Capítulo 1 - Pai, você não matou ninguém pra arranjar esse apê, né?

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— Eu acho que você deveria ir falar com ele.

A voz fina ao seu lado lhe fez formar uma careta instantânea. Yoongi suspirou e continuou guardando os cadernos, livros e mais algumas outras coisas que não precisaria usar aquele dia na aula dentro de seu armário. Ao lado, duas meninas conversavam animadas, porque parecia que uma delas tinha finalmente revelado para as outras que estava gostando de alguém.

E a única coisa que ele estava mais preocupado no momento, era ir embora. As vozes forçadas para parecerem fofas o deixava enojado.

Ele não conseguia entender as garotas, era um mundo deveras complexo. Não entendia o fato de que elas precisavam compartilhar sobre tudo com suas amigas, ou até mesmo, o fato de que precisavam sempre ir ao banheiro juntas. Sabe, qual é a verdadeira necessidade disso? Ele simplesmente não conseguia entender. O banheiro feminino vivia lotado e com certeza era algo ruim, pois as poucas garotas alfas e betas que ali estudavam viviam reclamando, ou até mesmo saiam bufando do lugar.

Por ser um ômega, o fato de não conseguir entender aquele mundo era quase anormal — não para ele, é claro, mas para as outras pessoas sim. Não que ser um garoto ômega o tornasse automaticamente mais afeminado que os outros garotos, mas por fazer parte daquela classe, a sociedade via aquilo como uma regra escrita em um papiro velho guardado dentro de um cofre de ouro, ou seja: ele tinha que entender sobre esse mundo mais "feminino". Afinal, um garoto tem que ser alfa, assim como uma garota tem que ser ômega. Se não fosse assim, então estava errado. Eles usavam isso como desculpa para proibirem alguns — todos — os direitos dos homossexuais na sociedade.

Mas na opinião de Yoongi, amor é amor e cada um deveria cuidar da sua própria vida, antes de dar palpite na vida dos outros.

As pessoas falam muito, mas sabem pouco.

Na maior parte do tempo, ele odiava todo mundo; e odiava ainda mais pelo fato de que as pessoas que ele odeia o perguntavam o porquê de odiar tanto todo mundo.

E era realmente desnecessário perder seu tempo para responder.

Bufou e fechou o armário com certa força, tinha certeza que as meninas haviam assustado com o barulho alto e aquilo até o fez sorrir. Andou por entre vários estudantes que conversavam coisas aleatórias e resolveu ir direto para sua sala. Estar no terceiro ano — o poderosíssimo que fazia a maioria dos adolescentes híbridos daquele planeta arrancar pelos das orelhas e aclamado último ano — o deixava mais apreensivo com o futuro; cinquenta por cento das suas inseguranças era por causa da pressão de seus pais, e os outros cinquenta eram os seus próprios medos. A ideia de se tornar um adulto — algo que ele já era considerado, pois carregava o tal dos dezoito anos nas costas —, nunca lhe fora muito proveitosa, quiçá requisitada. Deixava-a muito bem guardada no fundo de seus pensamentos, até porque, nunca se viu saindo do ensino médio e indo direto para a faculdade.

Não sabia o que cursar nem o que fazer da vida.

Típico drama adolescente.

Seus pais não viam a hora de finalmente o jogarem no mundo para que assim pudesse se virar sozinho, tanto queriam isso que já até providenciaram um apartamento novo para si. Teria que aprender a morar sozinho na marra. Mudar-se-ia aquele dia mesmo, ou pelo menos levaria alguns pertences já que pelo visto o apartamento era quase que inteiro mobiliado e não precisaria comprar muitas coisas.

Ele sabia que aquilo era normal, dezoito anos naquele mundo era ser independente, tomar conta do próprio nariz, e se não fosse, seria na marra ou na base das chineladas mesmo. Quando se completava dezoito anos, os pais deixavam um pouco os filhotes de lado e seguiam suas vidas para 'aproveitarem aquilo que não foi aproveitado' — o que Yoongi realmente não entendia, ele não era culpado por uma noite ardente dos pais e nem por um momento pensou em ser o espermatozoide vencedor, entente? Mas, eles não deixavam seus filhotes no sentido de "graças a deus vai sobrar mais dinheiro nessa casa e nunca mais vai ter toalha molhada em cima da cama para eu catar"; mas deixavam seus filhotes no sentido de que "agora você cresceu, não é mais uma criança. Vai ter que aprender a se virar sozinho, meu anjo".

Noir | yoonseok |Onde histórias criam vida. Descubra agora