Capítulo 2 - O guardião

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Stella

— Você faria o mesmo? — Pergunto a Phillip enquanto ele se mexe de um canto para o outro na pequena cozinha. A casa não é das melhores, no entanto, sendo fugitivos, não podemos pedir por muito.

— Seja específica minha estrela, sabe que estou ficando velho e que é bem mais inteligente que eu. — Torço o lábio como uma revolta. Ele não tem nem mesmo metade da idade que o faria ser considerado velho. — Não torça o lábio. Pode se tornar um mau hábito que não conseguirá largar depois.

— Morreria por mim, assim como Loretta fez ao se sacrificar pelo Rick? —Inquiro. É uma pergunta estupida, sei qual será a resposta, pois todos os guardiões as repetem tantas vezes que é impossível não as ter gravadas na mente.

— É meu dever. — Solto o talher de lado. Sinto uma onda de fúria crescendo e se moldando dentro de mim, pronta par escapar e causar um belo desastre. — Qual pai veria sua criança morrendo sem fazer nada para impedir?

— Mudar as palavras, ou o modo como me diz isso não alterará o fato de que sua escolha sempre o levará a morrer por mim. — Falo em reclamação. Eu impedirei esse destino. Não deixarei que sua morte seja causada por mim.

— Estrela, sabe que não é uma escolha que pode ser pensada antecipadamente. As vezes o coração decide o que vai fazer antes mesmo que a mente tenha tempo de racionalizar as alternativas. —Pego novamente meu talher quando Phillip se aproxima com uma tigela cheia de macarrão com almôndegas.

— Sim, então peço para que haja apenas de acordo com sua mente e deixe o coração de lado. — Se isto é o necessário para que ele possa ficar seguro, posso até mesmo ordená-lo a fazê-lo. Ainda que ache que essa seria uma das poucas vezes em que seria contrariada.

— Está me pedindo para abandonar meus sentimentos, contudo, não a vejo como alguém que poderia fazer o mesmo. — Evito o olhar dele. Pois nessas situações fico completamente exposta. Morar o mesmo lugar com a mesma pessoa por muito tempo faz com que haja aberturas em qualquer armadura, sei disso por ter passado um tempo com os gêmeos da água e do fogo. Phillip é quase um expert quando se trata de resolver ou descobrir os meus problemas.

— Vamos ser cautelosos. — Peço. Pelo menos isso eu posso pedir.

— Sempre sou cauteloso Estrela. No entanto, você sempre foi um pouco avoada. — Ergo a sobrancelha. Um pouco de culpa recai sobre mim, entretanto, não o deixaria saber sobre ele.

— Faço o melhor que posso. — Phillip apenas sorri.

***

— Estrela? O que houve? — Phillip tentou se aproximar, contudo algo parecido com um raio escapou de minhas mãos e o atingiu. Seria o suficiente para qualquer um cair e ficar no mesmo lugar para onde foi arremessado sem se mexer, contudo papai não é qualquer um. Ele ia tentar novamente, o que claramente não é o certo a se fazer no momento. E não sei se culpo seus instintos de guardião ou os instintos paternos que desenvolveu por mim.

Um ferimento arroxeado está visível em seu braço. Quero xingá-lo por estar se pondo em perigo, mas isso não iria pará-lo.

— Não pai. — Chamá-lo de pai sempre o faz tomar um susto. Tudo que preciso para pará-lo, dando assim uma oportunidade para que pense razoavelmente.

— Você sempre sabe o que fazer Estrela.

Grito. Todo meu corpo está queimando. A luz percorre todo meu corpo queimando cada célula, as transformando, posso sentir o modo como elas se viram do avesso antes de tomar uma nova forma. O fogo queimando por minhas veias não se extingue mesmo quando tento controlá-lo.

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