"Minha mãe sempre dizia: a vida é como uma caixa de chocolate. Você nunca sabe o que vai encontrar" – Forrest Gump
[Henrique]
Acordo com o barulho de meu celular despertando em cima da mesa de cabeceira. Tateio com a mão até acha-lo e trago o objeto até a altura do rosto. São sete horas da manhã. Em pulo, salto da cama e vou direto para o banheiro tomar um banho fresco. A água está fria, mesmo que o clima peça por uma ducha quente, dou continuidade em meu ritual diário, era necessário, isso me manteria ligado e desperto durante as atividades matutinas.
Saio do box com uma toalha enrolada na cintura e minha pele se arrepia com a corrente de ar frio que corre pelo quarto. Embora não possa ficar irritado com a situação, pois a culpa era minha por escolher morar na cobertura de um dos prédios mais altos e caros de São Paulo, não posso reclamar. Outro fator irritante, é a grande janela de vidro que há em meu quarto, que está de frente para a enorme cama kig size, a qual as cortinas cobrem, por onde uma brisa fria entra facilmente, devido minha estupidez ao esquecer de fecha-la durante a noite. Caminho até a janela e a fecho. Fico durante alguns segundos observando a paisagem do lado de fora, o céu cinza como se revelasse seu humor, não demonstra nenhum resquício de que irá permitir a nós, meros mortais, a visão e o calor dos raios solares que se expandem logo acima da nuvem de poluição produzida pela cidade.
Os veículos lá embaixo, tão pequenos quanto baratas a minha visão, se espremem e formam uma confusão na grande avenida que já se encontra movimentada a essa hora do dia. Retiro a toalha e jogo-a sobre a cama enquanto vou até o closet procurar por uma roupa. Visto-me em poucos minutos, calço meus tênis, apanho meu celular sobre a mesa, plugando os fones de ouvido e o coloco no bolso do casaco moletom. Pesco a chave do apartamento em meio as demais e saio trancando a porta. Entro no elevador privativo e espero até que o mesmo abra no andar recepção. Cumprimento José, um dos porteiros do edifício, e coloco os fones nos ouvidos assim que piso do lado de fora na rua.
Sempre corro todas as manhãs, não importa se estou doente ou lotado de compromissos, minha corrida matinal é religiosa, todo dia e no mesmo horário. Depois de quarenta minutos de corrida, paro para tomar um pouco de água quando a música que toca em meu celular é interrompida e entra outra em seu lugar evidenciando uma chamada recebida. Retiro os fones e deslizo o dedo na tela para atender a ligação.
-Hola, Morales? (Alô, Morales?) -diz a voz feminina do outro lado.
-Sí, soy yo. (Sim, sou eu mesmo) -respondo rolando os olhos para o óbvio.
-Yo sé que eres tú, tonto. Aquí es Elena. (-Eu sei que é você, bobo. Aqui é a Elena.)
-Buenos días, de la Vega. Lo que hace que despierta a esta hora, mujer? (Bom dia, de la Vega. O que faz acordada a essa hora, mulher?) -pergunto sorrindo, já sabendo a resposta petulante que irei receber em seguida.
-Ir a recogerlo, Morales! Alguien de aquí tiene que trabajar. (Vá te catar, Morales! Alguém aqui tem que trabalhar.) -ela responde nervosa fazendo-me rir.
-Mas falando agora sério, precisamos conversar. -Elena continua agora em um tom mais sério.
-O que há, Elena? Algum problema no colégio? -pergunto enquanto sigo o percurso de volta para meu apartamento.
-Não, quer dizer, o problema não é esse em si. Entretanto não gostaria de conversar sobre o assunto por telefone. Você pode vir até a cidade? Eu realmente prefiro tratar sobre isso pessoalmente com você. -Elena parece insegura ao dizer.
-Hum, eu não sei não, Elena. Isso está me cheirando a armação da dona Josefina. Ela te pediu para fazer isso? -indago um tanto desconfiado de suas reais intenções.
Por mais que isso não seja do feitio de Elena, não duvido nada que minha mãe tenha feito sua cabeça. Não, não... Elena é de longe uma pessoa fácil de se manipular, é o que penso comigo mesmo.
-Henrique, eu falo sério. Por mais que esse seja um grande desejo de sua mãe, eu não o traria até Belo Horizonte por um capricho dela. -ela me repreende um pouco ríspida.
Suspiro um tanto resignado e pondero a respeito do assunto.
-Você sabe que eu não posso, Elena. Tenho muitas coisas para fazer aqui que me impedem de sair de São Paulo. -dou-lhe a desculpa de costume.
-Que droga Henrique, eu não estou te pedindo para mudar para Minas. E você pode muito bem sair por uns dias sim, porque você é a droga do dono dessa merda toda! -ela se irrita de repente e eu posso ouvir pelo telefone o som de seus saltos batendo com força contra o chão do outro lado da linha.
Elena está certa, sou o dono de uma grande rede privada de educação, o Instituto Educacional Antônio Morales. Eu sou meu próprio chefe, não preciso da permissão de um superior para ir e vir de lugar algum, entretanto no momento não estou com muita disposição para sair do meu confortável apartamento, quanto mais da cidade. Contudo isto é trabalho, e eu faço qualquer coisa por meu patrimônio, que carrega o nome do meu pai em homenagem ao homem honrado e amoroso que ele foi.
-Está bien, chica. (Ok, moça.) Eu irei para Belo Horizonte na semana que vem. Só tenho que ajeitar umas coisas por aqui, e estarei aí em poucos dias. -decido-me por fim.
-Gracias, Morales. (Obrigada, Morales) Estarei te aguardando na segunda. Precisa que eu te busque no aeroporto? -ela indaga solicita.
-Não será necessário, Elena. -respondo já no elevador.
-Vai ficar na casa de sua mãe ou irá para um hotel? Posso te dar uma carona. - ela oferece.
-Vou ficar em algum hotel. Não precisa se preocupar, já fui a BH muitas vezes para visitar minha mãe, conheço a cidade como a palma da minha mão, sei me virar.
-Então, tá. Tchau, Henrique.
-Adiós, Helena. (Tchau, Helena)
Desligo o celular e o jogo sobre a mesa de vidro que há na cozinha. Será uma viajem rápida, penso comigo mesmo. Irei para resolver qualquer que seja o problema de Elena, darei um beijo em minha mãe e voltarei para São Paulo o mais rápido possível. Bem, será uma coisa fácil de se fazer, eu pondero mais tranquilo. E com esse pensamento é que eu me convenço de que tinha tomado a decisão certa pelo resto do dia.
Mas se ao menos eu soubesse metade do que aconteceria mais a frente, eu certamente nem teria pensado em sair de casa nos dias que viriam a seguir.
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Um Namorado para Mamãe-Degustação
Chick-Lit[livro 1] Ana Júlia Veloso é uma jovem mãe viúva de apenas 31 anos, que luta para dar a melhor vida possível para sua filha Alice. Alice é uma adorável garotinha, dona de um incrível charme que envolve desde sua linda pele negra e olhos verdes, até...