Capítulo 04 - O Urso do Norte

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  Ao nascer do dia, um mensageiro se apressava pelos corredores do palácio que acabava de despertar. Parou num aposento isolado, de porta reforçada.

  — Capitão, Vossa Graça lhe enviou uma carta com urgência.

  —Por baixo da porta, por favor. — A voz de Lisboa soava mais abafada que o normal. Ele vestia um robe aveludado com capuz, cobrindo o rosto com o tecido. Desenrolou a carta estranhando o fato que Geanini raramente lhe enviava correspondências e nela observou que esta não era uma exceção. No papel estava carimbado o selo de Rei Jean, do Norte, que dizia estar saindo para visitar seu reino para discutir sobre o homem que caíra dos céus. Respirou aliviado por não ser nada preocupante mas também estava cansado deste assunto.

  Foi difícil arrancar qualquer informação do prisioneiro e nem mesmo seu nome aparecia nas conversas que se resumiam em resmungos e alguns raros "sim" e "não". Lisboa não permitia que o torturassem e sempre tentava ser o mais gentil possível

  Vestiu sua armadura e emplacou seu elmo completamente fechado, saindo para executar suas atividades diárias no reino. Alguns dias depois, caminhando pelas muralhas da citadela, vislumbrou ao horizonte uma companhia de carroças luxuosas e cavaleiros montados, carregando estandartes e flâmulas com um urso branco estampado no tecido azul. A comitiva do Rei do Norte era maior que a prevista. Desde já todos os servos se movimentaram para recebe-los e naquela noite um glorioso banquete foi servido entre as paredes negras dos Angeli.

  Numa majestosa capa azul adornada com pelugens claras sobre seu ombro, Jean era bem recebido ao lado do anfitrião desta noite. Sua idade avançada o encolheu, porém ainda mantinha uma respeitável postura sentado a mesa.

  Após a festança, reis e líderes se reuniram ao redor de uma mesa noutro aposento. Não demorou muito para que o assunto do prisioneiro viesse a tona, logo, Geanini sinalizou a Lisboa que, após alguns minutos, trouxe o homem acorrentado. Apesar dos grilhões nas mãos e pés, ele estavam bem vestido e apresentado, com roupas luxuosas e cabelo escovado e limpo, reluzente a luz das velas. Sua feição, porém, ainda era inexpressiva e derrotada. Jean Legrand parecia particularmente interessado na história que Lisboa tinha para contar sobre ele. Sob o silêncio do alvo, discutiram-se fatos, teorias possibilidades futuras. O mais importante assunto foi o destino deste homem sem nome.

  — Executá-lo seria tão cruel quanto larga-lo as ruas, como um cão. Argumento Geanini- Além do mais, ainda tenho medo da magia que este invocou na mata. Nestes dias eu mesmo visitei o local, e nada neste mundo traria tamanha destruição.

  — E prefere mantê-lo dentro de seu castelo, meu senhor? — Era a voz de Lisboa através do metal de seu elmo.

  — Não, não do meu. E sim de Jean. - Respondeu. O Capitão demorou para compreender mas a visita do Rei Vizinho agora tinha uma explicação.

  — Todo reino do norte é selado contra feitiços e é o mais velho dos reinos de Rivenrealm.

  — A intenção é torna-lo um aliado funcional, capitão. — Legrand completava— é um homem forte e saudável e se tiver mesmo tamanho poder, seria uma ótima noticia se controlasse-o perfeitamente.

  — Mas ele mal sabe seu próprio nome, acha que vai lembrar de como se defender ou atacar? — O cavaleiro queria aceitar a ideia, mas parecia impossível.

  — É por isso que você irá acompanha-lo. É o melhor espadachim que conheço e irá ensina-lo o que deve saber até recuperar a memória. — As palavras de Geanini, mesmo os elogios, eram sempre geladas e dolorosas. — A guarda ficará nas mãos de Amon em sua ausência.— Lisboa preferiu ficar calado e confiar na tarefa que seu rei lhe dera. Jean Continuou.

  — Enquanto seu nome, nada melhor que um nome novo para um homem novo. O prisioneiro que escutara tudo silenciosamente levantou o olhar ao Rei do Norte.

  — Seus olhos não me são estranhos, rapaz. Já os vi uma vez, no rosto de um grande guerreiro. Jean levantou-se, retirou sua capa e posou-a nos ombros do homem que não esperava este ato — É sua, pois o norte é frio. Leve também o nome de Hikaru e me mostre que é merecedor dele.

Aquele com O Vento: Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora