the cake; pt3

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Não falamos nada depois disso, e o silêncio pesado nos envolveu, carregado com as coisas ainda não esclarecidas entre nós. Eu fechei meus olhos e inclinei minha cabeça para cima, achando a intensidade do olhar de Jungkook algo forte demais para suportar. Eu ainda sentia aqueles olhos me estudando, e de repente senti um arrepio apavorado tomar conta de mim.

O que eu havia feito?

Memórias começaram a me assaltar de uma só vez. Imagens de todas as ofensas que ele já me fizera, de todas as provocações... Lembranças de momentos "familiares", fotos que tiramos juntos, jantares dos quais participamos com nossos pais... As memórias se encaixavam como uma grande montagem de todos os motivos pelos quais eu não devia ter deixado isso acontecer. Eu havia passado um ano tendo certeza absoluta de que aquele garoto me odiava... Agora eu sabia que ele me desejava, mas era verdade que o que sentia por mim não era também ódio? Algumas das palavras grossas, extremamente gráficas de Jeon voltaram à minha mente, e eu senti vergonha. Agora que o desejo não dominava mais minha mente, podia lembrar de todas as sacanagens que ele havia me dito, e me senti sujo. Se ele me odiava, havia apenas me usado... Será que agora ele pensava que eu era uma puta? Eu havia deixado ele falar aquelas coisas pra mim, fazer aquelas coisas comigo... Mas eu o queria, o desejava e gostava de verdade dele, de forma que pra mim não pareceu errado. Mas e se pra ele fosse diferente? E se o que aconteceu significasse para ele só o prazer de ter o único garoto no mundo que não podia ter?

Eu puxei minha mão, a tirando do contato com a dele, e abracei meu próprio corpo, ficando extremamente ciente do quão nu eu estava – física e emocionalmente. Eu queria sair correndo dali, mas meu corpo não me obedecia. Doía ficar ali, mas doeria também ir embora. Para meu horror, eu senti lágrimas começarem a se formar. Se aquilo era só sexo para Jeon, o pior não era ter dado a ele meu corpo.

Não, o que doía é que, de alguma forma, eu havia começado a entregar meu coração.

Senti ele se mover ao meu lado, as mãos tocando meu rosto e limpando as lágrimas. O toque dele acabou com a minha imobilidade, e eu me levantei, começando a catar minhas roupas.

— Jiminie...

Meu apelido. Dito de forma simples, sem nenhuma indagação, sem se gabar... Apenas meu apelido. Eu parei, me virando em direção a ele e me surpreendendo. Jungkook não parecia preocupado. Ele parecia apavorado.

—O que... – ele disse, ainda aparentando medo e me confundindo – O que há de errado, pequeno?

—Não me chama assim! – eu exclamei, o medo de ter sido usado me dominando totalmente – Não finja que se importa! Só comece a se gabar de uma vez!

Por um momento ele não disse nada, a confusão estampada em seu rosto.

— Ajudaria se você me explicasse o porquê exatamente eu devia estar me gabando. – ele disse, em tom calmo.

—Não brinca comigo, por favor. – eu pedi, minha voz fraca, e ele me encarou, agora sim preocupado – Você teve o que quis, não teve? Pode parar de obcecar agora. Park Jimin se rendeu a você. Pode ir se gabar pros amigos! – eu concluí, seguindo para a porta.

—Jiminie, não! – ele disse, e eu parei, me voltando novamente para ele. O que eu vi em seus olhos me fez congelar ao entender o que o "não" dele significava.

Não me deixe.

—Por que? – eu perguntei, simplesmente.

—"Por que" o quê? – Jeon perguntou, vindo até mim – Por que isso aconteceu? – ele apontou para o lixo no qual nós havíamos transformado a cozinha – Você sabe porquê. E não, num foi só por uma droga de obsessão, ou pra me gabar para alguém... Céus, eu realmente te fiz acreditar que te odiava nesse último ano, não é? – a pergunta foi feita com arrependimento claro em seus olhos. Eu apenas permaneci calado, esperando ele continuar – Eu não te culpo por achar que eu sou um cafajeste. Fui eu quem te ensinou a pensar assim. Mas se eu puder te pedir que me ouça, você fará isso? Eu só quero cinco minutos. Só cinco minutos antes de você sair dessa cozinha. Se você não aceitar o que eu vou te dizer, eu te deixo ir embora e nunca mais te perturbo. Eu assenti, um pouco curioso, e ele estendeu a mão para mim. Eu a peguei, desconfiado, e deixei que ele me guiasse de volta para mesa, em seguida me sentando novamente ao lado dele.

love is not over ➻ jikook|kookmin Onde histórias criam vida. Descubra agora