• Capítulo 15 •

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O silêncio naquele vazio parecia uma sentença de morte de tão desconfortante. Nenhum tipo de ruído podia ser ouvido, a não ser que viesse de si mesmo, o que já estava começando a dar nos nervos do guardião dos sentimentos negativos.

Cross já havia ido há algum tempo, ainda sem sinal de que iria voltar. Ele havia feito a coisa certa quando pediu para o de vestes brancas se retirar? Parecia tudo tão estranho sem ele por perto. Ou talvez fosse apenas a falta de pessoas ao seu redor. Afinal, sempre esteve acostumado com tantas pessoas indo e vindo ao redor de si, ou melhor, ao redor de seu irmão, que, agora, com essa repentina falta de pessoas, e de qualquer barulho em geral, parecia muito estranho e até... Errado.

Continuou a encarar o desenho que o maior havia feito, o qual não havia movido sequer um centímetro desde que Nightmare o jogou no chão, deixando leves amassados de sua mão estampados no papel. Seu olhar parecia completamente travado naquela folha de papel, como se estivesse hipnotizado de alguma forma. Parecia que suas linhas e as milhões de formas que se combinavam no desenho atraiam seus olhos, o impedindo de pensar em qualquer coisa se não apenas naquilo.

Se sentia estranho. Não sabia o porquê, mas se sentia estranho. Não era um estranho bom, mas também não de todo modo ruim, era... Sincero. Como se estivesse apenas abrindo o jogo consigo mesmo. Aquele sorriso... Por que o provocava tanto? Será que era algo relacionado ao seu passado que ele queria esquecer ou evitar? Talvez fosse todas as vezes que teve que forçar um sorriso quando aquelas pessoas esnobes e escrotas vinham lhe cumprimentar pensando que fosse o guardião dos sentimentos positivos, ou talvez fossem todas as boas memórias que sempre acompanhavam aquele sorriso em sua forma verdadeira. As brincadeiras que fazia com seu irmão, as provocações, as travessuras, os bons momentos e a grande proximidade que os dois tinham.

Aquilo fazia falta... Mas Nightmare sabia que deveria tirar tudo aquilo de seu sistema antes que se arrependesse depois, uma vez que seus sentimentos quanto à seu irmão poderiam levar a sérios problemas para o guardião dos sentimentos negativos. Ele não queria ter que ficar lembrando de tudo de bom que sua vida tinha, mesmo que fosse pouco e, ao mesmo tempo, extremamente marcante. Ele sabia que aquilo tudo seria apenas um peso para carregar e que só o atrapalharia, não importando a situação. O guardião dos sentimentos negativos sabia que queria, e muito, ir atrás de seu irmão, queria poder abraçá-lo novamente e dizer que estava bem. Odiava pensar que Dream poderia estar vagando por qualquer lugar do multiverso, procurando por ele, até mesmo correndo perigo por isso. Pensar naquilo o deixava muito preocupado e com a cabeça mais concentrada ainda naquelas memórias, que eram, exatamente, o que ele queria poder superar.

Fechou os olhos com força, jogando-se de costas no piso branco com toda a força que conseguiu. Suas mãos pressionaram contra seus olhos com a maior força, como se Nightmare quisesse repreender o próprio cérebro e impedi-lo de fazê-lo passar por tudo aquilo de novo. Toda aquela dor de rever suas memórias felizes, com todos de que gostava, tudo aquilo seria um grande estorvo para ele, apenas algo a mais com que ele teria que se preocupar, e não era isso que ele queria.

De repente, sua visão começou a ficar turva, causando grande desconforto no guardião dos sentimentos negativos. Ele sabia exatamente o que aquela sensação que percorreu seu corpo significava e ele não gostava nem um pouco. Suas mãos pressionaram sua cabeça com mais força ainda, tentando ao máximo evitar o que viria a seguir.

... Foi em vão.

~X~

- Error... O que o Ink fez pra você odiar tanto ele?

Error parou completamente os movimentos de seus dedos. Seu rosto não possuía uma expressão certa, era como se ele estivesse congelado no tempo. Seus glitches de repente começaram a se intensificar, algumas mensagens de "ERROR" já começando a cobrir seus olhos. Algumas memórias vieram à sua mente, a maioria um tanto borrada, assim como sua vista, mas nada que ele não pudesse identificar. Lembrou-se do tempo que passou sozinho com Ink naquela porcaria de pedra, ambos apenas esperando para que algo milagroso acontecesse e os tirasse de lá, o desespero e os ataques de pânico que os dois experienciaram durante longas e incansáveis horas, o momento em que finalmente haviam sido tirados de lá e até mesmo quando fizeram sua pequena trégua.

Lua SingelaOnde histórias criam vida. Descubra agora