— Não se pudermos impedi-lo novamente — Lucy aumentou a energia do colar, fazendo-o gemer de dor.
— ESPERRE, menina! Vamos fazerr um acorrdo. Vou levá-la até ele e você poupa minha vida. Não vivi duzentos anos prra acabarr assim.
— Você está MORTO, vampiro. O homem que você foi não existe mais. Apenas um ser asqueroso que rasteja nas sombras em busca de vítimas inocentes.
— Fala com nojo nas palavrras, mas também não é diferrente de mim, moça.
— Sou diferente, sim. Não sou vampira como você. Posso escolher controlar minha natureza. Posso escolher não ser um verme repugnante.
O monstro, num esforço sobrenatural, rastejou em alta velocidade e agarrou a perna de Lucy derrubando-a no chão. Na queda, ela soltou o controle, que atingiu o solo e espatifou-se, libertando imediatamente o demônio de seu poder. Ele livrou-se do colar e atacou a jovem, agarrando-a pelo pescoço. Ela era vampira, mas sua força não se igualava à do oponente. O rosto dele se contorceu, esticando, transformando-se num ser ainda mais abominável cujo objetivo era dilacerar o pescoço da garota. Aproximou cada vez mais suas presas da jugular de Lucy. A saliva pútrida escorrendo-lhe da boca, exalando o hálito da morte. Súbito, sentiu alguma coisa atingindo suas costas. Em seguida, viu a flecha saindo de seu peito. Uma flecha com um brilho violeta.
— Mas o que é isto?! — exclamou ele, farejando o ar e virando-se, surpreso. Arregalou os olhos vermelhos ao reconhecer o cheiro de quem o atingira. Conhecia-o bem. Era, porém, um cheiro mais doce, suave... e desejável! — Onde está a boa e velha estaca de madeirra, Van Helsing?
— Os tempos são outros. Estamos no século 21, querido! — disse uma mulher de cabelos castanho-claros presos num rabo de cavalo. Empunhava um arco. Ela sorriu para Lucy e piscou-lhe um olho enquanto o vampiro caiu no chão e começou a se contorcer. Por um instante, seu corpo se assemelhou a papel em brasa, consumiu-se até ficar negro e desintegrou-se, virando cinza em reação à luz ultravioleta que se expandiu da flecha e o envolveu. Em segundos, o monstro noturno desapareceu num grito de angústia.
— Droga, Sarah! Ele ia me contar onde está Drácula. Você é mesmo uma figura, hein, bonitona! Intrometida!
— Um "muito obrigada, Sarah Van Helsing" seria pedir muito, menininha arrogante?
— Ah, corta essa! Sou mais velha do que você, caçadora! — replicou Lucy, irritada.
— Humpf! Não parece. Está mais para uma pirralha mimada. Pare de reclamar, domme meisje!!
— Poupe-me de seu romeno!
— Discutindo de novo? Quando vocês duas vão se entender?
— CALE A BOCA, JOHN! — retrucaram as duas moças olhando para John Drake, irmão mais novo de Lucy, embora tivesse agora 47 anos — e aparentasse ter mesmo essa idade. Afinal, apesar de ser descendente direto do Conde Drácula, John era apenas humano. Assim como Lucy também era... até o acidente trágico daquela véspera de Natal de 1976. Acidente que a deixara para sempre com 17 anos.
— O que descobriu sobre o vampiro? — perguntou John, aproximando-se de Lucy e conferindo as feridas provocadas pelo demônio. A pele da irmã sangrava com os arranhões e cortes no rosto, braços e pescoço, mas, súbito, os ferimentos foram desaparecendo e deixando a pele lisa e sem nenhuma cicatriz. — Nunca vou me acostumar com isso, maninha!
Lucy piscou-lhe um olho e sorriu. Então disse:
— Aquele verme era esloveno. Fiquei meio grilada com o papo dele. Disse que Drácula está reunindo uma legião de vampiros e parece estar tramando um plano sórdido, mas fiquei boiando... De que está rindo?
— De seu linguajar, maninha. Você usa expressões tão fora de moda!
— Não pra mim! Você é que está sendo um coroa chato. Nem parece meu irmãozinho!
— "Coroa"? Ha, ha, ha! Ah, querida Lucy, quantos anos completou mesmo? 57? Quem é o coroa aqui?
— 57?! Como estou velha! Credo! Nunca vou me acostumar com isso. Ainda me sinto com 17 anos — resmungou Lucy torcendo o nariz. — Deixe pra lá. Hã, e então, sobre o vampiro, ele mencionou que essa legião de Drácula está com uma "Fome Voraz". Sabe do que se trata, John?
— Creio que nosso adorável Conde esteve escondido em sua terra natal durante anos, no Leste Europeu, recrutando vampiros. Vampiros têm fome. E humanos são seu alimento favorito. Humm... tempos sombrios pela frente, pessoal.
— Sério? — perguntou Sarah, dobrando seu sofisticado arco e fixando-o às costas. Lucy apenas encarou a mulher e franziu a testa. — Achei que já estávamos vivendo em tempos sombrios.
— Sem ironia, minha querida. Bem, vamos embora. Jonathan Harker III precisa saber que Drácula voltou à Inglaterra e não está sozinho. Agora sabemos o que vem causando todas essas mortes misteriosas nas últimas semanas. Elas não têm nada a ver com atentados terroristas.
CONTINUA...
"Menina tola!"
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LUCY DRACO: Sede de sangue
VampiroLUCY DRAKE era uma garota inglesa de 17 anos morando no Brasil. Ela amava dançar, curtir músicas do ABBA, Bee Gees, e se divertir em São Paulo. Vivia feliz com sua família: o pai, um professor inglês, a mãe brasileira e o irmão caçula, John, de 7 an...