Capitulo 3

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Depois daquela noite, ao acordar estava encharcada em suor, com os olhos inchados e vermelhos, umas olheiras negras e pálida como a neve.
Passei o dia com os olhos a chorar como se tivesse alergias, os meus pais passaram o fim-de-semana fora pelo que não me tive que esforçar em não bater de caras com eles neste estado no corredor, passei o dia de ontem a recompor-me, pensar e a pesquisar sobre o assunto.
Descobri que, talvez, nem tenha sido algo tão mau a minha experiência, mas a maneira como a fiz deixou-me irritada de tanta injenuidade do meu lado, nao penso voltar a fumar nem tabaco ou qualquer outra substância, mas ainda assim tinha adorado sensação daquela noite.
Mas a minha ignorância perturbava-me em como podia ser tão injenua com algumas coisas que estão presentes de forma vincada no nosso quotidiano.
Ridicula, Júlia, És Ridicula.
Pensava nisto enquanto arrumava as minhas coisas na mochila cinzenta e saí de casa, andei rapidamente até á escola por estar atrasada e rapidamente cheguei á sala ao mesmo tempo que a professora.
Entrámos todos na sala, dirigi-me para o meu lugar perto da Helena.
- Ainda estás chateada comigo? – Perguntei-lhe enquanto tirava o material da disciplina.
- Achas? Claro que não. – Responde-me com um sorriso nos lábios. – Foste à festa?
- Fui.
- Não te vi por lá.
- Também não te vi…
Nem ela imaginava onde eu estava.
- Disseram-me que estiveste com ele... Como correu? - Perguntei referindo-me ao seu namorado virtual.
- Acabou por nao conseguir vir... - disse baixando a cabeça enquanto rabiscava um caderno.
- Oh... - disse já esperando aquela resposta. - Assim como vão estar juntos?
- Acho que vou ter com ele, apanho o autocarro e vou numa manha e volto á noite. Queres vir comigo?
- Porque não. - Disse a sorrir, sabendo que a Helena estava apenas a enganar-se a si própria, ia existir sempre uma razão pela qual nao se conseguiam encontrar.
A professora levanta-se começando a escrever no quadro branco com uma caneta azul, dizendo o que faríamos nesta aula. Eu passava atentamente o que a professora dizia e escrevia no quadro, tentando manter a cabeça ocupada e assim não pensar noutras coisas.
A aula passou rapidamente, e a professora deixa-nos sair 10 minutos mais cedo, Helena como de costume corre para o banco na árvore a pensar que a vou acompanhar, mas ao vê-la já a agarrar o telemóvel, vou para o local onde estava o grupo no outro dia.
Sérgio, a rapariga ruiva e mais 2 rapazes estão lá, aproximo-me deles e sento-me no chão um bocado apreensiva.
- Bom dia. – Digo a sorrir.
Respondem-me o mesmo e continuam a sua conversa, eu fico atenta a ouvir e a intervir quando acho oportuno. O Sérgio olha para mim como se me quisesse perguntar qualquer coisa.
- Como é que te chamas? – Pergunta-me um dos rapazes desviando a minha atenção da feição do sérgio.
- Júlia. – Disse à espera que eles me respondessem os seus nomes.
- Eu sou o Diogo, este é o Tiago, aquele é o Sérgio e esta é a Ana. – Disse apontando respetivamente para cada um. Eu sorri para cada um deles e eles para mim.
- Júlia, queres comprar? – Pergunta-me o Sérgio, enquanto o todos os outros se encontram distraidos.
- O quê? – Perguntei
- O que haverá de ser? – Disse enquanto se ria da minha ingenuidade e ao ver-me a olhar para ele com cara de parva diz revirando os olhos – Erva.
- Não sei... Acho que não..
- Podemos comprar a meias, 5 paus. Eu ensino-te como se faz e até podemos fumar juntos, depois se não gostares eu compro-te a tua parte. – Disse-me, com 5 paus eu entendi que ele quereria dizer 5 euros, pelo que aceitei abanando a cabeça. Abri a mochila e tirei da carteira 2 euros e meio. – Vem ter comigo no próximo intervalo.
- Ok. – Respondi-lhe pegando nas minhas coisas e levantando-me. – Até Logo.
- Adeus. – Responderam-me.
Entro na sala de aula, onde vou ter matemática e a Helena dirige-se para mim com cara de poucos amigos.
- Onde é que estives-te? – Pergunta chateada.
- Fui dar uma volta.
- Uma volta onde?
- Uma volta pela escola. – Respondo enquanto me sento no meu lugar.
A Helena chateada senta-se na cadeira ao lado da minha e bate com o estojo na mesa, não percebo o porque de ficar revoltada dessa maneira, eu estar com ela ou não estar é igual, pelo que a única razão para tal mal disposição tem que ser o namorado virtual.
- Está tudo bem com o Afonso? – Pergunto.
- Como se tu te importasses.
- Por amor de Deus, sabes bem que eu me importo. – Respondo olhando para o professor que explicava um exercício a um colega.
Não me respondeu e ficou a olhar para o livro, eu fiz o mesmo, começando a resolver os exercícios pedidos pelo professor. Tentava concentrar-me mas a única coisa que conseguia pensar era em como seria a segunda vez que experimenta-se.
A aula passou tão devagarinho que podia judar que tinham-se passado duas horas, guardei as minhas coisas e em 2 minutos estava no local onde eles costumam estar. Logo o Sérgio chega.
- Vieste rápido. – Disse entre um riso. – Tens aqui, já está dividida.
Passou-me um saquinho transparente com o que eles chamam “stock”.
- Queres ir fumar? – Perguntou-me.
- Tenho aula a seguir… - Disse-lhe
- Não faz mal, é só uma aula, vamos divertirmo-nos.
Eu disse-lhe que não podia faltar, mas ele insistiu dizendo que ninguem ia reparar e que provevelmente ativaria partes do meu cerebro  eu acabei por ceder, tinha curiosidade em saber, eu sabia os riscos tinha lido durante um dia inteiro para os saber, mas também sabia as vantagens e dessas contava a paz, que me deixou em harmonia durante umas horas e que eu desejava tanto ter.
Fomos para um local á escolha dele, onde ele desfez num grinder, algo que eu nunca tinha visto na minha vida, uma espécie de caixinha com uns dentes para triturar, rapidamente ele tinha tudo pronto, acendeu com um isqueiro e estava pronto mais uma vez, sem arrependimentos, sem pensar duas vezes, sem ver as consequências.
Fumamos juntos e novamente dentro de minutos consegui sentir a tranquilidade apoderar-se de mim, os músculos relaxados e a vontade de flutuar deixaram-me ficar ali parada apenas a apreciar o momento.
Deixei a cabeça pender pra trás e observei o ceu azul cheio de pequenos brotos brancos. O Sérgio desliza-se para o meu lado e deixa tambem ele a cabeça cair para trás encostada a um muro por pintar e ficámos assim, sem dizer nada, apenas a observar o céu.

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⏰ Última atualização: May 17, 2017 ⏰

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