Sonetos de Shakespeare

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Soneto I

Com que pesar enfrento a jornada,
Quando o que procuro (o triste fim do meu caminho)
Mostra-me, docilmente, a resposta que devo dar.
"Assim as milhas são marcadas para longe de teu amigo"
O animal que me carrega, cansado do meu pranto, cavalga firme, suportando o peso que levo comigo,
Como se, por instinto, o animal soubesse
Que o cavaleiro de ti não quisesse se afastar.
As esporas sangrentas não o atiçam
Que, por vezes, o ódio toca-lhe por dentro,
E, prontamente, responde com um grunhido
Mais agudo para mim do que ao esporea-lo,
Pois o mesmo grunhido põe isto em minha mente:
Minha tristeza jas a frente e minha alegria,atrás.

Soneto XXX

Quando a corte silente do pesar
Eu convoco as lembranças do passado,
Suspiro pelo que ontem fui buscar,
Chorando o tempo desperdiçado,
A fogo o olhar em lágrimas, tão rara,
Por amigos que a morte anoiteceu,
Pranteio dor que o amor já superará,
Deplorando o que desapareceu,
Posso então lastimar o erro esquecido,
E de tais penas recontar as sagas,
Chorando o já chorado e já sofrido,
Tornando a pagar contas todas pagas,
Mas, amigos, se em ti penso um momento,
Vão-se as perdas e a acaba o sofrimento.

Soneto CXVI

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça. Amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao minimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura,
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura:
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfante não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.

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