Os braços do meu irmão estão sobre meu ombro e o de Sheila, é um dia de sol. E estamos alegres. Três amigos unidos, apesar da despedida. O dia parece alegrar a partida dela de volta para o Rio de Janeiro, onde mora. Os dois se beijam. Sim, minha amiga e meu irmão são namorados e não sei como vão conseguir manter essa relação à distância agora que ela voltará para sua cidade e ele ficará aqui em Porto Alegre. Mas, isso não cabe a mim julgar, a vida é deles e ambos estão felizes e para mim é somente isso que importa. Olho para os dois e vejo como são felizes juntos. Apesar da distância, eles conseguirão o que eu talvez nunca teria forças para ter. Uma relação sólida.
– O que essa cabecinha está pensando, posso saber? – Pergunta ele, enquanto abre um sorriso e me olha. Vovó costuma dizer que ele têm o sorriso de nossa mãe. Essa é a única lembrança que consigo ter dela.
– Nada demais – respondo – apenas pensando na vida. E em quão injusta ela se torna em certos momentos.
Os dois me encaram sem entender nada e nós três caimos na gargalhada. É um dia para despedidas e comemoração, não para eu ficar enchendo os dois com meus pensamentos pessimistas.
– Você deveria vir me visitar no Rio um dia, Kate. – Sheila fala mudando completamente o rumo da conversa. – Você iria adorar a cidade e tenho certeza que lá é um lugar onde você pode investir mais em sua carreira literária.
– Talvez. – Digo mais para mim mesma do que para minha amiga.
– Chegamos. – Guilherme diz, soltando delicadamente o braço do meu ombro enquanto inspira fundo e aperta mais a namorada.
A rodoviária de Porto Alegre não está tão cheia assim. O que me faz pensar porque Sheila não preferiu o aeroporto, mas segundo ela, avião lhe dá náuseas. Eu adoraria poder estar dentro de um agora. Sentir a sensação de estar próximo as nuvens, longe do chão. Respiro fundo e olho meu relógio.
– Ainda faltam uns 20 minutos para o ônibus sair para o Rio. Acho que vou na praça de alimentação comprar alguma coisa. – Digo, dando-lhes um pouco mais de espaço.
Caminho lentamente enquanto os dois seguem rumo ao guichê de embarque e desembarque. Paro um segundo para observar as pessoas ali. Algumas chegando, outras partindo. Imagino que isso daria uma bela poesia, chegadas e partidas. Rio comigo mesma pelo meu pensamento. Vejo uma lanchonete alguns metros de mim e decido comprar uma água e um biscoito. As crianças talvez gostem. Penso ao pagar a moça gentil que me atende. Ao virar, acabo esbarrando em um homem alto.
– Desculpa. – Digo, abaixando para pegar a sacola que caiu de minhas mãos com o esbarrão. Ele é moreno, tem olhos castanhos cemicerrados e uma covinha no canto dos lábios. O cabelo é um pouco longo e cacheado. Percebo isso em uma fração de segundos ao mesmo tempo em que ele também se abaixa para pegar minhas coisas. – Obrigada.
– Desculpe. Eu que não deveria andar por aí vidrado no celular e, tentar olhar por onde ando. – diz ao colocar o celular no bolso. E abrir um sorriso. Pode ser estranho, mas meu coração tem uma leve palpitação enquanto fico ali parada encarando-o. – Tudo bem, não foi nada. – Respondo já com a sacola nas mãos. Tento ir para a direita, mas ele faz o mesmo, então minha perna me guia para a esquerda e ele também faz o mesmo. Então abrimos um sorriso. Ele se afasta e ergue a mão para que eu passe. Agradeço enquanto abaixo a cabeça e sigo para onde estão meu irmão e Sheila.
– Tenha um ótimo dia. – Ele grita, erguendo a mão no ar ainda parado enquanto eu me viro para o encarar e acenar educadamente com a cabeça. A sensação estranha continua ali. Não se apaixone, sua boba. Digo para mim mesma.
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Escreva Sobre Mim
RomanceA vida é passageira. No instante em que você está aqui, você vive, você sonha e você ama. Aos 32 anos, Cris não têm muito tempo de vida. Acometido por uma doença rara, decide escrever sobre sua vida e suas esperanças, para que estas permaneçam vi...