3 - Doente de Amor

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Joyce dormia profundamente, estava amarrada à cama, pois tentara se machucar novamente, tentara matar o próprio filho.

— O que houve com ela? Cadê o pai dessa criança? Dela também, né?

— Ela se apaixonou por um homem casado, pelo jeito esse homem fez isso com ela, a enlouqueceu dessa forma, pois ela chegou aqui dizendo que esse filho estragou sua vida e que para ser feliz precisava se livrar dele.

Joyce foi criada com um meio irmão, a mãe e o padrasto, aos olhos de sua mãe, a menina era muito bem tratada pelo marido, mal sabia ela que ela sofria abusos diariamente.

Aos doze anos de idade, Joyce fugiu de casa, ficou pelas ruas por um tempo, depois foi levada para um abrigo por Euclides. Ele foi o pai que ela não teve, mas a levou de volta para casa, depois de dois anos ela foi ao abrigo tentar encontrá-lo.

Euclides estava viajando naquele exato dia, Joyce não desistiu e passou a frequentar o abrigo todos os dias até que um dia Euclides entrou na sala e foi visto por ela.

Aquele homem que cuidava de crianças abandonadas e tinha um abrigo que resgatava crianças na rua, mostrou-se de índole duvidosa ao se deixar levar pelos encantos e insistência daquela menina de 15 anos.

Apaixonada, Joyce passou a viver um romance com o homem que a resgatou da rua.

Euclides decidiu não ir adiante com aquele doente relacionamento. Sabia que era errado, mas não conseguia ficar longe de Joyce.

Movida pelo calor da paixão, Joyce contou sobre seu relacionamento com Euclides para Paula, a esposa dele, que ficou furiosa e o denunciou.

Euclides foi preso e escorraçou Joyce de seu abrigo, depois ele mesmo foi expulso do local, acusado de pedofilia.

— Você é mesquinha, garota. Eu errei por tê-la tirado da rua, eu devia ter deixado você morrer de frio e de fome. — ralhou com o semblante abatido. Passou três meses preso, depois a própria esposa pagou advogado para tirá-lo da prisão. — Estou respondendo a processo por sua causa.

Joyce se desesperou com aquilo, tentou se matar e foi socorrida pelo amante.

Euclides não conseguiu se conter e foi para a cama com a menina novamente. Joyce ficou grávida e Euclides foi preso novamente.

Paula pediu o divórcio e deixou o marido preso, não moveu uma palha para tirá-lo da prisão.

Joyce tentou se matar e foi parar no hospital onde Lila atendia. Foi encaminhada para um grupo de apoio a adolescentes grávidas, parou de frequentar o grupo quando soube que Euclides fora solto.

— Agora você pode ficar comigo, não é mais casado.

— Não vou ficar com você, Joyce. Você está grávida e nem sei quem é o pai. Vá atrás dele. Eu não quero mais você, ficar grávida acabou com sua vida.

— Esse filho é seu. Nunca fiquei com ninguém além de você. Por favor, acredite em mim, eu amo você, você vai ser pai desse bebê. — disse em lágrimas.

O homem se manteve, abriu a porta para ela sair.

— Eu não vou ser pai de ninguém. Saia daqui e não volte mais a me procurar.

— Esse filho é seu. Você pode não querer ficar comigo, mas é seu filho.

— Eu fico com você. Mas livre-se desse filho que não é meu.

— Eu vou fazer isso.

— Não volte aqui até se livrar desse filho ou vá procurar o pai dele.

— O pai dele é você! — disse quase gritando e saiu desnorteada.

Tentou de todas as formas matar o próprio filho, como não conseguiu, tentou machucá-lo e voltou ao hospital fazendo Lila controlá-la à força.

— Ela acha que ama e acha que ele está certo em tratá-la assim. — disse Lila com semblante triste. Cuidaria daquela menina, mesmo contra a vontade dela.

Joyce começou a sentir fortes contrações quando entrou no sexto mês de gestação. Lila fez uma cesariana de emergência, depois das várias tentativas da jovem de se 'livrar' do próprio filho o bebê nasceu prematuro e cheio de problemas de saúde.

Elaine precisou fazer uma cirurgia em seu pulmão, enquanto Joyce estava na UTI. O menino passou seis meses para se recuperar, passou por três cirurgias.

— Se ele sobreviver é um milagre. Não estamos confiantes.

Quando Joyce saiu da UTI e já conseguia andar sem ajuda de ninguém, precisou apenas de uma pequena distração dos funcionários da ala psiquiátrica para fugir e ir embora dali deixando o filho para trás.

— Ela é só uma vítima. Vou procurá-la...

— Acho melhor você não se envolver tanto, procure apenas os parentes para entregar o menino que já pode ir para casa. — disse o chefe de Elaine.

Elaine foi pessoalmente procurar informações da moça e encontrou a mãe dela.

— Eu sou a doutora Elaine Fernandes, preciso falar com a Joyce com urgência.

— Tem meses que não vejo Joyce, doutora Elaine. Aquela lá é louca. Andou pela casa do meu irmão, mas saiu de lá sem falar para onde ia, depois ficou na casa do irmão do meu marido e desde então não ouvi falar mais. Andou arrumando barriga por aí deve estar com o pai do filho dela.

— A senhora sabe onde posso encontrá-lo?

— Ele era dono do abrigo Criança Feliz, andou sendo preso por causa dela, duvido que queira saber daquela louca, mas deve dizer alguma coisa. Acredita que foi capaz de dizer que meu marido, um santo homem, mexeu com ela? É louca. Jamais ele faria isso.

— Estou com o filho dela no hospital, a direção precisa entregá-lo para a família.

— Eu não quero nem saber de filho dela, mal posso cuidar dos que já tenho aqui. Entregue para alguém, doutora, esse menino vai ser mais bem cuidado por outra pessoa, minha filha enlouqueceu, não tem a menor condição de cuidar de uma criança, ela tem a mente desse bebê. Me faça esse favor, entregue esse menino para alguém, ela só tem 16 anos, quem decide sou eu mesmo, então estou decidindo já. — disse e mencionou fechar a porta, pois conversavam enquanto Elaine estava na calçada da casa e a mulher dentro apenas com parte da porta aberta.

— Eu entendo a senhora, mas essas coisas não funcionam assim. Para entregar uma criança para adoção é preciso todo um processo, assinar...

— Você tem esses documentos, doutora? Eu assino qualquer coisa, só quero me livrar dessa preocupação.

— Não, minha senhora, eu não tenho essa papelada, mas posso providenciar se é assim que...

— Tudo bem. — disse e bateu a porta.

Elaine respirou profundamente e olhou em volta, saiu de lá com um nó na garganta e uma decisão tomada.

— Eu fui procurar a família da Joyce, a mãe dela não tem ideia de onde a filha possa estar e nem quer saber do menino.

— Eu notei que você se apegou a esse garoto...

— Sim, foram seis meses cuidando. Ele se acalma quando o pego no colo. Como alguém pode não querer ficar com ele? Ele é tão fofo, tão lindo...

Lila a levantou segurando suas mãos e a abraçou com força.

— Vamos procurar a Joyce? Não sabemos o que pode ou não dar errado com a adoção desse menino ou o seu destino.

— O que você está querendo dizer? — indagou olhando em seus olhos com um sorriso molhado no rosto.

— Que podemos ser mães dele. Devemos isso a ele... — disse sorrindo e a beijou com carinho.

— Você faria isso?

— Nós vamos fazer. Vamos procurar a Joyce.

Depois daquele dia as duas travaram uma luta para adotar o garoto, a família dele estava disposta a colocá-lo para adoção, o problema foi encontrar Joyce e família, que sempre se esquivava quando procuravam algum contato.

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