar. Mas também se desafiavam. Um jogo, pra ver quem se renderia primeiro. Jogadoras fortes. Sustentavam o olhar. O coração de Regina, pobre coração, estava descompassado e ansioso pelo que logo viria.
Sem quebrar a conexão visual, Swan caminhou a passos fortes e decididos, rumo ao que desejava. De maneira firme e decidida, enlaçou cintura de Mills, trazendo a para um beijo feroz.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora