- Christian! - Escutei Liana gritar irritada mais uma vez e larguei os sanduíches que estava preparando.
Subi até nosso quarto e lá estava ela em frente ao banheiro com os braços cruzados em frente ao corpo e batendo um pé no chão.
- Será que você podia me explicar qual é a dificuldade em abaixar a porcaria da tampa da porcaria do vaso?
Eu comecei a rir, mas seu rosto não se suavizou nem um pouco, então só segurei. Entrei no banheiro e abaixei a tampa, depois lavei minha mão. Voltei a olhá-la e estava com a mesma cara de brava.
Tem dias que é impossível conviver com ela. São nesses dias, durante seis anos, em que o nosso "grande amor" é posto à prova. Nós brigamos por tudo e isso às vezes é um saco. Nem tudo conseguimos resolver com conversa. Sem contar que de vez em quando Lia insiste em ficar sem falar comigo. Como voltamos a conversar e conviver em paz? Eu não sei. Nem sempre é sobre sexo. Nós vemos que temos quatro salvações no nosso casamento: Estela, Enzo, Eduarda e, por último e só em último caso, o sexo.
- Desculpa, tá?! - peguei Lia pela lateral dos seus braços e a puxei para beijar sua testa. - Tá toda arrumada assim para ir pro parque?
Ela revirou seus grandes olhos verdes e me deu um leve empurrão. Ficamos nós encarando até que começássemos a rir.
- Já terminou o lanche? - Minha esposa disse enquanto passava por mim, mas eu a puxei para um beijo que era pra ter sido rápido. Era como se não envelhecêssemos nesse ponto. Estava sendo um beijo muito bom até que ela se afastou lentamente e me olhou. - Preciso arrumar as crianças.
Lia se desvencilhou do meu abraço e começou a andar de costas para a porta.
- Precisamos conversar sobre o aniversário de 12 anos da Estela.
- Mas é só no ano que vem!
Minha esposa riu da minha cara de espanto e deu de ombros.
- Ela tá com ciúmes que a Sofia deu uma festinha pros gêmeos.
A pré-adolescência estava chegando pra Estela e ela se tornava cada vez mais exigente. Ter três filhos não é uma coisa fácil. Precisamos agradar a todos e a adolescência não é fácil, já que, supostamente, as crianças ganham muito mais. O que não é verdade.
- Estela tá impossível.
- Espera só quando os 15 anos estiverem chegando. - Lia disse parando na porta e apontando para enfatizar o que disse.
- Minha cabeça já tá doendo com isso.
Começamos a rir e voltei para a cozinha enquanto ela foi para o quarto das crianças arruma-las.
Não demorou muito até que estivesse tudo e todos prontos. Entramos no carro e pegamos o caminho para o Parque da Cidade. Pude observar meus filhos pelo retrovisor e não queria que eles crescessem. Queria parar no tempo e aproveitar muito mais o que não consegui.
- Vocês estão atrasados! - Douglas gritou de longe enquanto carregava as bolsas com Lia e as crianças corriam. Maria e Estela se cumprimentavam e logo foram sentar um pouco mais longe de nós. Enzo e Eduarda pegaram uma bola colorida que haviam trazido e começaram a jogar.
- Culpa da Liana. - Tentei me defender, mesmo sabendo que não era verdade.
- O que? - Levei um tapa da minha esposa e a abracei.
Enquanto nos sentávamos alguém perguntou por Elisa e Bianca, que descobrimos que chegariam mais tarde. Elas haviam adotado duas crianças que eram da mesma idade dos gêmeos. Lembro que na época que elas entraram para a fila de adoção Liana descobriu estar grávida. Fiquei tão feliz. Porém quando descobrimos que eram gêmeos passei mal.
Fiquei preocupado em não saber lidar com bebês. Estela já era grande quando cuidei dela e ela sempre soube que não sou seu verdadeiro pai, o que as vezes a afasta. Mas estou aqui, me esforçando ao máximo para ser o pai desses três. Da maneira que meus pais teriam orgulho de mim.
E é claro, tentar ser o melhor marido para Liana. Sei que temos vários altos e baixos, mas nós agora tentamos de todas as maneiras ficar juntos. Não existe aquele ciúme besta ou as inseguranças infantis. Talvez o desgaste causado pela rotina seja nosso maior problema, mas nada mais consegue nos derrubar.
Lia segura minha e a aperta de leve enquanto se inclina para perto de mim e da um beijo na minha bochecha.
- No que você tá pensando?
Eu a encarei por um tempo antes de responder. Absorvendo cada detalhe do seu rosto. Não era mais a menina de 14 anos que conheci, nem a jovem mulher de 24 anos que tive que reconquistar. Essa era uma mistura de tudo mais lindo e apaixonante dessas duas. Então sorri pra ela e respondi:
- Em você! Nas crianças, na nossa família.
Ela encostou a cabeça no meu ombro e ficamos observando nossos três filhos brincando juntos. Mais uma vez eu queria que o tempo parasse e ficasse nesse ponto alto de felicidade para sempre.
- Eu te amo. - Escutei Lia sussurrando e uma descarga de felicidade inundou meu cérebro.
Tudo o que eu desejava na vida consegui realizar. Apesar de todos os contratempos que tive de enfrentar. Passaria por tudo de novo só pra poder sentir o gostinho que é ter cada um deles entrando na minha vida.
- Eu te amo! Obrigada por ser a mulher da minha vida e me dar a melhor vida que poderia imaginar.

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Depois do Para Sempre
RomanceChristian ficou 5 anos longe de sua cidade. Agora que está de volta precisa recomeçar sua vida profissional e, principalmente, amorosa. Ele, então, decide ir atrás da única mulher que amou e deixou pra trás, porém, nada mais está como antes.