Como Fumaça.

Final Alternativo.

Os raios do sol que adentravam pela cortina me diziam que havia acabado o nosso tempo cedo demais. Uma noite era pouco para aquilo que desejava. E a cada ritual que era  feito, meus sentimentos eram elevados e sua aparição cada vez mais reduzidas.
Lembro que a primeira vez durou quase 72 horas, e foi diminuindo gradativamente, e cada vez mais. De uma hora foi diminuída para três, logo para cinco, para depois sete horas a menos,... Para chegarmos as míseras sete horas de duração.
O que me fez levantar abruptamente, pois agora que me vinha a mente que desta vez, fora somente uma hora e não as sete que deveriam ser.
Comecei a me levantar rapidamente e colocar a primeira roupa que encontrava. Estava começando a sentir o pânico tentando me engolir. E eu não poderia ter uma crise estando sozinha. Desta vez poderia ser fatal, dado ao fato de ter acontecido esta mudança drástica no tempo de duração.
Corri para a casa de Lucas, que já me esperava na varando pronto para me abrigar em seus braços. Comecei a sentir meu corpo tremer e a minha respiração estava cada vez mais difícil, parecia algo impedindo que o ar saísse de meus pulmões.
Conseguia ouvir a voz de Lucas ao longe, mas não conseguia entender nada do que era dito.
As palavras de minha avó começaram a me rondar, me lembrando de suas palavras...
"Lembre-se minha FlaBebeé, seu ritual não deve ser feito por tantas vezes. Mesmo com o tempo de espera de um e outro, é perigoso para você se não seguir o que sua Flarges está a lhe falar. Pois este ritual se enquadra nos de amor, e você sabe o que acontece com quem os invoca... Você pode se perder para nunca mais voltar, ou pode aparecer alguém que não deveria estar aqui. Por mais forte que seja sua vontade, por mais forte que seja seu desejo, ele pode se realizar, mas não da forma que desejas..."

Estava perdida. E não havia nada a minha frente, a não ser o breu. A escuridão que me envolvia a cada passo que eu dava, que eu pensava este dando, pois eu olhei para baixo e não via meus pés se movendo. Tentava manter a calma, pois eu poderia precisar de minhas energias logo.
Flashes começaram a aparecer em meu campo se visão. Eram momentos que eu havia passado com minha Vó, e outros com meu vizinho. O que eu não entendia era o que eles tinham a ver um com o outro, se nunca se conheceram...
Não! Não pode ser, será que...
Acontecimentos que eu acreditava ser coincidência começaram a passar em minha frente onde Lucas aparecia, vezes para me salvar em diferentes ocasiões e outras em que ele estava ao meu lado. Como se fosse meu anjo... Nós tínhamos anjo?
E como que para responder minha pergunta, começou a passar algo que nunca presenciei... Meu amado estava conversando com alguém, mas eu não entendia nada. Até que a outra pessoa se virou depois de apertar a mão dele. E quando ele se virou, os corpos foram trocados, como se fosse uma troca de imagem. Meu amor virou o Lucas e o que era o Lucas virou... NÃO!
- NÃO!!! Não poderia ser verdade! Ele não faria isso comigo! Ele teria me contado! - estava gritando para o além. - Ele não seria capaz disso!
A imagem a seguir foi de "Lucas"acordando e recebendo a notícia que iria se mudar para outro local, ter outra profissão e que não lembraria de quem era...
- Então... Ele estava comigo esse tempo todo? Esteve sempre ao meu lado?
E o que eu vi a seguir me deixou sem chão...
O que deveria ser aquele que amava, estava com a minha vó... Ela estava gritando desesperada. Ele ria de forma maléfica, ela começou a entoar palavras desconexas, e desconhecidas por mim, até então. Ele se enfureceu e a levantou pelo pescoço, mas ela continuou sem se importar com a tentativa de interrupção. Ela estava perdendo as forças quando seu último sopro voou para longe e ele não conseguiu alcançar. E o destino deste sopro foi... Lucas...
- Mas por que? Por que ela escolheu a ele? Ela prometeu que nunca me deixaria!
A imagem de minha Vó começou a tremer em minha frente e foi como se fosse em um filme, ela saindo da tela e vindo até mim.
- Minha FlaBebeé, minha doce FlaBebeé, eu tentei lhe avisar. Não deves provar que pode, não quando o assunto é amor... Não se poder ir contra a natureza... E o amor é a força mais forte que existe.
- Vovó! - tentei chegar perto para abraçá-la, mas ela se distanciava a casa passo dado. - O que está havendo Flarges? Não estou entendendo.
- Oh, my sunshine. Avisada você foi sobre sofrer consequências. Te pedi tantas vezes para fazer este ritual com precaução. Existem forças maiores que nós, e como tudo neste universo, existe o bem e o mal. E todos nossos atos, por mais puro que seja, tem consequência... - Minha Vó foi se distanciando a cada frase. - Tome cuidado com seus desejos FlaBeBeé. Eles podem ser interpretados erroneamente por aqueles que não deveriam.
Minha Vó sumiu, o que me fez escutar somente suas palavras finais.

Tentei me acalmar para poder tentar entender onde estava como também sobre os acontecimentos que me foram mostrados e as palavras de minha avó. De uma coisa eu tinha certeza, eu precisava sair daqui o mais rápido possível. Antes que seja tarde demais e fique aqui pela eternidade...

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Não sei quanto tempo fiquei parada, no mesmo lugar, como uma estátua. Só sei que entrei em uma espécie de transe, o que fez com que uma fagulha se acendesse em minha mente. Um encantamento que minha avó me ensinava freqüentemente, dizendo que um dia precisaria... E este dia chegou mais cedo do que imaginei.
Comecei a entoar o feitiço em um sussurro inaudível para ouvidos humanos, como Flarges instruiu.

O local ao meu redor começou a tremer e a desfocar, meus olhos reviraram e tudo se apagou. Minutos depois abri meus olhos vagarosamente, piscando para me acostumar com a iluminação direcionada a mim. Ao meu redor tudo era negro como a noite sem lua e estrelas, o único lugar com iluminação era onde estava. Mas mesmo naquele breu, senti que não estava sozinha, havia algo ou alguém junto a mim, mas eu não conseguia distinguir quem poderia ser, os pelos de minha nuca e braços se eriçaram e um mal presságio me assolou, fazendo com que ficasse em alerta para qualquer movimento ou ruído, mesmo não conseguindo enxergar um palmo a minha frente.
Estava sendo rodeada por quem quer que seja. Conseguia sentir que este ser estava andando em círculo ao meu redor. O ar  do local começou a ficar pesado, sombrio, dando a sensação de ter um peso em cima de mim, me impedindo de me mover e até mesmo respirar.

Comecei a sentir como várias pessoas estivessem me segurando, várias mãos começaram a me rodear, me puxar, tentando me arrancar do lugar. Uma risada começou a ser ouvida e as mãos que outrora me seguravam, foram sumindo, como se estivessem com medo de algo ou alguém.
Tentei sair do lugar, mas não consegui. Tentei gritar, mas minha voz não saia, e quanto mais tentava, mais difícil ficava para respirar, como se alguma coisa impedisse que o ar ou a voz saísse de minha garganta, me sufocando. Minha vista começou a embaçar e senti que estava tonteando e antes de apagar, consegui visualizar um sorriso demoníaco.

Acordei em um lugar montanhoso, sem cor, a não ser pelos tons de preto e vermelho, o que me fez lembrar das ilustrações que vi na mitologia grega sobre o local onde Hades reinava. E como todos nós, seres sobrenaturais, sabíamos, as ilustrações da mitologia nada mais era que visões de nosso mundo obscuro para olhos humanos. E olhando ao redor, eu sabia onde estava...
Estava presa, por toda a eternidade, no submundo.
E tudo o que eu acreditava, tudo o que eu conhecia, tudo o que eu aprendi foi se esvaindo de minha mente, de meus poros Como Fumaça.