A Contagem Da Morte

Capítulo 5

Oi, Henry, hoje tenho muitas novidades, e pela primeira vez, não venho falar sobre coisas desagradáveis, exceto uma, mas eu comento melhor sobre isso depois.

Como já mencionei, hoje eu tinha marcado de ir com a Julie na universidade, e assim foi. Acordei cedo, como sempre, arrumei-me bem e aproveitei para usar o perfume que ganhei de presente da Julie, eu amava, tinha um forte aroma de jasmim, que lembra muito perfume masculino.

Cerca de 11 da manhã horas eu já estava no local marcado, era no ponto central da cidade, então tive que caminhar cerca de 30 minutos para chegar lá, por aquela estrada de terra que já estava no meu cotidiano e depois andar pela cidade.

Nunca reparei muito na minha cidade, não fico muito por aqui. Quando eu tinha seis ou sete anos, logo depois que aconteceu aquela atrocidade com meu pai, minha mãe decidiu isolar-se do mundo e veio para o canto rural do município. Mas hoje eu admirei muito minha cidade. Há muitos aspectos relevantes para mencionar. O investimento da prefeitura tem sido amplo na área da educação nos últimos anos, construíram bibliotecas, laboratórios, escolas, formaram professores qualificados, entre outras coisas. Diferente de outros lugares, aqui a escola particular não é para o rico, e sim para o incapacitado de se formar em uma escola pública, onde possui uma educação rígida. Contudo, a área da saúde está em declínio, qualquer cirurgia simples tem que ser feita por um médico particular. Mas, falando sobre a estrutura da cidade, ela é maravilhosa, não no mesmo nível que Los Angeles, é claro, mas é um ótimo lugar para passear, graças aos belos parques, apreciar a paisagem deslumbradora, e ir nos nossos famosos aquários artificiais, ponto turístico que atrai muitos visitantes.

Julie, como sempre, atrasou para chegar. Chegou com seu namorado, rapaz alto, principalmente comparado com os 1,60 de sua namorada, mas era muito parecido com Julie, eu até diria que parecem irmãos. Enfim fomos para a universidade. 

Confesso que fiquei pasmada quando vi a universidade, eu nunca tinha visto antes. De longe era uma estrutura monumental, devia ser a maior construção da cidade, e era recente, era possível notar na pintura do prédio sem nenhum rastro de grafite. Adentramos no edifício. A visão era fabulosa, parecia que existia outra cidade ali. Janelas com vidros triplos, lustres com lâmpadas de cristais, detalhes de madeira ébano, e profissionais da área de medicina em pontos estratégicos dando informações sobre as apresentações que iriam ter. Direcionei-me à primeira palestra que vi, sobre cirurgia. 

A palestra foi ordenada por um senhor já de idade, no slide de sua apresentação dizia: "formado em Medicina, com PHD em cirurgias plásticas em pontos pouco explorados pela estética", parecia alguém que colocava respeito por onde passava, alguém extremamente inteligente, que ganhava a atenção de todos quando falava. Ele explicou princípios básicos sobre anatomia e técnicas cirúrgicas. Ao fim da palestra, inscrevi-me para a prova da universidade para cursar  Cirurgia Plástica, não que eu tenha conhecimento processual para tal, mas não perco nada tentando. 

Julie separou-se de mim antes da palestra, e como já estava entardecendo, julguei mais apropriado ir para casa sozinha, esperar Julie nunca era uma boa opção, nunca era possível saber quantas horas ela iria enrolar, e como ela estava acompanhada pelo namorado, não teria problema em ir para casa.

Enfim, chegou a hora desagradável do dia, a hora que cheguei na estrada de terra que eu caminho para chegar em minha casa. Estava interditada. A única estrada que tinha, além da estrada principal, era uma estrada que cruzava um curto pedaço da floresta. Eu tinha ordens da minha mãe para sempre evitar aquela trilha, mas eu estava sem opções. 

Não era noite ainda, estava no fim da tarde, no entanto, as árvores da floresta eram robustas o suficiente para tornar o ambiente umbrífero. Andei atenciosa, cuidando onde pisava, a floresta possui diversos buracos, e ali não seria o melhor lugar para eu me machucar. Acredito que por aquele caminho alternativo eu iria demorar 10 minutos a mais do que pela estrada principal. Confesso que nunca fui o tipo de garota mais corajosa, e que aquela floresta estava começando a me causar calafrios. Não estava frio daquela maneira quando entrei no bosque, a temperatura devia ter caído uns 10°C, minha visão começou a embaçar, uma fraqueza tomou conta de mim, manti-me forte, apertei os passos, precisava chegar logo em casa. E foi nesse momento que eu notei que estava perdida, estava fora da trilha, corri tanto que me empolguei. Não foi fácil encontrar a trilha, dei uma bela volta pela floresta até achar. Nada de anormal pela mata, exceto os pássaros voando para seus ninhos, deu a entender que já estava anoitecendo, e triplicava o terror na floresta a noite. Nunca é bom andar por lá, mas essa até que foi uma boa experiência, já fazia anos que eu não chegava nem perto. 

Até mais, Henry, vou tentar dedicar um tempo maior pra escrever para você. Abraços.