Os fracos raios solares atravessavam a cortina e carinhosamente agraciavam os olhos de Lisboa, ainda fechados, por entre a viseira do elmo. Gentilmente despertou, sentindo-se bem descansado, porém, não tardou a estranhar sua situação. Encontrava-se trajado completamente em sua armadura, suja de poeira e terra, o quarto não era seu e reconheceu-o por ser um dos quartos inferiores no palácio dos Angeli, onde já estive há muito tempo, antes mesmo de servir a Geanini. Percebeu também sua espada ao chão, sem a bainha que ainda estava presa ao cinto e a porta estava aberta. Levantou-se sem se lembrar de nada da noite passada, apenas fragmentos de um pesadelo soturno. Lembrou-se de pegar sua espada e deixou o quarto vagarosamente.
O corredor estava iluminado por archotes presos às pedras negras presentes em todo o castelo, não sendo nem um pouco longo comparado a visão do cavaleiro, levemente embriagado pela sua comunal falta de ânimo que se apresentava amplificada graças as dores musculares, provavelmente ligadas aos acontecimentos ocultados por sua própria memória. De mau humor, não encontrou ninguém para descontar seu desgosto. Ninguém em nenhum quarto, corredor ou salão menor. Preocupou-se, por mais abandonada que fosse esta parte do palácio, sabia que alguns servos fugiam de certas tarefas por ali. Apertou seu passo escadas acima. A prova de que o castelo não havia sido abandonado deveria estar sentado ao trono, no enorme salão no alto da fortaleza negra.
Lisboa sentia fome, e o sol no topo do céu visto através das janelas da escadaria entregava o horário de almoço. Estômago e cérebro conspiravam para que seu caminho fosse desviado a cozinha mais próxima, e assim aconteceu. Diferentes odores se aproximavam conforme caminhava em direção a cozinha do próprio rei, e além de fortalecer a fome, traziam também um certo alívio, afinal, se há comida, há quem a faça. Havia comida nas panelas e tudo ainda estava quente e com um bom cheiro, porém, Lisboa ainda se sentia solitário. Nem cozinheiros, assistentes ou serventes estavam por ali. Apressadamente satisfez sua forme por debaixo da máscara, ainda cobrindo seu rosto. Comeu sem pestanejar uma torta de enguia com ervilhas recém-assada e mesmo assim seu estômago revirava, mas sabia que era ansiedade.
A cozinha real não ficava longe da sala do trono e logo no caminho o capitão finalmente pôde suspirar aliviado. Não só uma, como várias pessoas amontoadas num corredor apertado que levava ao salão principal. Percebeu que, durante seu sono, seu rei convocou todo o palácio, e isso causava-lhe outra preocupação. Tentou abrir caminho cautelosamente naquele corredor infinitamente sufocante, onde foi reconhecido por soldados e outros servos que, quando questionados, responderam que nada sabiam sobre o motivo exato desta comoção. No fim da passagem, apertou-se e conseguiu um lugar na varanda alta do salão, de onde podia observar tudo.
Vislumbrou, do alto, seu senhor no trono, dando ouvidos aos guardas dos quais ele mesmo comandava e no pé do grande cadeirão, encontrava-se um homem caído aos joelhos, ensanguentado e acorrentado cruelmente. Encarar este homem lhe provocou náuseas e mal-estar, e decidiu se apoiar no para-peito.
Numa breve reflexão, encaixou algumas peças na sua mente. Aquele sonho noturno talvez tenha sido real.
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Aquele com O Vento: Livro 1
FantasyA queda de um misterioso homem do céu intriga os moradores dos grandes reinos. Este homem, sem memória de acontecimentos anteriores, busca respostas em uma épica jornada, contando com aliados, enfrentando inimigos, temendo criaturas e amando da form...