Uma história de superação

Capítulo 3

_Clara, ta doendo.- escuto minha irmã falar chorando.

Sento no colchonete, olho ao redor e vejo todas as meninas soluçando de tanto chorar, abraço Júlia e começo a chorar com ela.

Pela primeira vez na minha vida, me sentir um lixo, me sentir impura, sem valor, me sentir um objeto. Mais logo me recomponho, ao ver minha irmã, me olhar e parar de chorar, Enxuguei minhas lágrimas, e olhei para ela seria.

_Clara.- ela diz meu nome bem seria.-_ Eu sabia que isso iria acontecer.- pausou e suspirou.-_ Eu sei que a probabilidade de Gabriel conseguir nos ajudar é mínima, eu não sou burra, tão pouco criança, o importante agora é ficarmos juntas.

A olhei seria me dando conta de que ela cresceu, eles crescem tão rápido.

_ Jú, eu não sei se vai ficar tudo bem, sinceramente eu não tenho noção, a única coisa que eu sei, é que eu to me sentindo a pessoa mais podre do mundo.

_ Clara, podre é quem tem a covardia de estuprar alguém, nós somos apenas um erro do destino.- disse olhando para o nada meio aérea.-_ As vezes eu penso que seria melhor se a gnt também tivesse naquele carro.

Olhei para ela e engoli seco, essa não é a minha irmã, aquela menina doce, frágil, e alegre. Eu queria que Gabriel tivesse aqui, ele sempre sabe oque fazer, oque dizer, como agir, sem ele eu tô perdida.

_ Para de falar besteira, os nossos pais estão cuidando de nós seja lá onde estão.

_Clara, se eles realmente cuidassem de nós, não estaríamos aqui.- fala quase num sussurro, como se tivesse convencer disso e já com a voz embargada, ela diz.-_ Se cuidassem do nós, não seríamos estupradas..       

Sinto minha garganta fechar ao ouvir oque ela falou, talvez eu realmente estivesse me iludindo, talvez eles tivessem apenas evaporado no espaço, assim como também iremos.

Me levantei e fui para um canto de uma parede e me encostei lá, e apenas chorei, como se não houvesse amanhã, ou melhor, eu nem sei se vai existir amanhã, eu só sinto minha alma se evaporar aos poucos.

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          Narrado por Ana Júlia

Quando vi ela simplesmente se levantar, e ir para o canto da parede sem expressar nenhuma emoção, logo em seguida de chorar desesperadamente, sentir o pesar das minhas palavras, eu não queria magoar ela, eu só não aguento mais isso, sabe eu lembro de tudo oque aconteceu ontem, cada detalhe, foi horrível, eu simplesmente não conseguia fazer nada, era como se não tivesse no meu corpo, só pudesse assistir oque faziam com ele, foram três homens, que tiram minha alma, minha alegria, minha vida, ao abusar de mim assim, eles não só destruíram meu corpo também destruíram minha alma, naquele dia, eu morri.

_Ei, qual é o seu nome?- me pergunta a menina, que falou com minha irmã ontem.

_Júlia, Ana Júlia! E você?- a olhei, pensando no porque dela vir falar comigo.

_Vitoria, você se lembra do que aconteceu ontem?- perguntou me fazendo questionar se ela lembrava ou não.-_ Porque eu não lembro, mais acordei com muita dor, eles abusaram de mim né?

A olhei, pensando no que falar, ela parecia ter minha idade, ela era bonita, só tava suja como todas nós, era negra com os cachos lindos, já eu era muito branca, me chamavam de leite azedo na escola, olhei para ela e lembrei de sua pergunta e apenas afirmei com a cabeça sem olhar em seus olhos.

Ela baixou a cabeça e deixou uma lágrima escapar, parecia ta lembrando de algo.

_Eu fugi de casa.- disse pensando em suas palavras.-_ Depois que minha mãe morreu, eu fui morar com meu pai, mais ele começou a me olha diferente, eu achava que era coisa da minha cabeça, eu tinha 7 anos quando ele abusou de mim, depois disso eu fiquei procurando um jeito para fugir de lá, até que achei e fui morar na rua.- pensou mais um pouco e falou.-_ a propósito, eu tenho 12 anos.

Senti uma lágrima escorrer do​ meu rosto, ao ouvir sua história, eu ao menos tinha meus irmãos, ela não tinha ninguém, eu a abracei e ela começou a chorar, depois disso conversamos, sobre nossas antigas vidas.

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