Prólogo

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  Numa fria noite de outono, dois guardas com armaduras acinzentadas e mantos azuis procuravam, pela floresta localizada ao norte do grande reino da família Angelis, um objeto que, minutos atrás, iluminava o negro céu noturno em chamas. Alguns moradores do reino diziam ter visto a coisa cair bem no meio das enormes árvores, esmagando troncos e queimando folhas, lá permanecendo até então. Já outros se assustaram tanto a ponto de se trancarem dentro de suas casas de pedra, rezando aos seus deuses de ouro e prata, pedindo proteção contra o demônio que acreditavam ter descido à terra em busca de sangue.

 Até mesmo o temido Rei Geanini Angelis se recolheu para os salões de seu castelo com seus filhos e esposa, mandando pequenas tropas de sua guarda para os muros do reino, e outros soldados para além deles, como os dois cavaleiros designados para o reconhecimento da possível ameaça que, mesmo sem nada fazer desde seu impacto no solo, aterrorizava um povoado inteiro.

 A floresta era densa e fria e os ventos gelados uivavam por entre as árvores gigantes, mais velhas que a primeira pedra colocada no chão para a construção do reino ao lado. Os soldados andavam quase que cegamente pelo caminho de terra, pedras e folhas secas que estalavam ao serem pisadas, sendo guiados pelo rastro de chamas que ainda permanecia no céu, se esvaindo lentamente em direção ao local de aterrissagem daquela coisa. Um desses soldados se chama Lisboa, Capitão de sua Guarda Real, que vestia um belo elmo mascarado em formato evocativo a uma coruja, numa cor levemente diferente do resto de armadura, com alguns tons verdes em meio ao metal prateado. A armadura grossa e pesada deixava o cavaleiro mais robusto, mas não o impedia de correr graças a sua força e vigor. Lisboa também carregava uma espada longa em suas costas, caso encontrasse algo menos desejável possível. O Capitão e seu companheiro corriam no mesmo ritmo e já sentiam o cansaço nas pernas e no peito, com a respiração dificultada e exaustiva pela exalação excessiva da fumaça que começava a surgir e ficava mais densa conforme eles se aproximavam do centro da floresta que incrivelmente não estava incendiada. No momento que quase mais nada era visível graças a densidade da fumaça, perceberam que chegaram ao centro da floresta onde a única coisa que podia ser vista claramente era algo em chamas, pousado ao chão.

 —Se estiver aí, criatura, apareça! — Exclamou Lisboa, com sua voz distorcida pelo metal que cobria toda parte inferior de seu rosto.

 Não obteve respostas. Os soldados, então, decidiram voltar ao reino. A ideia foi de levar água para apagar o fogo antes que ele possa se espalhar. Deram as costas ao objeto aparentemente inofensivo e começaram a caminhar de volta. O som de um passo dado no silêncio da floresta acompanhado do barulho do fogo ardendo foi suficiente para, finalmente, o despertar.  

Aquele com O Vento: Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora