Vida nefasta

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Corpo ébrio, mutilado e cicatrizado, dopado. Ouvia aquelas canções de morte e as lágrimas faziam caleidoscópios nos seus olhos enquanto a dor se misturava ao vazio. A lâmina deslizava levemente pelo braço e seus olhos focalizavam o nada.
A moça era nova: 17 anos. Sentia-se sobrecarregada emocionalmente, rejeitada, deslocada, invisível. A música dizia que "tudo está em ordem dentro de um buraco negro", mas ela sabia que nem mesmo ali encontrava paz. Questionava-se qual era seu buraco negro. Seu coração? Sua alma?...
A lâmina passava agora pela jugular, despretensiosa e perigosa. Fechou os olhos e arfou, sentindo a pele se arrepiar como que em precipitação e, abrindo os olhos, pôs o objeto frio sobre o pulso, ouvindo as batidas do coração como tambores nos ouvidos. O sangue parecia correr veloz nas veias, quase que dizendo que era capaz de cumprir sua tarefa.
Nesse dia, chegara em casa esbaforida, atordoada por mais da enchente de ódio que despejavam sobre ela. Não compreendia porquê lhe faziam isso, nunca fizera nada de ruim a ninguém. Na verdade, sempre buscou manter distância de todos. Mas talvez ela soubesse a resposta: as pessoas eram más.
Não via perspectiva de vida em um futuro. Não vivia, apenas sobrevivia. Então cortou fundo na vertical, sentindo todo o seu medo e pesar escorrerem pelos seus dedos, tingindo de vermelho toda a sua pele e o chão. A lâmina caiu, e a moça deixou também que seu corpo tombasse.
Via o sangue jorrar incessante do pulso. Parecia a própria vida, densa e nefasta, esvaindo-se. As pálpebras pareciam pesar e já deixava de escutar as batidas do coração. Então se arrependeu. Talvez ainda houvesse esperança, ela ainda poderia conhecer o amor. Mas derramando uma última lágrima, as mãos cálidas do sono da morte a envolveram.

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⏰ Última atualização: May 26, 2017 ⏰

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