"Quando tudo que você ama é roubado de você, às vezes tudo que resta é a vingança"
Lá estava eu depois de alguns anos de volta a escola, nunca podia imaginar que me daria essa decepção novamente, mas na vida nem tudo é como a gente quer. Olhei bem pra cima, mirando aquele prédio enorme, talvez um dos maiores da cidade, e não gostei do clima ruim que senti, ali mais parecia uma penitenciaria. E era assim mesmo que eu lembrava de me sentir quando ainda era obrigado a frequentar as aulas, preso e sufocado.
Desde que ganhei idade suficiente pra resolver minhas próprias paradas, sejam elas boas ou ruins, eu nunca mais havia sequer pisado em um colégio. Sempre tive o pensamento de que as ruas me ensinavam bem mais do que ficar 5 horas por dia ouvindo velhotes lerem livros que foram escritos há séculos. Mas agora era por uma boa causa, tentei me convencer, eu precisava fazer aquilo. Olhei mais uma vez para o prédio e fiquei imaginando que seu interior deveria estar cheio de patricinhas e playboyzinhos metidos a besta e isso me deu menos vontade de entrar, eu simplesmente não suportava ricos metidos a besta e que acham que podiam tudo. Mas, com um suspiro forçado, eu tomei coragem e com o pé direito entrei ao prédio. Veio alguns olhares curiosos em minha direção, mas os ignorei focando no papel na minha mão que dizia pra onde eu deveria ir.
Faltava pouco para o sinal tocar, fiz um esquema certinho pra não ter que esperar muito, então, achei minha sala e procurei por um lugar vago lá no fundão. Isso iria me livrar do trabalho de não ter que me socializar com ninguém. Devagar os alunos começaram a entrar e eu cada vez ficava mais puto com a situação, começava a me arrepender, mas já sabia que seria assim, por isso me conformei. A professora, cujo nome não prestei atenção, entrou na sala e começou a dar sua aula entediante. Essa era uma das vantagens em começar no meio do ano, não existia toda aquela caralhada de apresentações.
Fiquei brisando enquanto a aula acontecia na minha frente e nem me dei ao trabalho de prestar atenção, eu não iria entender mesmo. Eu só conseguia pensar numa única coisa: eu precisava encontrá-lo. A cada instante que eu passava dentro daquele maldito inferno, mais eu ficava ansioso por estar próximo ao meu objetivo. Iria dar um pouco de trabalho achá-lo numa escola tão grande, mas eu estava determinado a isso.
As aulas foram passando como um borrão pra mim e em partes eu agradeci por isso, minha cabeça estava cheia demais pra me preocupar com o tédio infernal que era ter que aguentar tudo aquilo outra vez. Só fui obrigado a sair do meu canto, quando em uma troca de aulas um professor veio falar comigo:
-Ei, você é novo por aqui, né?
Um velho gordo e ranzinha parou sua aula pra fazer essa pergunta em alto e bom som, fazendo com que a sala inteira se virasse pra mim. Odiei ele internamente.
-Sim, consegui uma bolsa de estudos e me transferi pra cá – Menti tranquilamente enquanto eu podia escutar alguns chiados.
-Uma bolsa? – Ele perguntou assustado. – Esse colégio só da bolsa a quem realmente merece. Você deve ser muito inteligente, não é?
-Gabaritei a prova – Respondi orgulhoso, mas sem motivos nenhum. Tudo havia sido uma grande mentira.
-E qual é seu nome garoto? – Ele voltou a perguntar, eu já começava a ficar irritado com aquilo.
-Joaquim Ferreira... mas pode me chamar de Kim.
Ou melhor, não me chame, completei mentalmente. Depois disso a aula voltou a seguir, mas claro, eu às vezes notava alguns olhares em minha direção e sabia exatamente o que aqueles idiotas estavam pensando. Isso só me deixava mais grilado.
Em algum momento, fui informado de que a próxima aula seria educação física e eu teria que me trocar para fazer as atividades, agradeci, pelo menos iria sair daquela sala. Já no vestiário, comecei a trocar meu uniforme de aula para o de ginástica e bolava uma desculpa para não praticar nenhuma atividade em grupo, dor de cabeça talvez. O local já estava cheio de caras fazendo o mesmo e com mais animação do que eu, me troquei em silencio, pois não queria interação com nenhum deles e acho que eles perceberam isso.
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Pela Honra do Meu Pai
Short StoryKim presenciou o pai se matar por um crime que até hoje ele duvida da veracidade dos fatos. Em busca de vingança, ele vai ser capaz de regressar a um colégio, se aproximar do filho do homem que ele julga responsável por toda essa tragédia e começar...