the cake; pt1

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"Amanhã teremos tempo nublado na maior parte do dia, embora..."

Flip.

"... os menores preços que você já viu..."

Flip.

"My love is on fire..."

Flip.

"Vive num abacaxi e mora no mar? Bob Esponja Calça Quadrada!"

Flip.

— Será que dá pra parar de mudar de canal?! – eu exclamei finalmente, fechando a revista na qual eu tentava inutilmente me concentrar.

Ele voltou os olhos infinitamente pretos em minha direção, me lançando um sorrisinho sarcástico antes de lentamente erguer o controle remoto outra vez.

Flip. Flip. Flip. Flip. Flip. Flip.

Eu contei dez segundos de trás para frente, fechando os olhos e tentando conter meu surto de raiva. Era um truque que eu havia lido em um dos milhares de livros de auto-ajuda que eu comprei para me ajudar a sobreviver os meses de espera até a chegada da carta da faculdade. Não conseguiram me fazer superar minha ansiedade, mas nos últimos tempos andavam se revelando bem úteis ao me ajudarem a controlar o impulso de assassinar Jeon Jungkook com o facão da cozinha.

Ele ainda me encarava quando voltei a abrir os olhos, a provocação escrita em cada linha de sua expressão. Lancei a ele um olhar feio que o fez apenas alargar o sorriso antes de voltar a atenção para a TV a sua frente, se ajeitando no sofá e voltando a zapear os canais. Eu apertei com força o braço da poltrona na qual eu estava, desejando que o inocente material estofado fosse o pescoço de Jungkook. Lá estava ele, largado no meu sofá, um braço descuidadamente apoiado atrás de sua cabeça, as pernas abertas e os jeans caindo perigosamente baixos em seu quadril. Ele era tão cheio de si, tão irritante, tão idiota, tão... Gostoso, sexy, deliciosamente cafajeste...

Oh, sim. Eu tenho uma queda gigante pelo imbecil filho da mulher do meu pai.

"Filho da mulher do meu pai". Estranho, eu sei. Mas eu prefiro isso à "filho da minha madrasta". Ou pior, "meio-irmão". Argh! Jeon Jungkook não é nem nunca vai ser nada sequer perto de um irmão pra mim. Ele é só o cara que eu quero ver morto cinqüenta por cento do tempo.

E na minha cama nos outros cinqüenta.

Não, esse não é um caso de simples atração pela pessoa que você detesta. Porque se eu for totalmente sincero, terei que admitir que não odeio Jeon tanto assim. Na verdade, eu gosto dele. Mas odeio a necessidade que ele parece ter de tornar minha vida um inferno. Não só com as constantes implicâncias, armações e etc... Mesmo sem isso, ele complica minha vida simplesmente existindo. Existindo com seus olhos pretos, voz sexy, corpo perfeito... Me fazendo desejar o único cara no mundo que eu não devia querer de jeito nenhum. Porque além de aparentemente me detestar, a criatura mora comigo, é parte da minha família há um ano. Na verdade, exatamente um ano, já que hoje é o primeiro aniversário de casamento dos nossos pais.

É por isso que eu estou aqui agora, na verdade. Servindo de babá do Jungkook enquanto meu pai e a mãe dele passam o dia velejando. Jeon está proibido de sair de casa para qualquer lugar além da escola depois de ter sido flagrado pichando "DIRETORA MOMO É SAPATÃO" no lado de fora do prédio da diretoria algumas noites atrás. Tudo porque a diretora se recusou a deixar a banda dele tocar no baile de formatura.

Como nem meu pai nem minha madrasta são inocentes o suficiente para acreditar que Jeon simplesmente se comportaria, e como os dois só voltam mais tarde para sair e jantar conosco... Eu fiquei encarregado de ficar de olho na peste, já que meu pai simplesmente assumiu que eu não teria nada mais para fazer nesse final de semana. Bom, eu não tinha mesmo, mas isso não vinha ao caso. Ter um bom motivo para grudar meus olhos em Jeon por horas não melhorava em nada minha situação, além de que ficar sozinho em casa com ele era algo que sempre me deixava... Nervoso. Não acontecia muito, principalmente com nós dois sendo forçados a ficarmos tão próximos, mas quando acontecia, era algo que me deixava inquieto. Eu tinha medo que meus hormônios vencessem por saberem que não havia ninguém na casa para me tirar de cima de Jungkook caso eu o atacasse.
Eu suspirei, irritado, voltando a abrir minha revista. Se quando eu conheci Jungkook eu já soubesse quem ele era, talvez nada disso estivesse acontecendo. Talvez se eu soubesse que ele era o filho de Jihyo e a criatura mais irritante do planeta antes de vê-lo pela primeira vez, talvez eu estivesse mais preparado. Mas com a sorte que eu tenho, eu não sabia de nada disso. Então quando o vi encostado àquela árvore, usando o smoking que o deixava ainda mais sexy, não o classifiquei imediatamente como "meio-irmão". Foi algo mais como "coisa mais perfeita que eu já havia visto".
Fazia exatamente um ano. Como Jeon ainda morava em Inglaterra na época, eu só o conheci no dia do casamento. Meu pai conheceu a mãe dele em uma viagem para a Europa, e foi amor à primeira vista. Ambos eram viúvos, ambos ainda eram jovens e atraentes... Não demorou muito para Jihyo se mudar para Seul, deixando o filho com os avós até o ano letivo acabar. Eu nunca havia tido curiosidade de pedir para ver uma foto de Jungkook, e ninguém nunca pensou em me mostrar. Assim quando, ao seguir para o lago de forma a olhar os peixes, eu o vi a poucos metros de distância, tudo o que eu pude pensar era o quanto eu queria que aquele Deus grego reparasse em mim. Eu havia fugido da confusão que estava aquele rancho enquanto o casamento não começava, e lá estava ele, encostado em uma árvore, observando a paisagem. Eu devo ter olhado tanto para ele que em algum momento ele sentiu meu olhar, voltando àqueles olhos pretos na minha direção pela primeira vez. Naquele momento eu soube que estava perdido. O olhar dele me sugava, me prendia, me fazia esquecer do resto do mundo, e todos os outros clichês nos quais você puder pensar. Naquele momento eu entendi da onde vinham aqueles clichês.

love is not over ➻ jikook|kookmin Onde histórias criam vida. Descubra agora