Prólogo

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Cidade do México | 11 de agosto de 2017

A moça olhava-se no espelho. Seus cabelos estavam jogados para o lado direito, cheios de cachos, que agora estavam claros demais para o seu gosto. O vestido era rosa floral, discreto e gracioso, exatamente o modelo que ela escolheria para um casamento ao ar livre.

Ela se sentia bonita, mas tinha um problema: não queria estar ali. Sentiu as lágrimas acumularem-se em seus olhos e pensou o quanto era patética. Piscou algumas vezes, tentando espantar as lágrimas junto com o sentimento de derrota. A porta do quarto se abriu, revelando uma senhora que não aparentava ter mais de cinquenta anos.

— Sam!... Achei que você já estava pronta!

— Estou... – tentou sorrir, e apesar das aulas de teatro, não conseguiu esconder a tristeza de sua alma.

— E por que você está com essa cara de enterro? É o casamento do seu irmão! Você deveria estar feliz!

— Deveria, mas não estou!

A avó da jovem não entendia por que aquela tristeza, não compreendia por que ela não queria que o casamento se realizasse. A senhora ainda insistia que era apenas ciúme de irmã, mesmo que os irmãos se conhecessem há pouco mais de um ano. Eles tinham desenvolvido uma relação bonita, típica de irmãos "grude", mesmo com as brigas e morando em países diferentes; eram extremamente unidos. Na verdade, a única que entendia era sua mãe, que preferia ficar de fora do assunto.

Saíram do quarto e encontraram os outros na sala à espera. Os pais do noivo – biológico e de criação – conversavam tranquilamente, provavelmente sobre trabalho. A não-madrasta/tia tentava acalmar a mãe, que estava extremamente nervosa pelo casamento de seu único filho. Os outros apenas riam discretamente da situação.

— Então, acho que já podemos ir; os outros já estão nos esperando – o avô da moça apressou a todos, que seguiram para a garagem.

— Sam!... – sua mãe a chamou discretamente, abraçando-a de lado — Vai ficar tudo bem! — Impossível!

Chegaram ao local e tudo estava muito bonito. A decoração era clássica e até combinava com a roupa dos noivos, de um jeito que não era brega. Por motivos desconhecidos, o noivo não quis casar na igreja e também não quis uma cerimônia religiosa. Alegou que nunca se imaginou casando em tal lugar, o que sua mãe sabia que era mentira.

Já havia alguns convidados; na verdade, não seriam muitos. Sam viu o irmão cumprimentando o melhor amigo e revirou os olhos. "Chegou a falsa", pensou. Ele obviamente tinha passado para o lado negro da força e nem adiantava negar. Sam analisou o local mais uma vez; todos conversavam contentes, esperando o início da cerimônia. Era só alegria para todos os lados, uma alegria que fazia seu estômago dar voltas.

Por que ela era a única que não queria estar ali? Por que todos concordavam com essa loucura? Será que ela era a única em sã consciência? Será que era a única que via o quanto aquela felicidade e o nervosismo do irmão eram pura atuação?

Viu que ele vinha em sua direção e respirou fundo, contando até dez. Rolou os olhos quando percebeu que não havia dado certo. Ótimo, um barraco antes mesmo da maldita cerimônia começar.

— Se divertindo?

— Nossa... Você não sabe o quanto – bufou. Quando um garçom passou com uma bandeja de champanhe, pegou uma taça e virou de uma vez só.

— Não vai exagerar na dose, baixinha. Você se enfia, que não é fraca para a bebida, mas nunca se sabe...

— Grr, me era, Christopher!

— Credo! – o rapaz a encarou "assustado". — Eu só estou brincando, relaxa um pouco. Quem vai casar sou eu...

— Não, você vai cometer a maior burrada da sua vida!

— Nós já conversamos sobre isso...

— Não, você falou um monte de coisas que eu e metade do mundo já estamos cansados de ouvir, um monte de mentiras! – ela respirou fundo — Quer saber? Eu desisto! A vida é sua; quem vai ser infeliz é você!

— Sam...

Tarde demais. A moça entregou a taça vazia para o irmão e saiu praticamente correndo. Ela se dirigiu à mesa reservada para sua família; estavam seus tios, tias, avós – maternos – e sua mãe. Assim que se sentou, todos a olharam assustados, não entendendo o porquê daquela fúria toda ou se seria apenas frustração.

— Samantha?! – a mãe a acusou mais do que perguntou.

— Eu não fiz nada! – bufou — Prometi que não ia e não vou.

E era verdade: na última conversa – ou seria briga? – que teve com Christopher sobre o casamento, prometeu que não falaria sobre o assunto com ninguém, nem reclamaria no Twitter ou em qualquer outra rede social, a contragosto, mas prometeu.

— Eu não consigo entender o que você tem contra esse casamento... – Laís tentou entender o que se passava na cabeça da sobrinha; talvez uma psicóloga ajudasse.

— Só queria impedir que o Christopher cometesse uma burrada, um erro do qual, quando der por si, vai se arrepender para o resto da vida.

— Que erro? A Natalia parece ser uma pessoa tão lega...

— Nem termine essa frase! – lançou um olhar mortal para a tia — Ela é legal e eu sou a Kim Kardashian! – riu, irônica — Eu não vou nem dizer o que ela é de verdade... Ela pode ser até a rainha da Inglaterra...

— Sam, eu...

— Laís, desiste! – impediu Lucy — Eu entendo o porquê de ela não querer e talvez concorde. – Sam encarou a mãe — Ok! Eu concordo totalmente; só que, da mesma maneira que você não vai mudar de ideia, ele também não vai...

— Tenho até o aniversário dele para colocar juízo naquela cabeça dura...

— Achei que o prazo era no aniversário do ano passado...

— Prazo de quê? – Bruno, que até o momento se mantinha calado como os outros, questionou.

— Na verdade, acaba no dia 20, às 23h59. Ele ainda vai ter trinta, então tenho até lá...

— Hein? Tá doida, menina? – o tio ainda estava boiando.

— Desistam! – Lucy riu da filha.

— Sam... – um jovem veio correndo em sua direção, fazendo-a revirar os olhos — Eu sei que você não está falando comigo... – ela não respondeu e ele se sentou na cadeira vaga ao seu lado — Samantha, por favor, por favor... – implorou.

— O que é, Chávez?

— Me diz que você tem um plano brilhante para impedir esse casamento!...

A boca da jovem, assim como a de todos na mesa, se abriu, formando um perfeito "O". Como assim, Christian Chávez queria impedir o casamento? Afinal, ele não era Team Natalia?

Make a Wish - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora