Dead Memories - Parte 3

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Curiosamente, aquele mesmo copo arroxeado, o qual mantinha em mãos, havia sido arremessado bruscamente em direção ao chão, caindo no solo ruidosamente e rolando por intermináveis segundos sobre os ladrilhos monocromáticos, enquanto considerável quantidade do líquido carmesim, que o preenchia anteriormente, escorria por entre as pequeninas valas existentes naquele piso já manchado por tantas colorações de vermelhos diferentes.

Tão semelhante a sua própria situação.

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O pequeno corpo debatia-se fortemente.

Os rubis, evidentemente saltados para fora, quase totalmente apagados, perdiam seu brilho gradualmente, a face, assolada em um puro desespero, e o sangue, jorrava em tal quantidade que o menino chegava a sentir fortíssimas vertigens apenas com a visão dos vários litros do líquido carmesim escapando de dentro de seu pescoço quase arrebentado, como se não bastasse a sensação dolorosa de ter pontas soltas de arame farpado perfurando sua pele impiedosamente.

Impaciente com toda sua movimentação incessante, o homem que o agarrara por trás colocara mais força no aperto em volta de seu pescoço, obrigando-o a parar de remexer-se tanto, pois se não o fizesse, machucaria-se mais ainda, o que funcionara, já que o pequeno parara de se agitar quase completamente quando sentiu o sangue subindo por sua garganta até a boca, obrigando-o a cuspi-lo pra fora, manchando seus delicados lábios, que, outrora, eram beijados suavemente, mas que agora eram manchados com o vermelho vivo, que ao ser eliminado escorria até próximo à região onde era enforcado.

Com o tempo, sua voz morrera completamente, tanto graças à quantidade desmedida do fluído magenta que se acumulara onde suas cordas vocais localizavam-se, quanto pelo fato de não lhe restar mais forças para dizer qualquer coisa, sendo praticamente impossível produzir qualquer som além dos incógnitos murmúrios e gemidos de lamentação extrema, como se implorasse num último suspiro para que aquilo se encerrasse o mais rápido possível, para terminar logo com seu sofrimento.

Estava muito perto de perder a batalha para a inconsciência, não conseguiria aguentar mais muito tempo, seus olhos estavam começando realmente a pesar, sequer movia-se mais, qualquer esforço seria inútil, seus membros e seu torso pareciam simples extensões inúteis de si mesmo, já que sequer os sentia, na verdade, eles assemelhavam-se mais a pedaços de uma criatura morta ao serem arrastados morbidamente por seu assassino pelo extenso corredor, como um verme rastejando-se para sobreviver.

Agora, fazia esforço unicamente para manter-se acordado, pois era a única coisa que podia fazer de qualquer maneira.

As fortes mãos enluvadas, em certo ponto, afrouxaram-se, finalmente, de maneira considerável, passando a puxar somente os arames que se penduravam em seu pescoço, para conduzir o pequenino corpo já extremamente pálido e sem vida pelo corredor sombrio e arrepiante. Até que, em dado momento, uma das palmas soltara-se do instrumento afiado, apenas para empurrar vagarosamente a porta enferrujada e velha que dava acesso à sala denominada apenas como: ''Partes e Serviços''.

Foxy, que ainda se encontrava estirado ao chão, conseguiu sentir-se pior ainda.

Seu olhar, estático. Seu corpo, paralisado. Desde que focara sua visão naquela cena sangrenta simplesmente não se mexera um centímetro, parecia ter esquecido-se de como se respirava. Seu mundo havia parado de um instante para outro, e, agora, ele assistia de camarote a prematura morte de seu amigo, uma crueldade que não fora sequer capaz de impedir.

Sentia-se impotente, sentia-se um fracassado, um perdedor, alguém que não podia proteger o próprio companheiro do desencarne certo. Como pudera errar tanto? Se tivesse ido atrás dele naquele dia, toda essa tragédia que recaíra sobre eles talvez pudesse ter sido evitada, e hoje, estariam um ao lado do outro, vivos, crescendo e aprendendo, não residindo em carcaças robóticas maltratadas e desgastadas, enquanto cada um se encontrava, não em lados opostos do mesmo palco, mas sim, em palcos diferentes, o que era ainda mais solitário, principalmente para a raposa, sempre isolado de tudo e todos dentre suas cortinas arroxeadas.

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⏰ Última atualização: Apr 27, 2017 ⏰

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