Reta Final

Agnes

— A distribuição começará a ser feita hoje — Ouvi alguém dizer.

— Será que vamos receber? — Outro perguntou.

— Óbvio que sim — ouvi Jerome responder. — Com certeza irão distribuir tudo para o nosso lado.

Bufei! Tão típico de Jerome responder aquilo. Ele achava que o nosso lado merecia tudo. Eu discordava, porém, não podia deixar que ninguém soubesse.

— Você colocou o seu nome na lista, Agnes? — Perguntou Jerome, se virando para mim.

Como se eu tivesse escolha e deixar de colocar.

— Claro — respondi com o meu melhor sorriso nos lábios.

— Então deve estar ansiosa para jogá-lo, assim como nós.

— Estou, e muito.

Jerome sorriu satisfeito e tornou a olhar para a frente.

Enquanto a professora falava sobre a matéria, eu olhei ao redor. A nossa sala de aula era grande e lá dentro havia mais de 50 alunos. Todos nós daquele lado, com a mesma idade — 16 anos —, estudávamos na mesma sala.

Aquela sala não me agradava. Não tinha decoração nenhuma e não tinha cor. Os únicos moveis eram as mesas e as cadeiras e a sala tinha as paredes cinzas. Eu a achava fria e sem vida. Mas, claro, eu não podia demonstrar isso, nunca.

O jogo do qual eles se referiam era o famoso Reta Final. Todos só sabiam falar nesse jogo nas últimas semanas e estavam ansiosos para jogar, principalmente quando, dias atrás, fomos comunicados que teríamos que colocar nossos nomes em uma lista e aguardar, pois, seriamos sorteado para jogar e quem recebesse teria que jogar. Era uma espécie de teste, ou algo do tipo.

Eu nunca gostei de jogos de vídeo game e esperava não ser sorteada, pois, se fosse, teria de jogar. Não poderia desobedecer às ordens dos governantes.

Após o fim da aula, fui para casa junto dos outros. Morávamos todos próximos, então, todos os dias, íamos e voltávamos juntos.

Cheguei em casa vi um pacote sobre a mesa e um bilhete ao lado. O bilhete dizia:

PARABÉNS, VOCÊ FOI ESCOLHIDO (A) PARA JOGAR RETA FINAL. COMEÇE EM SEU HORÁRIO DE DIVERSÃO.

Dei um suspiro. Eu juro que não entendia por que eu tinha que jogar aquilo. Quero dizer, eu não entendia por que eles faziam tanta questão nós jogássemos. Isso deveria ser opcional. Mas, eu me lembrei de que nada naquela cidade era opcional.

Eu nem me dei ao trabalho de abrir o pacote. Avisei minha mãe com um grito que eu tinha chegado e fui até o meu quarto para trocar de roupa. Eu ainda precisava cumprir com as minhas obrigações do dia antes de ter o meu ''horário de diversão''.