18. Outra pessoa

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Entreguei o trabalho do Sr. Baldocchi e segui para a biblioteca. O próximo horário era vago, de modo que me sobrava tempo para colocar as matérias em dia. Cheguei ao pé da escada e fiquei olhando para os degraus. Seria difícil subir com o pé engessado e essas muletas pesadas. Mas eu tinha que tentar.

Minha sorte era que os degraus eram largos, assim a muleta não corria muito o risco de escorregar e me fazer cair para trás.

Consegui subir três degraus mas no quarto eu me desequilibrei e meu corpo fez um impulso para trás. Não deu nem meio segundo e eu senti uma mão firme em minhas costas.

- Ah! James, obrigado.

- Precisa tomar mais cuidado. – ele disse. – Vou te ajudar, vem. – ele pegou minhas muletas e a colocou no braço, e estendeu seu braço esquerdo para que eu me segurasse.

Quando chegamos em cima, senti sua mão me prensando com mais força contra seu corpo.

- Obrigado, e desculpe se atrapalhei você.

- Que nada! – ele disse, sorrindo. – Marquei de fazer um trabalho com o pessoal do time na biblioteca.

Entramos juntos na biblioteca, ele ainda com os braços ao redor da minha cintura. De longe avistei a mesa em que o time estavam sentados. Por baixo de seu ombro, vi Miguel com os olhos paralisados em nós. Apenas fingi que não sabia da presença dele ali.

- Preciso ir linda, se precisar de ajuda pra descer, só me chamar. – apenas sorri e peguei minhas muletas do seu braço, ele depositou um longo beijo em minha bochecha e saiu. Fiquei vermelha e envergonhada, não pelo beijo, e sim por saber que Miguel tinha visto isso.

Eu só não entendi porque estava me importando com o que ele via ou deixava de ver. Talvez o nosso beijo tenha me afetado mais do que eu pensava.

Me dediquei em terminar o trabalho de historia ainda hoje, antes de pedir ao Joshua que viesse me buscar.

- Boa tarde, lugar vago?

- Que susto! Benjamim! Você ficou maluco?!

- Também senti saudades. – ele se sentou ao meu lado. – Como vão nossa pesquisa?

- Nossa? – perguntei me lembrando de sua existência. – No momento meu foco é o trabalho de história.

Ele permaneceu tenso.

- Falei algo de errado? – perguntei.

- Mais ou menos. Quanto mais tempo passamos sem descobrir como desbloquear sua mente, mais você vai se esquecendo do que lhe contei e...de mim.

- Eu não vou esquecer de você, nem daquele dia que você me levou...espera, pra onde você me levou mesmo?

- Viu! – ele parecia frustrado. – Você não se lembra que lhe levei para voar.

- Ok, está ficando tudo muito bizarro, toda essa historia, e ainda mais os flashback com o Miguel, a minha cabeça está...

- Espera. – ele me interrompeu. – Você disse flashback?

- É... – fiquei olhando para o papel. – É complicado de explicar, talvez você me ache maluca, mas quando eu e Miguel nos beijamos eu senti como se uma corrente elétrica passasse pelo meu corpo, e por favor não fale que isso é amor porque esse lance clichê é com a Mia e não comigo.

- Quero detalhes. – ele parecia bem interessado.

- Teve também a vez em que ele foi na minha casa, antes do acidente, e quando olhei em seus olhos meio que... – forcei minha mente para tentar lembrar. – meio que tive um apagão, por alguns segundos.

Como AnjosOnde histórias criam vida. Descubra agora