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Eu não acreditava no que havia me ocorrido. Quando eu pensava que teria mais um sábado comum no lugar que mais amo de São Paulo, aconteceu o que eu tanto desejava. Não era um sonho. Não era fruto da minha imaginação fértil trabalhando loucamente, como de costume. Acontecia de verdade. Era ele e, o melhor de tudo, chamava-se Rodrigo.
A minha felicidade foi tamanha ao descobrir que, assim como eu, Rodrigo me deixou fixada em sua memória. Não sei se era verdade, mas pelo menos foi ele quem se lembrou de mim e falou comigo. Ele tomou a iniciativa.
Eu adoraria que Natália, Caio, Heloísa ou Gabriel estivessem por perto para me beliscar. Morria de medo de tudo não passar de um lindo sonho, daqueles que a gente fica com ódio de acordar. Tive a sensação de que nada existia, porém logo passou assim que Rodrigo tocou a minha mão quando estávamos na mesa no jardim do museu Casa das Rosas, tomando café e conversando sobre tantas coisas que eu já nem tenho certeza quais eram os assuntos. Pulávamos um assunto para outro com muita rapidez, rindo de tudo o que falávamos, como dois adolescentes bobos.
Após o café, decidimos caminhar até o Parque Tenente Siqueira Campos, a poucos metros do museu. Enquanto andávamos, senti Rodrigo mais perto de mim e, de repente, sua mão procurou a minha e ambas ficara roçando por um bom tempo, sentindo o contato da pele um do outro. Por fim, Rodrigo decidiu entrelaçar seus dedos sobre os meus, surpreendendo-me com a ação. Parecíamos um casal de verdade, caminhando na Avenida Paulista.
— Desculpa — disse ele, mas não pareceu nem um pouco arrependido. — Estou querendo fazer isso desde o metrô.
—Tudo bem — garanti, segurando firme a sua mão. — Em algum planeta, deve ser assim que as pessoas se cumprimentam. O cachorros não cheiram o... Bem... Você sabe.
Eu ia me arrepender de ter dito uma idiotice como aquela, quase iniciando um xingamento mental. Contudo, Rodrigo virou-se para mim e começou a rir de uma forma contagiante. Ainda meio sem graça, envolvi-me em sua risada, adorando o fato de tê-lo divertido.
— Cecília, você é uma figura — sorriu.
Ao chegarmos na entrada do parque, exploramos um pouco aquela natureza no meio do caos cinzento. Eu sempre achei incrível essa quebra de cenário na Avenida Paulista. De repente, dava para escapar do asfalto e dos prédios altos, e deixar que as árvores e a vegetação preenchessem os nossos olhos. Era um pouco de oxigênio após respirar tanta poluição.
Andamos mais um pouco, encontrando pessoas que, assim como nós, aproveitávamos o sábado naquele paraíso pequeno. Algumas crianças andavam de bicicleta com seus pais; outras gritavam ao redor das árvores; casais passeavam de mãos dadas e eu gostei de pensar que Rodrigo e eu, naquele instante, parecíamos um.
— Cecília — sussurrou ele. — Já disse que amo esse nome? É tipo Cecília Meireles, e eu gosto muito dos poemas dela.
— E eu amo o seu nome.
— Pois é, deu pra notar — concordou de forma cômica. — Por que gosta tanto dele?
— Nada, não. Besteira minha.
— Se eu contar uma "besteira" minha, você conta a sua?
Concordei e nós fomos sentar em um banco solitário do parque, afastando-nos das outras pessoas que curtiam o fim de semana.
— Eu componho músicas muito ruins, por isso só eu posso escutá-las.
— Isso não é uma "besteira" — contestei. — E aposto que não são ruins.
— É uma "besteira", sim, sério mesmo — garantiu, juntando os dois dedos como no juramento de escoteiros. — Eu sou péssimo em compor músicas, mas gosto de escrever quando estou sozinho, na sacada do meu apartamento. Pego o violão e começo a cantar pra lua, tipo uma serenata.
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Nunca Fui Beijada | DEGUSTAÇÃO
ChickLit[DISPONÍVEL NA AMAZON] A vida de Cecília sempre foi resumida ao tédio. Na adolescência, perdeu bons momentos de diversão para se dedicar ao máximo aos estudos do colégio, obtendo, assim, sucesso em suas notas. Terminado o Ensino Médio, a garota come...