Rose
Mais uma vez acordei no meio da noite, o perfeito e impecável som do piano ecoa por meu quarto, suas notas saem lentas, chega a dar tristeza só de ouvir.
Olho em direção da cama do Chris e ele dorme como um anjo. O piano continua, as notas cada vez mais melancólicas, desço da cama e piso no chão frio, ando com passos leves para não fazer barulho e vou seguindo o som até a sala.
Minha mãe está tocando de novo, com os olhos fechados ela desliza as mãos pelas teclas do piano. Ando até ela, a observando, ela abre os olhos e se assusta ao me ver.
-Desculpa -Falo quando vejo que a assustei e ela sorri.
-Não foi nada... Vem cá -ela me pega, me senta em seu colo e começa a tocar com minhas mãos, delicadamente ela toca uma melodia mais alegre e agitada, nunca estive tão feliz, enfim estou tocando piano, mesmo ela me guiando, estou tocando.
E como nada é perfeito, algo tem que acontecer para estragar.
A porta é aberta com brutalidade e um homem alto e forte aparece nela, ele parece furioso e tenso.
-Vai para o quarto amor e não saia de lá, de maneira alguma -ela manda como se já soubesse o que ia acontecer e assim eu faço, entro no quarto e fico olhando por uma brecha.
-Ótimo, duas horas da madrugada e eu me deparo com sua cara de morta -meu pai resmunga.
-Exatamente, duas horas, onde estava até agora? -ela fala longe dele, como se estivesse com medo.
-Não te interessa, quem você pensa que é para falar comigo nesse tom? -ele grita e meu corpo se arrepia de medo com seu tom de voz.
-Sou sua esposa, mereço respeito... E ainda bebeu, não foi? Bem provável que tenha usado drogas e deu todo o nosso dinheiro para alguma vadia pra... -ela mal acaba de falar e ele lhe acerta uma tapa estalado em seu rosto, corro para a cama do Chris e me enrolo até a cabeça com o seu cobertor.
-Rose? O que houve? -ele acorda atordoado e para quando escuta gritos agudos de minha mãe vindo da sala.
-Não encosta em mim -ela grita e me sobe um calafrio -Me solta, volta para seus amigos, suas drogas -ela fala com dificuldades e escuto um estrondo como algo batendo no chão e algo de vidro se quebrando.
-Cala sua boca -ele grita de novo e o Chris me abraça forte -Quer saber? Eu vou voltar, e vou levar tudo comigo, você e seus filhos nojentos vão morrer de fome. Levanta daí -volto a escutar cacos de vidros baterem contra algo e uma batida abafada -E agora? Está sem palavras? Sem forças?
-Me solta -ela parece estar chorando.
-Não, vadia, você vai aprender a me respeitar -minha mãe volta a gritar e outros barulhos são ouvidos.
-Eu vou ajudar ela-o Chris sussurra em meu ouvido e me solta.
-Não Chris, vai ser pior, ele vai bater em você... Ele não pode te bater -minha voz sai quase imperceptível e o puxo de volta para a cama -Por favor, fica comigo, estou com medo -choro no ombro dele e minha mãe grita algo que não consigo entender, o Chris me olha e corre para a porta, respiro fundo e vou com ele.
-Olha, os anjinhos, querem fazer companhia para a mãe de vocês no inferno? -ele fala e solta um sorriso amarelo, seus olhos estão vermelhos e dilatados, minha mãe está no chão, seus braços e sua boca estão cortados e sua roupa rasgada -Respoda -ele grita e eu me escondo atrás do Chris -O que? Estão com medo? -ele anda devagar até onde estamos.
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Nightmare
Misterio / Suspenso"A história de um amor conturbado, cheio de trauma, ódio e vingança, e com uma pitada de loucura" "Somewhere, over the rainbow, way up high" Me remexo na cama devagar puxando o lençol mais pra perto, estava frio, tudo estava longe, mas eu ainda ouvi...