Hiroshima, 6 de agosto de 1945
Acordei aquela manhã, mais cedo do que estava acostumada. Abri meus olhos e pulei da cama no exato momento em que me lembrei do seu gosto, seu perfume tão peculiar ainda estava gravado na minha memória, e fiquei tão animada ao constatar que hoje eu o veria depois de três meses separados. Seria um encontro rápido, mas que deveria aplacar nossa saudade, pelo menos é o que eu pensava.
Coloquei meu uniforme que já estava pendurado na cabeceira da minha cama, caprichei no penteado pela primeira vez nos últimos meses e passei o batom mais vivo e brilhante que eu tinha. Quando eu me olhei no pequeno espelho, depositado estrategicamente atrás da porta do meu quarto, fiquei impressionada com o que um pouco de maquiagem pode fazer para uma mulher. Peguei o meu casaco vermelho e sai ainda no escuro da pensão na qual morava desde que cheguei em Hiroshima. Caminhei sozinha pelas ruas tranquilas da cidade até o hospital na qual eu trabalhava. Excepcionalmente hoje eu iria entrar mais cedo, para fazer um intervalo no momento exato do nosso encontro.
Ao chegar no hospital Shima, cumprimentei minhas colegas de trabalho e depois verifiquei cada paciente internado na minha ala, tudo estava tão tranquilo e calmo. A hora passou lentamente até que enfim amanheceu, eu olhei pela janela e fiquei hipnotizada observando o sol nascer tão brilhante e majestoso, o céu estava claro e azul com pouquíssimas nuvens. Apesar de estarmos em guerra, Hiroshima era uma cidade abençoada nós não tínhamos sofrido nenhum ataque aéreo até então, por isso as pessoas andavam tranquilas pelas ruas.
Eu passei as próximas horas ansiosa para que chegasse o momento de encontrar o meu amado Lorenzo, no entanto por mais que eu trabalhasse as horas não passavam, os ponteiros do meu relógio de pulso pareciam amarrados e os minutos se tornaram horas, me deixando cada vez mais frustrada. Afinal ainda faltava uma hora para o nosso encontro.
Fiz a minha ronda mais uma vez na esperança do tempo passar mais rápido, chequei meus pacientes, conversei com as outras enfermeiras que estavam de plantão hoje e exatamente 8:05 da manhã, faltando apenas quinze minutos para o nosso encontro eu deixei o hospital e segui rumo ao parque no meio da cidade, onde tínhamos marcado nosso encontro.
Segui pelas ruas o mais rápido que podia, passei por escolas lotadas de alunos que brincavam no pátio, enquanto outras crianças estavam trabalhando como voluntárias nas fábricas ou no centro construindo abrigos, cruzei com mulheres segurando seus bebês que seguiam apressadas pelas ruas, nesse horário quase toda a população da cidade estava seguindo para seus compromissos diários, se não fosse pelo meu encontro eu estaria saindo de casa agora também.
Quando estava quase chegando ao meu destino, olhei no relógio e eram 8:09, por isso ainda teria tempo para chegar ao parque no qual eu já podia avistar do ponto onde eu estava parada. Observei as lojas que ficavam nesse trajeto e vi um pequeno restaurante, ele teria que servir para o meu propósito. Parei de andar e entrei no estabelecimento, com a ajuda de um funcionário encontrei um pequeno banheiro no sótão, o lugar estava escuro e com certeza não via limpeza há muito tempo, mas eu precisava de um lugar para retocar a minha maquiagem antes de me encontrar com o Lorenzo, por isso aceitei de bom grado o banheiro que me ofereceram.
Eu estava de frente para um minúsculo espelho, passando meu batom vermelho, a exatamente alguns metros abaixo do solo num banheiro imundo. Quando ouvi uma explosão que paralisou minha mão, o espelho rachou e caiu no chão, quase que os estilhaços param no meu rosto, o chão sobre os meus pés tremeu, sem nenhuma razão aparente, por isso eu me encolhi num canto, fechei meus olhos e esperei esse barulho ensurdecedor passar, algumas coisas caíram na minha cabeça, enquanto eu estava imóvel sem saber o que fazer.
Pensei no nosso último encontro há meses atrás, ele teve um dia de folga depois que retornou para essa maldita guerra e conseguimos nos encontrar no mesmo parque que combinamos de nos ver hoje, foi um dos dias mais felizes da minha vida. Assim que eu o vi parado numa pequena ponte me esperando, corri na sua direção, coloquei meus braços em volta do seu pescoço e puxei sua boca para a minha, num beijo intenso de saudade. Enquanto suas mãos desceram pela minha cintura me puxando de encontro ao seu corpo, a lembrança estava tão viva na minha memória que eu podia sentir o seu cheiro amadeirado e cítrico.
A primeira coisa que me lembrei ao abrir meus olhos foi no Lorenzo, será que jogaram uma bomba no pequeno restaurante e agora como vou encontrar ele? Eu fiquei me perguntando isso a todo momento, enquanto estava sentada no chão sujo do banheiro. Minha cabeça doía um pouco, pois eu devo ter batido em algum lugar durante a explosão, por isso ainda estou um pouco desorientada.
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Olá! Pessoal, escreva aqui o que acharam do conto, estou ansiosa para saber a opinião de vocês.
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Um Amor na Guerra
Short StoryA emocionante história de uma jovem enfermeira japonesa que sobreviveu ao terror durante a segunda guerra mundial e ainda conseguiu encontrar o amor nos braços de um soldado italiano.