Capítulo 2

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Hoje, sábado, há uma festa na casa de uma amiga minha, que já tinha vivido cá, mas quando os pais arranjaram trabalho no Porto não exitaram em fazer as malas e partir para norte. Ainda quiseram vender a casa da capital, mas a Catarina conseguiu convenceu-los de que seria útil. Iria á festa metade da escola, inclusivamente eu, começava perto das 19 horas e já conseguia imaginar toda a malta "social" entrar pelo casarão, sendo que a maioria não devia nem imaginar quem era a Catarina, estavam ali porque um amigo convidou um amigo que convidou um amigo que convidou um amigo que o convidou a ele, espalhar-se-iam por todas as divisões cada um com um objetivo diferente para aquela noite.
Os meus pais mal me ouviram falar sobre esta festa pelo que quando pedi autorização apenas abanaram a cabeça positivamente.
Comecei a abrir o meu guarda-roupa perto das 18 horas porque já sabia a confusão que seria, tirei grande parte da roupa para cima da cama e observei toda a confusão formar-se como uma enorme bola de nesegundos.ma do colchão. Por fim, decidi vestir algo básico, nada muito chamativo, com cores apagadas e discretas, com que me sentisse confortável.
Despedi-me dos meus pais abrindo um pouco a porta do escritório e ambos sorriram e disseram um adeus com os lábios atarefados de mais ao telemóvel. Andei calmamente, sabendo que provavelmente chegaria atrasada, mas não me quis ralar, andei durante alguns minutos, a casa dela ficava perto e sabia que estava no local certo ao começar a ouvir a musica ao fundo a tocar descontroladamente. Cheguei lá num ápice, e já imensas pessoas ali estavam, a Catarina tinha-se esmerado estava tudo super arrumadinho, tudo o que era de valor ou se podia partir tinha sido retirado pelo que existiam imensos vazios na parede dos quais me recordava estarem ali pendurados quadros, na sala estavam os dois sofás pretos que já me eram familiares, as 'pistas de dança' estavam cheias de pessoas que dançavam empurrando-se umas ás outeas sem se ralar, riam, gritavam e falavam. Para andar no corredor ia contra as pessoas e até conseguia sentir os perfumes e ler o pensamento no olhar de alguns.
Procurava freneticamente pela minha amiga enquanto passava por pessoas que dançavam animados e também eu me balançava ao ritmo da música, finalmente na cozinha consegui encontrar a rapariga.
- Catarina!
- Júlia! - Disse largando o seu copo de plástico e vindo ao meu encontro abraçar-me.
- Estás linda! - Disse-lhe enquanto observava o seu vestido azul.
- Tu também estas fabulosa! Queres beber qualquer coisa?
- Depende, o quê?
- Eu vou-te fazer uma bebida espetacular! - Enquanto isso já estava com uma garrafa na mão e de seguida misturou 3 coisas diferentes no meu copo. - Bebe, vais adorar.
Eu ri-me e enquanto isso alguém a puxou para outra divisão da casa, molhei os lábios na minh bebida e senti o aroma adocificado e a ardor na boca, fui balançando-me com o ritmo da música até à sala onde se concentrava mais gente, na esperança de encontrar alguém conhecido.
Fiquei perto do sofá enquanto dançava e bebia ao mesmo tempo, de imediato reconheci o grupo que se sentava no sofá, o grupo por que passara e invejava. Fiquei a olhar para eles mas decidi afastar o olhar podendo eles pensar que os perseguia, fui para perto de um canto da sala onde encontrei alguns conhecidos e dançamos.
- Já viste a Helena? - perguntou-me a rapariga de olhos pretos da minha turma com quem dançava.
- Não, não tenho a certeza que ela tenha vindo.
- Disseram-me que sim. - disse fazendo uma pausa pra um gole na sua bebida - Acho que o namorado dela vinha cá ter com ela.
- Nao sei... - respondi encolhendo os ombros.
Mas por dentro pensava em como ela se devia estar a sentir sozinha pela festa e que mais uma vez lhe deve ter dado uma tampa, queria estar lá para a apoiar...
Ao olhar de relance para o sofá preto, vejo um rapaz fazer-me sinal, faço uma cara confusa e aponto para mim, ele abana a cabeça positivamente, vou ate perto dele e baixo a cabeça ao seu nível para o conseguir ouvir.
- Queres-te sentar connosco?
- Ahh... Sim, porque não. - Respondo um tanto confusa, mas dou a volta e sento-me perto do rapaz que me convidou, usava um cabelo para o lado e tinha os olhos um pouco rasgados, não conseguia ver-lhes a cor, devido às luzes da sala.
Fiquei ali sentada apenas a ouvir a musica enquanto me abanava sorrindo, o grupo falava aos ouvidos uns dos outros devido ao som da musica, alguns olhavam para mim e sorriam mas não conseguia compreender se faziam troça ou se apenas estavam a ser simpáticos.
- Como te chamas? - Pergunta-me ao ouvido o rapaz que me chamou para o sofá.
- Júlia e tu? - "Gritei" de volta ao ouvido dele.
- Sérgio. Foste tu que passas-te por nós na escola ontem?
- Sim, fui eu - Disse acabando por me começar a rir.
- Andas em que ano?
- 10º Humanidades e tu?
- 11º Economia.
- Como é que conheces-te a Catarina? - Perguntei-lhe enquanto dava mais um gole na minha bebida.
- Quando eramos mais putos fumávamos às escondidas as beatas que os pais dela e os meus deixavam nos cinzeiros. - Conta-me o rapaz enquanto se ri.
- A Catarina? A fumar? - Perguntei impressionada enquanto nos riamos juntos.
- Podes não acreditar, mas sim.
- Vens? - Perguntou uma rapariga de cabelo ruivo para o Sérgio.
- Vou.
Levantou-se e seguiu a ruiva pelas escadas de madeira da casa, eu fiquei sentada no sofá com mais duas pessoas que pertenciam ao grupinho. Eu fiquei a observar as pessoas que andavam pela sala, conseguia sentir a falta de autoestima de uns, a ganância e a inveja pairavam no ar, queriam ser cada um melhor que os outros exigindo as suas mais belas fatiotas. Dava alguns goles na minha bebida enquanto pensava na Helena, e no seu namorado.Enquanto me perdia nos meus pensamentos, senti uma mão no meu ombro, uma mão masculina.
- Não queres vir connosco lá para cima? - Perguntou-me o sérgio que estava gélido.
- Posso ir... - Respondo apreensiva enquanto me levanto e o sigo até ao primeiro piso.
O Sérgio entra na primeira porta á esquerda, onde me lembrava ser o quarto dos pais da Catarina. Assim que abro a porta uma nuvem de fumo bate-me na cara fazendo-me tossir e o resto do grupo rir.
- O que é que estão aqui a fazer? - Pergunto enquanto me sento na cama, onde estão duas raparigas e um rapaz sentados que fumam algo que eu desconheço, podendo na minha ignorância deduzir que fosse um cigarro. Eles ignoram a minha pergunta como se o que eu perguntei não fosse digno de uma resposta por tão ignorante.
- Queres? - Pergunta a rapariga ruiva estendendo-me o cigarro.
- Eu não fumo, obrigada. - Respondi olhando a cara da rapariga que se começa a rir.
- Eu também não - disse-me piscando o olho.
- Não, a serio...
- É uma festa, não sejas cortes Júlia. - Disse-me o Sérgio com o cigarro na mão.
Por momentos ponderei a situação enquanto olhava para a cara do Sérgio e de toda a gente naquela sala que me olhava na espectativa, olhei para o cigarro e não podia ser nada de mais, num impulso puxei o cigarro segurando-o pelo filtro e puxei durante uns segundos, tinha um sabor tão forte que me fez cuspir todo o fumo e tossir a ponto de pensar que me sairia os pulmões pela boca. O grupo riu-se de mim, continuando a passar o cigarro. Dando uma volta por todos, acaba por chegar a mim que dei dois "bafos" como eles diziam e passei, o sabor estranho no inicio tornava-se bom no final. Ao fim de passar por mim 5 vezes, disseram que podia "matar", ou seja, podia fumar e apagar o cigarro.
Ao fim de uns minutos começo a sentir os olhos pesados e consequentemente fico com sede pelo que agarro na minha bebida que estava em cima da cómoda.
- Então o que achas-te? - Perguntou-me o Sérgio que ficou com os olhos completamente vermelhos.
- Nunca tinha fumado, não achei nada de especial.
- Ainda não viste nada, Miúda. - Disse enquanto se deitava de barriga para cima sobre o tapete branco.
Não percebi o que ele queria dizer com tal coisa, mantive-me sentada em cima da cama enquanto olhava para a porta encostada, e sem me conseguir controlar começo-me a rir sem conseguir parar, a ruiva e o rapaz sentados em cima da cama olham para mim e riem-se comigo, gerando uma união de risos abafados pela música estridente que se abatia contra as paredes da casa.
Sentia-me completamente relaxada, todos os músculos pendiam para o seu lado e estava em paz, não queria saber do que se passava lá em baixo, muito mais se se estavam a divertir mais ou menos que eu, porque eu poderia ficar assim para sempre, com um sentimento único de harmonia. Os meus olhos pesavam, fazendo-me fecha-los e esfrega-los na tentativa daquela sensação passar.
Cheguei-me perto do Sérgio que estava deitado no chão e deparo-me com ele a olhar para o teto perplexo, super concentrado. Num momento de lucidez pensei que seria impossível existir apenas tabaco naquele "cigarro" não me deixaria assim, caso assim fosse notaria que a minha tia que fuma um maço por dia estaria diferente.
- O que era aquilo? - Perguntei enquanto ficava de joelhos perto do meu conhecido.
- Erva, o que haveria de ser. - Disse acabando por se rir.
- O quê?! Não pode ser... O quê?! - Gritei enquanto andava de um lado para o outro com as mãos na cabeça.
Como assim eu tinha consumido droga sem saber?! Como assim? Erva? Cannabis? Como podia ter sido tão pateta a esse ponto? Que ingénua Júlia.
- Como é que não te apercebes-te? - Perguntou-me levantando-se, enquanto todos os outros riam e conversavam animadamente.
- Eu nunca tinha fumado se quer um cigarro. Como é que isto foi acontecer?
- Relaxa miúda! Não é nada demais, daqui a uma hora ficas bem. - Tentou acalmar-me o rapaz.
Sentia o meu estomago às voltas e uma desejo terrível de algo doce, a minha boca estava seca como um deserto, as minhas pernas bambas e uma corrente de ar parecia levar-me para onde eu queria, fazendo-me sentir livre. De repente sou puxada escada a baixo pelo Sérgio que nos encaminha para o centro da sala onde toda a gente está a dançar, juntamo-nos ao resto do pessoal que ele conhece e dançamos. Deixo-me levar, a minha cabeça não pensa em nada, simplesmente se preocupa em sentir o momento, apreciar o mais que consiga. As pessoas empurram-me e eu empurro de volta apenas me deslocando com a batida acelerada da música. A cada minuto mais e mais pessoas entram na "pista de dança" fazendo o ar ficar cada vez menor e fazendo-me soar, sem querer perdi o Sérgio por entre tanta gente.
Quando já não aguentava mais as minhas pernas fui até á casa de banho, tranquei a porta e olhei-me ao espelho, mal conseguia ver a parte branca dos meus olhos de tão fechados que se encontravam, tentava a todo o custo abri-los mas não conseguia, era impossível. Lavei a cara 5 vezes com água gelada devido ao calor que sentia no rosto. Estava na hora de ir para casa antes que me deixa-se levar e talvez fica-se ali a dormir.
Peguei na minha mochila e cambaleei até á porta, andei calmamente até casa, arrastando os pés e sorridente, ao chegar perto da minha porta atiro a minha mochila para o chão e baixo-me vasculhando á procura da minha chave. Assim que a encontro levanto-me pegando na mochila e abro a porta, subo as escadas até ao meu quarto, atiro-me para a cama e aprecio o silêncio no escuro, apenas a olhar para o teto de madeira. Estava totalmente relaxada o que me fez adormecer em segundos.

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