Capítulo XI

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Susan chegou em casa ainda muito abalada. Ela não sabia muito bem como estava sentindo-se. Quem aquela Amy pensava que era? Tentando se colocar no meio de uma amizade. Ela pensou e repensou várias vezes se havia feito a coisa certa ao aceitar o convite de Richard, mas chegou a conclusão que sim, havia feito o certo. Aquela viagem seria o enterro de seus sentimentos românticos quanto a ele, seria o enterro daquilo que havia começado há trinta anos atrás, mas que só existia para ela. E a presença de Jude só faria bem para aquela situação, poderia ser o momento dos dois se aprofundarem um no outro e se conhecerem melhor antes que mais expectativas surgissem.

Susan ligou para Jude cheia de receio, ela mediu cada palavra para não soar apressada demais, afinal tudo já estava indo muito rápido entre os dois. Ela explicou a história parcialmente, contou a penas que Richard a convidou para passar alguns dias na fazendo com ele e com a noiva, e que ela acreditava que seria uma boa oportunidade para eles se conhecerem melhor. Ela reforçou diversas vezes que Jude não deveria sentir-se brigado a ir, e que ela entenderia se ele achasse que estava muito cedo para tomar um passo assim, mas tudo que Jude fazia era repetir que havia adorado a ideia e que estava muito feliz pelo fato de que as datas de folga da peça batiam com as datas da viagem, exceto pelo fato de que ele teria que voltar para casa dois dias antes dela. No fundo de seu coração, Susan acreditava que aquela viagem traria bons frutos para sua vida.

Quando Susan contou para Kate, a amiga enlouqueceu do outro lado da linha. Kate tentou de todas as formas possíveis convencer Susan de que aquela não era uma boa ideia e que amiga deveria reconsiderar, mas Susan permanecia inabalável em sua decisão, "vai ser o meu adeus à essa história, Kate. Vai ser o primeiro passo para o meu recomeço." Kate não se deu por satisfeita, mas decidiu respeitar a decisão de Susan e não insistiu mais em ressaltar os vários problemas que aquela viagem envolvia.

Os dias passaram lentamente até que chegasse o momento da viagem. O caminho de New York até Louisiana era longo, cerca de vinte e uma horas de carro. Guiados pela sugestão de Jude, os quatro pegaram a estrada no mesmo carro, sob controle de Richard. A estrada até Luisiana foi regada a muita música e risadas, geralmente puxadas por Richard ou por Jude. Amy foi no banco da frente com Richard, enquanto Jude e Susan dividiam banco traseiro. Durante as horas de viagem poucas foram as palavras trocadas entre Susan e Amy, não por falta de tentativas de Susan, mas pela falta de vontade de Amy, que parecia pouco confortável com aquela situação.

A fazenda Hope ficava na Great River Road, entre Nova Orleans e Baton Rouge, e estava erguida desde os tempos da escravidão, quando ali se plantava café. Era uma fazenda afastada das outras e da população local, pois seu entorno era cercado por um rio cortado por uma pequena ponte de madeira que fazia a ligação entre a fazenda e o mundo exterior. Em dias de chuvas muito fortes, o nível do rio subia de modo a esconder a ponte, impedindo o acesso à fazendo e impedindo que quem estivesse na fazenda saísse de lá. Era justamente esse ar isolado que conferia um charme especial ao local. Ao chegarem, no início da noite, todos se maravilharam com o encanto da fazenda, sentiam-se arrebatados para o passado, naquele pequeno pedaço de terra parado no tempo.

Todos chegaram muito cansados, descarregaram os carros e escolheram seus quartos. Richard e Amy dividiriam um quarto como era de se esperar, Susan e Jude se olharam por alguns instantes tentando decidir qual era a melhor opção e concordaram apenas com os olhos que deveriam também dividir um quarto. Susan ofereceu-se para cozinhar e todos jantaram juntos. Aquela primeira noite na fazenda estava sendo muito agradável e mentalmente todos pediam para os próximos cinco dias fossem assim.

Os dois primeiros dias da viagem foram de forma geral muito agradáveis. Richard notava o empenho de Susan para se conectar com Amy, que na maioria das vezes não era correspondido. As ações da menina começavam a lhe incomodar profundamente, principalmente por que ele via a magoa nos olhos de Susan a cada vez que uma tentativa sua fracassava. Nesses dois dias eles já haviam conhecido quase todos os arredores da fazenda, passearam pelo rio, fizeram picnic ao final da tarde, e conversaram muito, sempre os quatro. Ao passo que a tensão entre Susan e Amy crescia a cada novo amanhecer, a relação de Susan e Jude, que em toda sua inocência passava batido por toda aquela tensão, parecia caminhar para um outro nível.

Por mais que machucasse ver a proximidade de Richard e Amy, Susan se esforçava para criar uma conexão com Jude e tentava de todas as maneiras se abrir totalmente para ele. Ela admirava o respeito que ele nutria por ela, pois, por mais que ambos dividissem a mesma cama, ele em momento algum tentou usar desta proximidade para satisfazer seus desejos. Foi Susan que ao final do segundo dia aproximou-se dele e começou as investidas. Cada passo que ela dava era na tentativa de se livrar dos grilhões de seu amor por Richard e se deixar levar pelos momentos que poderia viver com Jude. Os dois passaram a noite em claro um nos braços do outro e aquilo foi ótimo. Contudo, Susan ainda não se sentia feliz, ou completa. Nos braços de Jude, ela repetiu para si mesma que essa sensação era apenas o reflexo do momento e que ao voltarem para a cidade grande ela seria capaz de se entregar por completo, seria capaz de lutar contra seu amor, de enterra-lo. Tudo que ela precisava era terminar aquela viagem, era ser forte por mais dois ou três dias.

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