DECISÃO

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"Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências."

- Pablo Neruda


– Você só pode estar completamente louco.

Vladimir quase sorriu, pois era a segunda vez em menos de duas horas que alguém lhe dizia isso.

– Muito pelo contrário, Gabriel – encarou o amigo com algo muito parecido com diversão refletido em seus olhos azuis – talvez seja a decisão mais sensata que já tomei em anos.

Os dois formavam uma dupla bem peculiar – Stephanovit, com seus cabelos negros, postura austera e terno bem cortado, e Gabriel Peterson, com seus cabelos loiros, sorriso fácil e olhos castanhos.

– Vladimir, não é só por se tratar de um crime, que provavelmente arruinará sua carreira e a boa imagem do escritório – tentava a todo custo enfiar um pouco de razão no amigo – mas uma completa sandice, você não conhece essa mulher, não deve confiar nela.

– Não preciso.

– Não sabe muito sobre casamento, não é?

– Sei, para meu total desgosto – respondeu.

– Deus, isso tem a ver com seu pai e essa maldita imposição? – Gabriel perguntou, exasperado – como pode ser tão idiota a ponto de fazer exatamente o que ele quer?

Muitas poucas pessoas tinham coragem – ou petulância – o bastante para lhe tratar assim, mas Gabe era seu melhor amigo, e o conhecia a tempo demais para se deixar intimidar.

Eles haviam se visto pela primeira vez na secretaria da faculdade e tinham se transformado imediatamente em inimigos declarados – obrigados por uma ironia do destino, a dividir o mesmo quarto.

Peterson era seu oposto; engraçado, despreocupado, mulherengo e algumas vezes, completamente inconsequente. Porém, com o tempo – e a compreensão de que teriam que se aguentar por mais alguns anos – Vladimir descobriu no outro um homem extremamente inteligente e perspicaz, com um potencial incrível. Stephanovit havia se tornado a disciplina de Gabriel na época da faculdade, e o loiro – por sua vez – tinha sido responsável pelos melhores anos da sua vida – com direito a duas ressacas memoráveis.

– Não estou fazendo.

– Bem, ele exigiu que se casasse, uma coisa totalmente inviável – sorriu, mais debochado que bem humorado – palavras suas, não minhas – justificou – e aqui está você, me dando a feliz notícia.

– Foi uma decisão que tomei por mim mesmo, meu pai nunca teve poder para interferir na minha vida.

– Não entendo como exatamente está contrariando o velho – Gabe rebateu – é uma decisão importante, casamento, é uma coisa séria demais pra se fazer apenas na tentativa de agradar um sádico.

– Ele não vai desistir, nem que para isso tenha que destruir tudo que construí no processo.

– Seu velho jamais faria isso, ele ama esse lugar.

– Ele ama ainda mais o controle, principalmente, o pouco que tem sobre mim.

– Temos uma definição muito diferente a respeito da palavra "pouco" – Peterson ironizou.

Ambos travaram uma luta de olhares – nenhum querendo realmente dar o braço a torcer.

– Eu vou me casar, Gabriel – e essa simples frase deixava bem claro que nada que o outro pudesse dizer, o faria mudar de ideia.

AMOR POR CONTRATO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora