1. Confraternização

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Ana Torres

Eu estava animada. É claro que estava, eu gostava muito de confraternizações porque isso normalmente significava que eu ia beijar na boca. Eu disse normalmente, não sempre.

Mairiporã não ficava muito longe dali e com a velocidade constante do carro não demoraríamos até estar lá. As fotos que soltaram no grupo de mensagens me deixaram mais animada e as músicas da playlist que Gabriela escolhera para o carro só me faziam rebolar no assento.

Como uma pessoa que tirara a carta há quase dois anos, era engraçado vê-la grudada ao volante, concentrada mesmo quando sua música favorita começava a tocar. Mas a velocidade... Ah! Essa nunca deixava a minha amiga de lado.

- Eu vou perder a entrada, eu tenho certeza! - Ela dizia, aflita. - Deus não me ama, só tá me fazendo passar por perrengue.

Eu ri, porque era o que eu fazia quando notava a aflição sem necessidade da minha amiga.

Eu e ela nos conhecemos na faculdade e no começo eu nem gostava dela. No entanto, um projeto aqui e uma ida ao bar ali foram o suficiente para nos aproximarmos.

O vibrar do meu celular me assustou e eu desbloqueei a tela apenas para ver uma mensagem inesperada. Deixei de prestar a atenção no que minha amiga dizia, porque era isso que acontecia sempre que eu recebia uma mensagem da Lígia - ou eu deveria dizer a-razão-do-meu-desgraçamento-emocional.Eu a estava aconselhando pela vigésima vez a largar o namorado idiota.

A história é a seguinte: nosso primeiro beijo foi antes dela começar a namorar então ela me beijou depois disso, mesmo sabendo que era errado. No fundo, eu sabia que ela não terminaria e, se o fizesse, não ficaria nem uma semana solteira antes de voltar para os seus braços.

Não falei mais sobre ela para a Gabi. Ela não ficava brava, mas eu sei que dói nela me ver mal por alguém que não merece. Ela é a pessoa que mais ficou do meu lado, mesmo nas minhas decisões mais erradas.

- É AQUI! ANA, PÕE A MÃO PRA FORA! ME AJUDA! - Ela gritou e eu tratei de enfiar a mão pra fora pra pedir passagem antes que ela causasse um acidente. - Ufa, achei que íamos perder.

- Você sempre acha, mas Deus tá do nosso lado. Mesmo que a gente esteja ouvindo músicas sobre uma bunda de bate no chão. - Respondi, tirando um sorriso genuíno dela.

- Chegamos! Meu Deus do céu, abriram as portas do inferno de tanta gente feia que tem nesse curso de Educação Física. - Comentou minha amiga enquanto saíamos do carro.

- Você nem conseguiu ver ninguém! - Disse em um tom de indignidade.

- Eu não preciso ver ninguém, lembro bem de quem estuda na nossa sala. - Gargalhou e eu a acompanhei.

Entrar no curso de Educação Física é esperar que todos sejam lindos, com o corpo escultural, mas na verdade não é nada disso. Claro que tem o pessoal com o corpo escultural que só pensa em batata doce e ovo, mas existem também os "fora do padrão".

- Ana, larga desse celular! - Gabi pegou meu celular e jogou dentro do carro ao lado do dela. - Hoje é dia de se divertir e não de olhar as horas.

- Amiga, não! - Tentei impedir, mas ela me arrastou para perto da churrasqueira.

Cumprimentamos algumas pessoas da nossa sala e pegamos algo para beber e comer.

- Vai querer entrar na piscina? - Gabi questionou enquanto olhava para um pessoal se divertindo ali.

- Você pirou? Acabei de fazer meu cabelo. - Tomei um gole da minha cerveja e dei uma olhada à minha volta.

- Então me ajuda a me trocar.

Aceita-me [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora