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sorry mom, i kiss boys

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Assumi minha sexualidade quando tinha dezesseis anos, a sete anos atrás. Vocês já devem estar esperando um pai homofóbico e uma mãe que protege o filho e essas coisas, mas não foi exatamente assim. Dois anos antes dessa confirmação meu pai teve um ataque do coração e morreu, simples assim, mais nada. Eu era muito ligado a ele, e de alguma forma ele já sabia que eu era gay. Minha mãe ficou arrasada, não queria sair de casa para nada - a não ser ir na igreja. Eu nunca fui uma pessoa religiosa, não sabia o porque das coisas e simplesmente não via o mundo como uma criação de um homem que um dia viria para nós salvar - no fundo eu sabia que não seria salvo de qualquer maneira. Minha mãe me criou por todos esses anos para ser o homem da casa, eu tinha que fazer o trabalho pesado, eu, com quatorze anos, teria que arrumar um emprego e sustentar minha casa.

Com quinze arrumei um namoradinho. Nos conhecemos no mercado perto do lugar onde trabalhava. Como eu saia do trabalho ás 17h, sempre passava no mercado para comprar algumas coisas, e ele estava sempre lá, sorridente como nunca. Nick e eu passamos então a nos encontrar na praça ao lado da minha casa todos os dias, para conversar e falar mal de nossos pais. Eu já tinha uma ideia do que era ser gay, e acabei me apaixonando por ele, e ele se apaixonou por mim.

Uma vez eu o levei para minha casa, aproveitei que minha mãe não estava e ficamos deitados no sofá assistindo a filmes clichês. Eu senti ele entrelaçar sua mão na minha e vi que era o encaixe perfeito, como se ela fosse feita para mim.

- Acho que estou apaixonado por você -ele me disse, o que me fez morrer por dentro.

Eu não sabia como lidar com isso, eu era muito idiota e não conseguia dizer meus sentimentos, por mais verdadeiros que sejam. Então eu somente segurei seu rosto e o beijei, eu não sei de onde veio toda essa coragem, era claramente meu primeiro beijo, mas eu gostava tanto dele, gostava de estar com ele e, depois desse dia, gostava de beijar ele. Mas minha mãe não poderia saber, ela me mataria. Eu não poderia acabar com a minha mãe, não poderia dizer que eu era gay.

Nick era perfeito, me tratava com importância. Quando minha mãe descobriu sobre ele, ela me deu uma surra e me mandou para a casa de meu tio, que me aceitou e deixava Nick ir me visitar. Foi ai que me assumi gay, e assumi meu namoro com ele. Nós sofremos tanto na escola, mas Nick principalmente. Ele fazia parte do time de futebol na escola, que era totalmente homofóbico e batia nele todos os dias. Até que um dia Nick não respondeu minhas mensagens e não apareceu na casa do meu tio após a aula, como tínhamos combinado. E eu esperei por ele aquele dia, e no dia seguinte, mas, ele não apareceu. Nunca mais.

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-Hey, desculpe o atraso. Amy é uma vadia. -disse quando achei a mesa onde Levi estava e me sentei.

- Não, tudo bem, eu cheguei por agora também. -ele sorriu, e porra aquele sorriso. - O que ela fez dessa vez?

- Me fez faltar a faculdade e andar por Nova Iorque inteira para comprar coisas. Mas ela me comprou um cd novo, acho que ela sabe que só irei a perdoar assim. - coloquei meu braço encima da mesa, para que ele pudesse pegar minha mão. -Disse que você quer conhece-la, ela ficou bem animada.

-Sério? Achei que ela não gostasse de mim.

- Não diga isso, você só conversou com ela uma vez e foi pelo telefone. Ela não pode não gostar de você sem te conhecer, e sei que Amy vai amar cada segundo ao seu lado, assim como eu. -apertei a mão dele na minha.

- Obrigado, eu odeio ser inseguro com as coisas mas não posso evitar.

- Ta tudo bem, eu prometo que vou mudar isso em você. - sorri. - Agora vamos pedir alguma coisa pra comer antes que eu morra de fome.

Chamei a garçonete, pedimos algo para comer e ficamos conversando. Eu gosto muito de Levi, é um dos únicos na vida que eu posso ter uma conversa decente, porque ele não se importa com coisas fúteis e é inteligente pra caralho o que me faz sentir um burro por estar fazendo faculdade de moda.

-Que tal no sábado? Onde gostaria de ir?

- O que?

- Conhecer Amy, acho que deveríamos ir em algum lugar legal, não apenas sair para comer, ela não consegue ficar sentada apenas comendo porque ela não consegue ficar parada.

- Você acha que ela iria querer ir em alguma boate? -ele pergunta antes de colocar a última garfada na boca.

- Acho que isso não. - pensei por alguns segundos - Você gosta de parques de diversão?

Eu não sei porque perguntei, eu sei que ele ama tudo que tenha algodão doce e brinquedos. Acho que só perguntei para vê-lo sorrir do jeito que ela está sorrindo agora.

- Eu amo parques de diversão. - pare de sorrir, você está me matando.

-Eu sei

Me inclinei sobre a mesa para lhe dar um selinho.

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7 mensagens não lidas de Amy.

"você acredita que Sarah acabou de me falar que o Sr. James vomitou na sala hoje?" Amy

"não acredito que perdi isso, aposto que foi a coisa mais hilária do mundo, mas enfim" Amy

"josh acabou de me ligar" Amy

"isso mesmo" Amy

"ligar" Amy

"me chamou para sair no sábado" Amy

"eu disse que iria responder mais tarde, o que eu falo??????" Amy

"hey, tinha marcado com o Levi sábado para vocês se conhecerem, porque você não chama o Josh?" Simon

"caralho sim, boa ideia. Vou falar com ele aqui." Amy

Depois do almoço deixei Levi no estágio dele e vim pra casa. Eu apenas me joguei no sofá e liguei a TV, não pretendo sair daqui tão cedo. Tento me concentrar no filme, mas só consigo pensar em Levi, Levi, Levi.

neighbourhoodWhere stories live. Discover now