VINGANÇA

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"Dizem que a vingança é doce; à abelha custa-lhe a vida"

  - Carmen Sylva


Enquanto Vladimir engolia sua raiva mal disfarçada, do outro lado da cidade, uma mulher contava os segundos, inundada de medo e ansiedade.

Perpétua havia assistido em um programa de TV sensacionalista o anúncio do noivado do candidato Robert Willian Boldari, um homem jovem, alto e atraente, que com carisma e inteligência subia cada vez mais seus pontos de popularidade para as eleições daquele ano. A futura senhora Boldari, também uma mulher bonita, loira, elegante e com sorriso suave, contou como tinham se conhecido e engatado no relacionamento.

Os dois juntos eram perfeitos, o pacote completo do comercial de pasta de dente.

Sem problemas.

A não ser o fato de Robert Willian Boldari, provável futuro governador da cidade de Nova York, ser seu namorado a mais de três anos.

A maçaneta da porta girou, a mulher inconscientemente prendeu a respiração – como se assim pudesse parar o tempo e se preparar para a guerra que estava por vir – passou as mãos suadas na perna da calça jeans tentando acalmar-se, esperou.

Robert trajava um terno preto, feito sob medida, com a gravata frouxa no colarinho da camisa branca, os cabelos loiros bagunçados de um jeito chique descuidado que só o fazia parecer mais sexy.

Seus olhos verdes não se arregalaram com surpresa quando a viram, apenas refletiram cansaço e resignação – a mesma expressão que demonstrava, ela sabia, quando tinha que ir a um jantar eleitoral chato, mas necessário.

– Perpétua – Robert suspirou seu nome.

– Robby – sua voz tremeu com pesar – diz que não é verdade, por favor.

– Está tarde e não posso ter essa conversa agora – disse com complacente no lugar de respondê-la.

– Você não pode ter essa conversa agora – gritou indignada – acabei de descobrir sobre o noivado do meu namorado pela droga da TV e você não pode ter essa conversa agora?

– Pretendia te contar, mas as coisas aconteceram rápido demais e fugiram do meu controle.

– Há quanto tempo vem me traindo com ela? – Perpétua levantou-se do sofá onde o esperava por quase cinco horas, cortando a distância que os separava.

– Esse não é o ponto, nós precisamos conversar sobre o que faremos daqui para frente – usou o mesmo tom imperioso que falava com os assessores quando queria que algo fosse feito exatamente da sua maneira.

– Quanto tempo? – repetiu, irredutível.

Robert abriu a boca para repreendê-la, porém quando encarou seus olhos castanhos e percebeu que se não respondesse à pergunta nada viria dali, passou a mão pelo cabelo, frustrado.

– Um ano e meio, conheci Elena em uma festa de ano novo, era uma reunião política e você tinha viajado para o Brasil – disse sem nenhum sentimento de arrependimento ou culpa, a traição não significava absolutamente nada para ele.

– Como pôde fazer isso comigo? – as últimas palavras foram ditas aos berros – seu desgraçado infiel.

Lágrimas de humilhação queimavam em seus olhos, mas jurou para si mesma que não as derramaria.

Não por ele.

– Não seja dramática, mantive minha relação com Elena a mais reservada possível.

– Perdão, acho que não entendi – a voz dela destilava sarcasmo em cada sílaba – deveria te agradecer por isso?

– Não seja cínica, querida, não combina com sua personalidade – disse Robert com desprezo.

AMOR POR CONTRATO - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora