Solitariedade

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Não sei o que fiz. Falei. Ou deixei de. Eles se afastaram. Como eu havia desejado. Nem todos ignoram, mas mantêm-se distantes. Por segurança. Por não aguentarem mais. Porque suas máscaras escorregaram. Quem são vocês? Quem foram vocês? Alegrias e decepções animadas. De um passado recente. Vão-se as alegrias. Permanecem as decepções. Que aparentemente somente eu consigo sentir. Minha significante presença. Ou ausência. Diferença não mais faz. Tolice seria segui-los. Coberto por um véu hipócrita. Revelei o meu ser desfigurado como anseavam. Porém, não era o que esperavam. Pouco a pouco vão desaparecendo. Valorizando suas pré-ascensões. Não oferecerei desculpas. Pois elas são insuficientes. Não irão trazê-los de volta. Não voltem! Fiquem onde estão. E se desejarem, fora da minha vista. É melhor assim. Vocês ainda unidos. Desunidos. Distantes. Uma solidariedade involuntária e voluntária a favor da minha solidão. Agradeço algumas atitudes, alegrias, palavras. Desprezo muitas. Assim como vocês desprezam várias de minha parte. E que graças a isso, será alimentada a pequena fama injusta de que carrego uma rústica máscara vil. Com isto sempre em mente, muitos optam por não aprofundar-se e sim realizarem julgamentos superficiais. Preocupado estarei com meu flanco esquerdo que ainda dói. Preocupado estarei com a minha rota de fuga que ainda está em planejamento. Vão-se! Espalham-se como uma revoada! Espalham-se como uma ratada! Deixem-me só. Como sempre fizeram. Muitos sem saber. No fim serei visto e esquecido como um medíocre antagonista secundário. Gloriem-se de seus encontros e reencontros. Dizem que até das coisas desagradáveis sentimos nostalgia. Mas disto evitarei sentir falta. Assim quero ficar. Durante várias alvoradas e crepúsculos. Fugir. Me encontrar. Acordar! Sem vocês. E mais nenhum simpatizante dos falsos sorrisos. Não vou mais ceder. Não vou. Incomodado. Iludido. Arrastado. Pare! Colabore. Não serei mais acessível. Apenas esqueçam-me. Deixem o estranho solitário vagar de fronteira a fronteira. Ainda acreditando que a fé não move todas as montanhas. Quero ficar só.

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